postado em 13/12/2019 04:13
[FOTO1]Com o controle do PSL na Câmara, a ala fiel à legenda engrossou a voz contra os parlamentares dissidentes. Se, na quarta-feira, o clima era de pacificação, ontem, a líder do partido na Casa, Joice Hasselmann (SP), partiu para a represália. Ela mudou a composição da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, até então integrada apenas por deputados do grupo de Eduardo Bolsonaro (SP). A presidência do partido, por sua vez, decidiu, também ontem, expulsar a deputada Bia Kicis (DF) da sigla. A parlamentar era a única entre os rebeldes que tinha a prerrogativa de não perder o mandato, caso deixasse a legenda.
As movimentações no PSL ocorreram um dia depois de a Justiça determinar a suspensão das punições ao grupo bolsonarista. Ao todo, a legenda tinha penalizado 14 deputados com suspensão e quatro, com advertência, devido à briga por poder dentro da sigla. Os dissidentes tentaram retirar Luciano Bivar do comando do partido. A maioria dos que sofreram represália já manifestou o desejo de integrar o Aliança pelo Brasil, legenda que o presidente Jair Bolsonaro tenta criar.
Na CPMI das Fake News, a tropa de choque de Bolsonaro tinha em suas fileiras Filipe Barros (PR), Carla Zambelli (SP), Caroline de Toni (SC) e Eduardo Bolsonaro. Desses, somente a catarinense não integra a lista de suspensos. Agora, sentam nas cadeiras da comissão o ex-líder do partido na Câmara Delegado Waldir (GO) e Nereu Crispim (RS). Como suplentes ficaram Julian Lemos (PB) e Professora Dayane Pimentel (BA). Os suspensos deverão deixar, também, as comissões permanentes, mas ainda não houve movimentação nesse sentido.
Delegado Waldir entregou a liderança do partido na Câmara para Eduardo Bolsonaro em 21 de outubro, após o filho do presidente conseguir emplacar uma lista de apoio com mais da metade dos nomes da sigla. Dias antes, o próprio chefe do Executivo federal se envolveu na disputa a favor do filho.
A alteração na CPMI foi tratada como natural por Delegado Waldir. Ele destacou que a ala fiel ao partido é favorável aos trabalhos da comissão, bem como à chamada CPI da Lava-Toga e a outras investigações. ;As mudanças nas comissões são extremamente normais. Nosso grupo, que é mais racional, apoia o combate à corrupção, é contra o uso de notícias falsas. Somos favoráveis à CPI da Lava-Toga, das Fake News, à investigação de laranjas e de Flávio Bolsonaro. Essa é a razão da mudança nessa comissão;, enumerou.
Ele também comentou a determinação judicial que suspende a punição ao grupo de dissidentes. ;Em relação às decisões judiciais, pensamos que é algo da democracia, mas a gente fica preocupado. Pode ter o risco de uma interferência de um poder no outro;, criticou.
A pedidos
A situação de Bia Kicis era a única diferente entre os bolsonaristas punidos pelo PSL. Ela foi eleita pelo PRP, que se fundiu, posteriormente, ao Patriota. O partido ficou com o mandato e com o fundo eleitoral da parlamentar, mas a liberou para se filiar ao PSL.
Kicis já havia dito ao Correio que entrou no partido por conta de Bolsonaro, por acreditar no presidente da República. Em 28 de novembro, quando a crise do PSL já estava a todo vapor, ela afirmou que não tinha intenção de deixar o partido, por fidelidade aos colegas.
A deputada disse, ontem, ao Correio, que não foi notificada e que está em contato com seu advogado. Da ala fiel à legenda, o deputado Júnior Bozzella (SP) afirmou que, exceto os efeitos da suspensão dos parlamentares e a troca de nomes na CPMI das Fake News, não há mais mudanças programadas. Sobre a saída de Bia Kicis, destacou que era o que a parlamentar queria. ;Ela tinha de estar tranquila. Eles não estão fazendo campanha para o outro partido? Ela não queria mais o PSL, e nós a tiramos. Mas, eles já estavam fora. Tinham de agradecer. Eles estão criando o Aliança e reclamando?;, questionou.
Saiba mais
Grave infração
Em notificação assinada pelo presidente do partido, Luciano Bivar (PE), a sigla alega ;grave infração ética; e ;infidelidade partidária; como motivos para a punição a Bia Kicis. ;É notório que a deputada em questão vem realizando campanha em favor do partido em formação denominado Aliança e, para tanto, desacreditando a agremiação à qual pertence atualmente e contraindicando a permanência de filiados e novas filiações a esta agremiação;, diz Bivar no documento.
Entenda o caso
Suspensões revogadas
Na terça-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia acatado a suspensão dos 14 parlamentares do PSL. Essa punição permitiu que os oponentes, ligados ao dirigente da sigla, Luciano Bivar, ficassem com a maioria na Câmara para eleger a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) como líder, derrubando do posto Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). No entanto, essas suspensões foram revogadas, ontem, por Maia, a partir de uma decisão judicial.