Com a suspensão, os parlamentares perderão funções na Câmara, como lugares em comissões. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, terá de deixar a liderança do partido na Casa, mas seguirá como presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional até o fim do ano, porque chegou ao cargo por meio de eleição e, portanto, fica imune a mudanças orquestradas pelo partido. O filho de Bolsonaro, no entanto, terá de sair da CPI Mista das Fake News, na qual ocupava uma vaga.
Os parlamentares foram punidos devido à briga por poder dentro da legenda, com a tentativa de retirar Luciano Bivar do comando da sigla. Eles já manifestaram o desejo de integrar o partido Aliança pelo Brasil, que Jair Bolsonaro pretende criar.
;O movimento claro, insofismável, visível, é que querem formar outro partido, mas não podem querer explodir o PSL e deixar o partido às traças. São pessoas, políticos responsáveis, patriotas, liberais e que querem continuar sua vida pública, política e partidária;, afirmou Luciano Bivar.
Questionado sobre a saída dos parlamentares para a futura legenda de Bolsonaro, Bivar disse que ;o mandato é uma coisa da legislação e uma discussão da Executiva nacional;. ;O partido é impessoal. Nada é decidido sem uma reunião, sem a Executiva e sem a elite pensante, que são os deputados.;
O ;autoritarismo; de Bivar é apenas uma das acusações do grupo de parlamentares bolsonaristas do PSL. A principal reclamação, segundo eles, é a falta de transparência da legenda. Segundo Filipe Barros (PR), a decisão do diretório nacional não surpreende. ;Já esperávamos, uma vez que a reunião que aconteceu hoje (nesta terça-feira ; 3/12) foi um circo armado pelo autoritário presidente Luciano Bivar, onde ele comanda todos os membros da Executiva;, disparou.
Barros afirmou que a batalha chegará ao STF. ;Existe divergência jurídica quanto à extensão dessa suspensão. Alguns entendem que isso afetaria as questões internas do partido, outros, nossa vida parlamentar. Isso será judicializado, se for necessário. E ainda existe a possibilidade de entrarmos com um recurso administrativo, que está pendente;, destacou. ;Minha relação com o PSL é muito boa. Eu já disse nas minhas mídias que eu sou um soldado do presidente, mas existe uma questão jurídica que envolve isso. Não podemos deixar a legenda neste momento. Todos os deputados estão aguardando uma orientação jurídica.;
Recurso bilionário
O PSL deixou de ser nanico após eleger 52 deputados no ano passado ; na prática, deve receber algo próximo de R$ 1 bilhão em recursos públicos até 2022. A intenção do grupo ligado a Bolsonaro era afastar Bivar para poder dar as cartas na distribuição do dinheiro. A manobra, no entanto, não foi bem-sucedida.Os castigados
Veja as punições por deputado:Suspensão
Bibo Nunes (RS): 12 meses
Alê Silva (MG): 12 meses
Daniel Silveira (RJ): 12 meses
Eduardo Bolsonaro (SP): 12 meses
Sanderson (RS): 10 meses
Carlos Jordy (RJ): 7 meses
Vitor Hugo (GO): 7 meses
Bia Kicis (DF): 6 meses
Carla Zambelli (SP): 6 meses
Filipe Barros (PR): 6 meses
Márcio Labre (RJ): 6 meses
General Girão (RN): 3 meses
Junio Amaral (MG): 3 meses
Luiz Philippe de Órleans e Bragança (SP): 3 meses
Advertência
Aline Sleutjes (PR)
Chris Tonietto (SC)
Hélio Lopes (RJ)
Coronel Armando (SC)
Entenda o caso
Crise dos laranjas
A crise no PSL começou após publicações de reportagens denunciando as suspeitas de candidaturas laranjas do partido nas eleições de 2018. O presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, são alguns dos investigados. As desconfianças incomodaram o presidente Jair Bolsonaro. O estopim foi uma declaração dele a um apoiador pré-candidato às eleições no Recife, ao dizer que Bivar estava ;queimado pra caramba;. Depois disso, vazou um áudio do deputado Delegado Waldir (GO) chamando o presidente da República de ;vagabundo;, em processo que culminou na votação que deu a liderança do partido na Câmara a Eduardo Bolsonaro.
Assinaturas eletrônicas
Por 4 x 3, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu, nesta terça-feira (3/12), que é possível a coleta de assinaturas digitais para a criação de partidos, desde que o tema seja previamente regulamentado pelo próprio TSE e que a Corte desenvolva uma ferramenta tecnológica para verificar a autenticidade das assinaturas. Não há previsão de quando isso vai ocorrer.O julgamento afeta diretamente as pretensões do presidente Jair Bolsonaro de tirar do papel a sua nova sigla, o Aliança pelo Brasil. Ele já disse que poderia tirar o partido do papel em um mês, se o TSE desse sinal verde para a coleta eletrônica de assinaturas.
Na prática, o TSE optou por uma solução intermediária: os ministros consideraram válida a assinatura digital, mas entenderam que para ela ser aceita é preciso que o próprio tribunal faça uma regulamentação do tema ; e elabore um dispositivo que permita a checagem dos dados.
Na sessão desta terça-feira (3/12), os ministros analisaram uma consulta apresentada pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), em dezembro do ano passado, antes, portanto, de Bolsonaro anunciar a saída do PSL e informar a criação do Aliança pelo Brasil. ;Seria aceita a assinatura eletrônica legalmente válida dos eleitores que apoiem dessa forma a criação de partidos políticos nas listas e/ou fichas expedidas pela Justiça Eleitoral?;, indagou o parlamentar.
Em parecer enviado no mês passado ao TSE, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, se manifestou contra a coleta de assinaturas digitais para a criação de partidos. Na avaliação dele, o atual modelo (reconhecimento da firma por um tabelionato de notas) é ainda melhor que a proposta tecnológica da assinatura eletrônica.