Politica

Expectativa frustrada

postado em 09/12/2019 04:33


A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, reconhece que o governo precisa avançar com uma agenda mais ambiciosa no cenário pós-Previdência, mas faz boas avaliações. Para ela, entre os pontos positivos da agenda econômica do governo está a continuidade do ajuste fiscal iniciado na administração Temer, a aprovação da reforma previdenciária e o programa de concessões conduzido pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. ;Passada a reforma na Câmara, foi dada sinalização de que haveria mais propostas. Não teve avanço de reforma tributária. O saneamento caminha no Congresso em ritmo lento, assim como a privatização da Eletrobras. Havia muita expectativa sobre esses temas. Ficou aquém;.

A especialista avalia que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é parte importante da equipe de governo. ;Bolsonaro é um político pragmático. Uma suposta saída do Guedes traria muito ruído e incertezas no mercado;, analisa. O cientista político Marcus Vinícius Pessanha aponta que a perspectiva de crescimento econômico é positiva, mas, para fins eleitorais, é necessário um retorno concreto à sociedade;. ;No cenário imediatista, o senso comum da população costuma ser negativista. O cidadão desempregado tem dificuldade de perceber e aceitar que a guinada econômica de agora só vai se transformar em benefício concreto daqui um ano ou dois. Esse inconformismo vai se refletir nos índices de aprovação, pois os apoiadores começam a se sentir desassistidos. É um discurso pró-livre mercado, não tem geração de emprego significativo nem resultados concretos agora;.

Pessanha alerta que grande parte do eleitorado não é composto de fileiras cerradas pró-Bolsonaro e de pessoas da direita. ;Muitas votaram pelo antipetismo. Se não tiver melhoria palpável, é natural que comecem a levantar a cabeça e questionar;, pondera. A estratégia de Bolsonaro no caso do aumento da carne, aponta, é explicar ao eleitorado a economia de mercado. ;Mas quem passa por dificuldades econômicas não quer saber. A classe média consegue segurar por um tempo, mas vai começar a questionar também. É necessário aguardar para ver se vai fustigar o índice de aceitação do Bolsonaro, mas o fato é que a população precisa de benefícios palpáveis. O cenário ainda é nebuloso;, ressalta.

Pontual

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, salienta que o plano de economia liberal de Bolsonaro demora a mostrar resultados e que, apesar do discurso otimista, na prática, o PIB projeta para 2019 o mesmo patamar do período Michel Temer, na faixa de 1% em 2017 e em 2018. ;Houve uma melhora pontual. Tentam efetivar política ortodoxa com a criação de incentivos paliativos, como a liberação do FGTS e a redução de juros de crédito imobiliário em bancos púbicos para dizer que estão tentando medidas pontuais. O desemprego caiu um pouco, mas o tipo de emprego gerado é de qualidade ruim, gera renda, mas insuficiente diante de demanda.;

Para Perfeito, Bolsonaro não tem muito o que fazer, a menos que ajuste a orientação da agenda econômica. ;A economia liberal é útil a longo prazo. Vai continuar com emprego e renda baixos. A reforma feita acabou impactando a renda das pessoas. O corte de gasto público pode gerar insatisfação política com o governo. Tem que ver o quanto ele consegue administrar a situação;, pondera. (IS e RC)

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