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Declaração conjunta do Brics apoia combate à corrupção e ao crime

Afirmação de que questões climáticas devem ser tratadas com respeito à soberania dos países, presente na declaração conjunta dos líderes do bloco, é comemorada pelo governo. Menção à necessidade de reformas é vista como reforço nas negociações com o Congresso

Ingrid Soares, Rodolfo Costa
postado em 15/11/2019 06:00

[FOTO1]A afirmação de que a questão climática deve ser tratada com respeito à soberania dos países, incluída na declaração final da 11; Cúpula do Brics, foi considerada pelo governo como uma das conquistas obtidas pelo país nas reuniões mantidas pelos chefes de Estado dos países-membros do bloco nos últimos dois dias. O tema é caro ao Brasil por causa das recentes queimadas na Amazônia. O Planalto anotou com satisfação também as referências à necessidade de reformas para impulsionar o desenvolvimento, e de combater a corrupção e o crime organizado internacional. De acordo com fontes próximas ao presidente Jair Bolsonaro, ele se sente respaldado por alguns dos principais parceiros comerciais e potências emergentes a insistir junto ao Congresso para avançar nas votações de matérias de interesse do Executivo.


Devido a divergências políticas, a declaração conjunta não mencionou as crises de Venezuela, Chile e Bolívia, embora conflitos em outras regiões do mundo, como na Palestina, tenham sido elencados entre as preocupações dos integrantes do bloco. Ao tratar das questões econômicas, o documento parte da premissa de que as reformas contribuem para o crescimento dos países. E destaca que as nações do Brics ; Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ; foram as principais impulsionadoras do crescimento global na última década, e representam, hoje, um terço da produção global. ;Estamos convencidos de que a contínua implementação de reformas estruturais aumentará nosso potencial de crescimento. A expansão do comércio entre os membros do Brics contribuirá ainda mais para fortalecer os fluxos de comércio internacional;, diz o comunicado final do encontro.

Em discurso na reunião plenária, Bolsonaro comentou o esforço para reforçar a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o banco do Brics, de modo a atender as demandas do setor privado. A instituição tem uma carteira de projetos de US$ 10 bilhões, mas o potencial para aumentar essa cifra é grande. À noite, ao chegar ao Palácio da Alvorada, ele voltou a celebrar. ;A presença (dos chefes de Estado) demonstra que o Brasil é um país sério e que tem muito a oferecer a eles, e eles a nós.;

Crime organizado

O Brics também deixou encaminhada a convergência pelo multilateralismo na discussão dos problemas globais. O presidente da China, Xi Jinping, comemorou. ;O aumento do protecionismo e unilateralismo cria deficit de desenvolvimento de governança, de conhecimento, e crescentes incertezas, que são fatores de desestabilização na economia mundial;, avaliou. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu a exportação de produtos de maior valor agregado, pelos países emergentes, como forma de erradicar a miséria e o desemprego.

O combate ao terrorismo e ao crime organizado foi outra pauta defendida pelo bloco. Na avaliação do Planalto, o discurso favorece o governo, que tenta emplacar, no Congresso, o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A agenda foi comentada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. ;Invariavelmente temos apoiado iniciativas e uma visão compartilhada em série de questões, como promoção da paz, combate a ameaças terroristas e crime organizado;, afirmou. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, endossou o discurso. ;Nós já estamos um pouco mais distantes de um risco tão próximo de uma guerra mundial, no entanto, o terrorismo continua sendo uma grave ameaça a todos os nossos países. Nos últimos anos, 225 mil vidas foram perdidas para o terrorismo.;

Cooperação com a Rússia

No último dia da Cúpula do Brics, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou, nesta quinta-feira (14/11), no Palácio do Planalto, com o líder russo, Vladimir Putin, e o da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Putin chegou ao Planalto às 15h45 e a conversa durou menos de uma hora. De acordo com o governo, ;as duas partes discutiram a remoção de entraves ao comércio de produtos do setor agropecuário e a diversificação da pauta comercial. Manifestaram disposição de estudar iniciativas para a promoção de investimentos recíprocos. O lado russo demonstrou interesse em novos aportes no setor de energia; e ambos os países desejam cooperar na área de ciência e tecnologia.

No encontro entre Bolsonaro e Ramaphosa, o lado sul-africano ressaltou, na reunião, de acordo com o governo brasileiro, o desejo em aprofundar a parceria em biocombustíveis. A cooperação agrícola também é tema comum. No setor de defesa, os dois países revelaram interesse na capacidade de desenvolver projetos conjuntos de alta tecnologia.

No dia anterior, Bolsonaro já tinha mantido encontros bilaterais com o presidente chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Com o líder chinês, foram assinados diversos acordos prevendo cooperação em diversas áreas e o aumento do intercâmbio comercial.

Todos os países-membros do Brics demonstraram compromisso em reduzir a emissão de gases poluentes e seguir metas previstas no Acordo de Paris. Além disso, as cinco nações revelaram preocupações com a corrida armamentista no espaço exterior.

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