Politica

CPMI mira no 'gabinete do ódio' em investigação sobre disseminação de fake news

CPI irá solicitar acesso aos IPs e dados dos computadores usados por servidores do "grupo"

Agência Estado
postado em 06/12/2019 20:33
[FOTO1]O terceiro andar do Palácio do Planalto entrou na mira das investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News. Nas próximas semanas, a comissão deve solicitar acesso aos IPs (uma espécie de identidade do aparelho) e dados dos computadores usados por servidores que integram o chamado "gabinete do ódio", que atuam no mesmo andar no qual o presidente da República, Jair Bolsonaro, despacha diariamente.

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo em setembro, "gabinete do ódio" é como internamente integrantes do governo passaram a se referir ao grupo formado por três servidores ligados ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho "02" do presidente. Os assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz produzem relatórios diários, com suas interpretações, sobre fatos do Brasil e do mundo e são responsáveis pelas redes sociais da Presidência da República.

A decisão de pedir acesso aos IPs e dados dos computadores desses servidores foi tomada depois que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, prestou depoimento na CPI, na Quarta-feira passada (4/12) acusando os assessores do presidente de disseminar notícias falsas durante o horário de serviço.

[SAIBAMAIS]"Vamos pedir a quebra dos IPs para localizar as máquinas. Se por um acaso tiver requerimento, e tiver provas concretas que existe computador dentro do Palácio do Planalto que faz a divulgação, claro que pode ser quebrado. Não podemos quebrar se não tiver prova. Tendo provas, nós vamos correr atrás", afirmou, ao Estado, o presidente da CPI, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

Ainda segundo Coronel, a CPI vai apurar se há dinheiro público bancando a disseminação de notícias falsas a partir do Palácio do Planalto. "Obviamente, nós vamos correr atrás para ver se é dinheiro público que está sendo investido nessa prática. Se for, nós vamos indiciar os culpados e encaminhar para o Ministério Público Federal. E que aí se puna os verdadeiros culpados", disse.

Segundo Joice Hasselmann, o chamado "gabinete do ódio" é integrado ainda pelo assessor especial da Presidência da República Filipe Martins, que é próximo ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho "03" do presidente. O grupo, na versão da ex-aliada do Planalto, é um dos mais ativos propagadores de notícias falsas e difamações. "Estou mostrando o modus operandi, estou mostrando pessoas ganhando dinheiro público para atacar pessoas", disse a parlamentar durante o depoimento, na quarta.

A partir do depoimento da ex-líder do governo, técnicos do Ministério Público Federal (MPF), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do próprio Congresso, que atuam em conjunto com a CPI, iniciarão uma fase de aprofundamento de coleta de provas e de investigação dos fatos relatados pela deputada. "A partir daí, que se substancie a relatora. Vamos tentar fazer de tudo para fazer o banimento no País das fake news e dos perfis falsos. Não podemos mais permitir que as pessoas criem um perfil falso para atacar seus alvos. Temos é que fortalecer a democracia", afirmou Coronel.

A sessão que ouviu a deputada Joice Hasselmann durou mais de dez horas e foi marcada por muito bate-boca e troca de acusações entre as alas em disputa no PSL, os "bivaristas", ligados ao presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), e os "bolsonaristas", próximos ao presidente. Todos os funcionários do "gabinete do ódio" foram convocados para prestar depoimento na CPI, mas ainda não há uma data para isso acontecer.

;Disparo custa 20 mil;

Um único disparo de mensagens por robôs custa, em média, conforme a parlamentar, R$ 20 mil. "De maneira, digamos, legal, comprovável imediatamente, (são destinados) praticamente R$ 500 mil, de dinheiro público, para perseguir desafetos. Essa é a função do ;gabinete do ódio;. Nós estamos falando de crime. Caluniar, difamar e injuriar são crimes previstos no Código Penal", disse a deputada, que também foi alvo de ataques de bolsonaristas.

Joice afirmou não saber quem financia tal cadeia de difamação, mas sugeriu à comissão que "siga o rastro do dinheiro porque estamos falando de milhões". Apesar de não apontar eventuais financiadores do esquema, a deputada declarou que boa parte das notícias falsas e campanhas difamatórias tem origem em gabinetes de políticos aliados do governo.

A ex-líder ainda acusou Eduardo e Carlos, filhos do presidente Bolsonaro, de pautarem a ação do "gabinete do ódio". Outro influenciador ligado ao grupo seria "o guru" Olavo de Carvalho. "Eu quero crer que o presidente não sabe disso", disse.

Ela afirmou que o próprio presidente tem publicações impulsionadas por robôs. "São quase 2 milhões de robôs seguindo dois perfis, sendo 1,4 milhão no perfil de Jair Bolsonaro e 468 mil no perfil de Eduardo Bolsonaro." O número tem por base um aplicativo que analisa se um perfil no Twitter é ou não falso.

Questionado sobre os trabalho da CPI na quarta-feira, enquanto visitava uma feira popular em Brasília, Bolsonaro afirmou não temer o resultado da comissão que investiga fake news. "Inventaram o ;gabinete do ódio; e alguns idiotas acreditaram. Outros idiotas vão até prestar depoimento", disse, em referência a Joice Hasselmann.

Procurado, o Palácio do Planalto não comentou a intenção de integrantes da CPI de pedir acesso a informações dos computadores de funcionários da Presidência da República.

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