Politica

No Mercosul, Bolsonaro pavimenta a nova TEC

postado em 05/12/2019 04:13
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O presidente Jair Bolsonaro desembarca, hoje, em Bento Gonçalves (RS), para o 55; encontro do Mercosul com um olho na política externa na América do Sul e outro nas relações com os Estados Unidos, que mantêm a ameaça de sobretaxar o aço e o alumínio brasileiro. A reunião com os presidentes integrantes do bloco comercial, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, será uma oportunidade para o governo reforçar a visão de abertura da economia e angariar apoio da maioria para a construção de um consenso para a revisão da Tarifa Externa Comum (TEC).

A reunião entre os chefes de Estado será apenas simbólica. Isso porque o presidente da Argentina, Maurício Macri, dará lugar, em 10 de dezembro, ao presidente eleito, o peronista Alberto Fernández, que promete endurecer os diálogos nas negociações em torno da TEC e demais reformas tratadas pelo Mercosul, como a expansão de acordos bilaterais com países não parceiros do bloco. O Uruguai, que, a partir de março de 2020, será governado pelo social-democrata Luis Lacalle Pou, primeiro presidente de direita em 15 anos, será representado pela vice-presidente Lúcia Topolansky.

Sem que Pou e Fernández assumam a Presidência, nada de concreto deve ser deliberado no encontro que se inicia hoje e termina amanhã. De qualquer forma, analistas esperam do governo brasileiro um posicionamento firme em defesa da relação externa que o Brasil pretende adotar. Por mais que reformas no bloco dependam de decisões consensuais, e não apenas de maioria, a expectativa é de que Bolsonaro lidere, desde agora, um movimento de construção reformista para 2020.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, admitiu, ontem, que o calendário eleitoral na América do Sul atrasa a possibilidade de implementação de mudanças na TEC no 55; encontro. ;Avançamos bastante, mas não concluímos. O calendário político influiu nisso, mas temos boa massa crítica de resultados. Se tudo der certo, vamos entregar na próxima presidência (do Mercosul) do Paraguai;, declarou. Com Pou e o presidente paraguaio, o conservador Mario Abdo Benítez, o Palácio do Planalto e o Itamaraty terão, em tese, a maioria a seu favor para buscar o convencimento da revisão.

O processo, contudo, não será fácil. Por mais que Fernández tenha desconvidado para sua cerimônia de posse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de dar sinais claros do desejo de uma relação pragmática com o Brasil, inclusive no campo comercial ; manifestação igualmente partilhada por Bolsonaro ;, o governo argentino não cederá fácil à abertura da economia, alerta o especialista em relações exteriores Ricardo Mendes, sócio diretor da Prospectiva.

Embora não chegue a sinalizar uma política econômica de fechamento de mercado, a Argentina está com uma grande capacidade ociosa no parque industrial e, por isso, apostará em um modelo econômico semelhante ao adotado pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

;Já o Brasil seguirá com um mercado mais aberto. O Brasil vai querer propor reduções de tarifas, mas a Argentina não vai topar. Fernández acena para um viés de relações em patamar estratégico e pragmático com o que tem;, destacou Mendes.

Estremecimento

Paralelamente às negociações com o Mercosul, Bolsonaro mantém as atenções redobradas aos Estados Unidos. Em jogo, está a reputação do relacionamento que Bolsonaro orgulhosamente diz ter com o presidente norte-americano, Donald Trump. Ontem, ele sinalizou que ainda há espaço para negociação e negou que o Brasil desvalorize artificialmente o real. ;Não tem decepção, porque não bateu o martelo ainda. Não é porque um amigo meu falou grosso, numa situação qualquer, que eu já vou dar as costas para ele;, sustentou.

O cientista político Lucas Fernandes, consultor de análise política da BMJ Consultores, concorda que haja espaço para o aprimoramento das relações comerciais, como o cumprimento do aceno feito pelo Brasil, em março deste ano, de isenção de impostos para a importação de 750 mil toneladas de trigo dos EUA. De todo modo, embora o estremecimento na relação não sugira um rompimento, representa uma derrota pontual.

;Não foi um fracasso total, pois o Brasil ainda tem apoio à inserção na OCDE. Mas o Trump mostrou ao Bolsonaro que ele não tem um canal de comunicação tão direto assim. Será uma relação na qual o Brasil vai se doar muito mais, sem garantia de reciprocidade;, salientou.

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