Agência Estado
postado em 21/11/2019 18:03
O PT considera ter a ex-prefeita Marta Suplicy, atualmente sem partido, na chapa que vai disputar a Prefeitura de São Paulo no ano que vem. O nome dela foi citado como opção à Prefeitura em uma explanação feita pelo cientista social Alberto Carlos de Almeida sobre os cenários para as eleições de 2020 ao diretório nacional do PT, nesta quinta-feira, 21, em São Paulo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na reunião. Na véspera, Lula disse em entrevista ao site Nocaute, do escritor Fernando Morais, que Marta foi "a melhor prefeita de São Paulo" e poderia voltar ao PT. Procurada na quarta-feira, a ex-prefeita não quis comentar a declaração de Lula. Em setembro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Marta fez mea-culpa em uma tentativa de resgatar vínculo com a esquerda.
Na explanação à direção do PT, Almeida citou Marta e o ex-prefeito Fernando Haddad como opções para 2020. Haddad já disse várias vezes que não quer ser candidato. A última delas foi em uma reunião com Lula e o presidente estadual do PT de São Paulo, Luiz Marinho, na terça-feira, 19.
"Ela tem dito que pode ser candidata a prefeita, a vice ou nem ser candidata, mas quer trabalhar por uma frente para enfrentar a extrema direita", disse o ex-deputado Jilmar Tatto, um dos interlocutores do partido com a ex-prefeita.
Marta deixou o PT em 2015 para se filiar ao MDB fazendo duras críticas ao partido por envolvimento em casos de corrupção. No ano seguinte ela votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (que também participou da reunião) e passou a ser chamada de "golpista" pelos petistas.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, uma das principais críticas de Marta durante o processo de impeachment de Dilma, admitiu a possibilidade de a ex-prefeita compor a chapa do partido nas eleições para a Prefeitura de São Paulo no ano que vem. "Poderia compor, com certeza", disse Gleisi.
A presidente do PT, no entanto, disse ver poucas chances de Marta voltar ao partido. "Não penso que ele vá voltar para o PT. Nem da parte dela nem da parte do PT dá muita liga", completou Gleisi.
Outros dirigentes do partido, no entanto, têm visões distintas. Questionado se perdoaria a ex-prefeita pelos ataques feitos ao partido, Márcio Macedo, um dos vice-presidentes da legenda, respondeu: "sou cristão".
Dirigentes do PT em São Paulo avaliam que a volta de Marta é um movimento difícil, mas creem que os sinais dados por Lula mostram que a hipótese não está descartada. O PT procura um candidato competitivo para disputar a principal cidade do Brasil. Com Haddad fora da disputa, os nomes mais cotados são os de Tatto e do deputado Alexandre Padilha.
PT cogitou não lançar candidato em São Paulo
O PT chegou a cogitar a possibilidade de pela primeira vez não lançar candidato a prefeito na maior cidade do Brasil, mas mudou de posição a partir da nova orientação de Lula. Nesta quinta-feira, diante da direção do PT, o ex-presidente reiterou que a ordem é lançar candidatos no maior número de cidades grandes e médias possível.
Mais do que ganhar a eleição, Lula quer que o PT utilize o espaço do partido no horário eleitoral de rádio e TV para fazer a defesa do PT, do legado de seus governos e do nome de seus principais dirigentes. Ele tem dito a petistas que o partido não pode desperdiçar a chance, principalmente depois que o horário partidário na TV foi extinto. "Se o PT não se defender, ninguém vai defender o PT", disse Lula.
As estratégias colocam em risco alianças em torno de nomes de outros partidos que até pouco tempo atrás eram dadas como certas a exemplo de Manuela D'Avila (PCdoB), em Porto Alegre, e Marcelo Freixo (PSOL), no Rio.
Na reunião do diretório nacional do PT, Lula citou várias vezes o nome da deputada Benedita da Silva como possível candidata do PT à prefeitura do Rio. Além disso, o ex-presidente lembrou que o PT já governou o Rio Grande do Sul duas vezes, com Olívio Dutra e Tarso Genro, e comandou a prefeitura de Porto Alegre.
Mesmo assim, Lula orientou Gleisi a falar com os presidentes de outros partidos de esquerda e centro-esquerda sobre alianças em 2020.
Durante a reunião, Lula defendeu que os partidos revejam o currículo de seus cursos de formação para incluir as revoltas populares brasileiras na grade de estudos de seus novos quadros.
O ex-presidente, que passou um ano e meio cumprindo pena em regime fechado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, foi às lágrimas ao lembrar do tempo que passou na prisão. "Quando você está preso e precisa controlar o ódio, para mim, tudo se resumia em dizer que o povo estava numa situação pior do que a minha", disse.