Politica

Apesar da melhora econômica, queixas de eleitores preocupam Planalto

Apesar dos sinais de que a economia teria começado a melhorar, reclamações contra dificuldades do dia, como desemprego e custo de vida elevado, tornam-se mais constantes, inclusive, nas lives feitas pelo presidente. Para analistas, sensação de melhora não chega à população

Ingrid Soares, Rodolfo Costa
postado em 09/12/2019 06:00

[FOTO1]O presidente Jair Bolsonaro comemorou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, que apontou avanço de 0,6% no período, mas a sensação de bem-estar na economia ainda está longe das pessoas. Apesar de pesquisas indicarem que a popularidade do presidente parou de cair, o número de eleitores que reclama nas lives que ele faz semanalmente está em alta. Muitos cobram emprego, melhor qualidade de vida e moradia, redução dos preços da carne e condições para empreender. Até bem pouco tempo, isso não era comum, o que acendeu uma luz amarela no Palácio do Planalto.


Quando Bolsonaro foi à Feira dos Importados, protegido por um cordão de seguranças, na última quarta-feira, a live feita no momento mostrou, apesar de muitos elogios, algumas queixas relacionadas à economia. ;Meu presidente, larga esse povo de mão e dá um jeito de abaixar o preço da carne bovina, pelo amor de Deus;, reclamou Franceri Melo, morador de Manaus. ;Meus filhos (estão) desempregados, trabalho não acham, alimento com preço alto, não devia ter votado em você, pois só se importa com os ricos;, criticou Ricacilda Mattos, moradora de Planura (MG).

Houve até quem questionasse uma promessa do presidente na área tributária durante as eleições. ;Cadê a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos? Essa promessa de campanha não será cumprida?;, indagou Josimar de Paola, de Teresina. ;Senhor presidente, as microempresas estão sofrendo com esse mercado, não temos incentivo de nada, nem mesmo para contratar funcionários. Precisamos melhorar isso;, cobrou Dado Eduardo Edu, de Niterói (RJ).

Nas redes sociais ou nas ruas, as cobranças mostram que, apesar dos sinais de reação da economia, a maioria dos brasileiros ainda não sente melhora nas condições de vida, sobretudo os mais pobres. O governo reconhece que dinheiro no bolso é a solução para aumentar a sensação de bem-estar. Interlocutores na Presidência da República dizem que falta ao ministro da Economia, Paulo Guedes, fazer ;mais gols;. ;Mas é preciso entender que, aos poucos, estamos saindo de um ciclo vicioso de medidas populistas e entrando em um ciclo virtuoso. As reformas estão sendo feitas, os estímulos ao mercado imobiliário estão sendo conduzidos com responsabilidade, e é questão de tempo que isso gere empregos;, pondera um assessor do Planalto.

O deputado Luis Miranda (DEM-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista da Reforma Tributária, reconhece que a indústria está voltando a se aquecer, como mostra, por exemplo, o aumento da venda de veículos, mas avalia que isso decorre de um crescimento da demanda da classe mais rica. ;O mesmo vale para o mercado imobiliário. Não há um crescimento na demanda distribuído entre diferentes classes sociais. O crédito continua farto para o rico, não para o pobre. O tributo sobre o consumo pesa, proporcionalmente, mais para o pobre do que para o rico. A desigualdade está aumentando, não o contrário;, critica.

A mediana das expectativas do mercado aponta para uma inflação de 3,52% em 2019, abaixo do centro da meta, com a taxa básica de juros (Selic) a 4,50%, a menor da história. Contudo, em um país com 12,4 milhões de desocupados, os dados mais positivos acabam sendo comprometidos, sem que a sensação de bem-estar seja sentida pela população em geral, pondera Miranda. ;Muitos indicadores melhoraram, mas nenhum que atenda diretamente ao mais pobre. A equipe econômica ficou de enviar ao Congresso uma reforma tributária, e vamos encerrar o ano sem que tenha proposto a correção da tabela do Imposto de Renda, ou mecanismos de desoneração do consumo e da folha de pagamentos.;

Crédito

O deputado José Nelto (Podemos-GO), líder do partido na Câmara, acrescenta que toda a pauta econômica apresentada em tempo hábil pelo governo foi aprovada no Congresso. ;Então, não podem reclamar disso. Agora, não terem mandado as reformas tributária, administrativa, e uma reforma do sistema financeiro foi um equívoco muito grande. É de grão em grão que se faz uma gestão. Vão deixar para 2020 e terão dificuldades por conta do ano eleitoral;, sustenta.

Embora a Selic sugira juros baixos no mercado, as elevadas taxas cobradas do consumidor em algumas das principais modalidades comprometem o acesso dos mais humildes ao crédito. É um dos motivos pelo qual Nelto é o principal líder partidário na Câmara a cobrar de Guedes, em várias ocasiões, uma ampla abertura do sistema financeiro. ;Precisamos ter o modelo americano, com segurança jurídica, mudanças nas leis trabalhistas, a fim de garantir uma retração dos juros e dos impostos. E aí, sim, ter crédito e dinheiro para construção civil, o agronegócio, o comércio e os serviços. O Brasil precisa de crédito e dinheiro barato para a economia girar;, afirma.

O preço da carne, uma das principais fontes de proteína consumidas pelos brasileiros, é outro motivo de reclamação. O deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, reconhece o problema, mas acredita que, a médio prazo, os preços voltarão a se equilibrar. ;O presidente foi bem na China e na Arábia e conseguiu a habilitação de mais plantas frigoríficas para o abastecimento desses mercados. A demanda externa cresceu, e a tendência é aumentar o gado de confinamento. Quem tem 100 cabeças vai começar a colocar 300. A consequência disso será a normalização do preço, mas não será algo rápido;, analisa.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação