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Bolsonaro ataca Witzel, MP e jornalista: ''Cara de homossexual terrível''

Presidente se mostrou irritado ao longo da manhã ao ser questionado sobre as investigações contra o filho e senador Flávio Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), suspeito de ser chefe de organização criminosa que desviava dinheiro pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O chefe do Executivo federal defendeu o negócio que o filho tem como sócio de uma famosa franquia de chocolates e disse que ;ninguém lava dinheiro em franquia;.

Ele também acusou o MP carioca e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) de empregar como funcionária fantasma a filha do juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27; Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. O magistrado foi o responsável por ter quebrado sigilos telefônico, fiscal e bancário de suspeitos.

Entre acusações e refutações a Witzel e ao MP carioca, Bolsonaro mesclou respostas em tons mais calmos e mais agressivos. ;Tô (sic) respondendo, fica quieto. Deixa eu falar, porra;, disse, ao rebater um repórter que o questionou enquanto criticava Witzel e a imprensa, por, supostamente, não ouvir o governador sobre as suspeitas em torno dele.

;O processo (tramita em) é segredo de justiça ou não? Respondam. Respondam, porra. É segredo de justiça ou não?;, vociferou em outro momento, ao questionar sobre as investigações envolvendo Flávio. Os comentários foram feitos nesta sexta-feira (20/12), na saída do Palácio da Alvorada.

Em outro momento, ao ser questionado por um repórter sobre o que faria se Flávio tiver cometido algum deslize, Bolsonaro tergiversou e respondeu evasivamente em um tom provocativo um jornalista. ;Você tem uma cara de homossexual terrível, mas, nem por isso, te acuso de ser homossexual. (...) Falam ;se;, ;se;, ;se; o tempo todo;, criticou.

Em outro momento, Bolsonaro voltou a admitir ter repassado R$ 40 mil à mulher, Michelle Bolsonaro ; e não R$ 24 mil ; por meio de cheques feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, mas negou ter alguma nota comprovando o empréstimo.

Questionado sobre o comprovante, Bolsonaro voltou a provocar um jornalista. ;P****, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo. Você tem a nota fiscal desse negócio contigo no braço? Não tem. Tem a nota fiscal no teu sapato? Não tem, porra. Você tem lá no teu carro? Talvez tenha lá, mas não a nota fiscal;, retrucou. Nesse momento, comentou da relação que tem com Queiroz, mas deixou claro que ele responda por eventuais crimes se tiver feito ;besteira;.

A relação entre Bolsonaro e Queiroz vem desde 1985, admitiu o presidente. ;Eu conheço o Queiroz desde 85, nunca tive problema com ele. Pescava comigo, andava comigo pelo Rio, eu tinha que ter um segurança comigo. Ele andava com meu filho. E daí, de repente, se ele fez besteira, que responda pelos atos dele. (...) Foi meu soldado na brigada paraquedista. Se ele cometeu algum deslize, ele que responda, não eu;, destacou.

Lavagem de dinheiro

De acordo com o MP-RJ, Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões em 483 depósitos feitos por 13 assessores ligados a Flávio, na época em que era deputado estadual da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Já Flávio é acusado de ter lavado até R$ 2,3 milhões com transações imobiliárias e com a franquia de chocolates em que é sócio, uma loja localizada em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. Do volume supostamente ;lavado;, a suspeita é de que R$ 1,6 milhão tenha sido feito pelo estabelecimento.

O presidente, contudo, nega que o filho tenha lavado dinheiro na loja de chocolates. ;Arrombaram a loja de chocolates do meu filho. Mas se ele tivesse, se tivesse, se tivesse algo errado, teria assumido? Outra, as franquias são controladas. Não é o cara abre a franquia e a matriz abandona. Ninguém lava dinheiro em franquia;, declarou, emendando com uma história hipotética para justificar eventuais transações suspeitas. ;Se aparecer uma servidora botando R$ 60 mil na minha conta, vão arrebentar comigo. Vão ou não vão? E se no dia seguinte eu mostro que vendi um carro para ela, a besteira tá feita. Estão fazendo isso. Desde o ano passado investigam meu filho e não acharam nada;, acusou.

Outra suspeita do MP-RJ envolvendo Flávio, de depósitos bancários de R$ 2 mil, foi respondida por Bolsonaro. ;Foi acusado pelo MP do Rio de ter botado, fracionadamente, depósitos de R$ 2 mil no caixa eletrônico no banco. O depósito de R$ 2 mil é o limite para ser colocado via caixa eletrônico. Ele mexe com casa de chocolates;, comentou.

De acordo com Bolsonaro, os ganhos com a franquia justificam o volume financeiro movimentado pela loja. ;Daí acusaram ele, também, de estar ganhando mais na casa de chocolates. Quem leva mais cliente lá ; e ele leva um montão de gente para lá, ganha mais. Mesma coisa de chegar aí pro Neymar. Por que ganha mais que os outros? Porque ele é mais importante. Não é comunismo;, rebateu.

01 do Witzel

A origem dos supostos crimes cometidos por Flávio tem origem nas suspeitas de práticas de ;rachadinhas;, prática em que assessores de parlamentares devolvem parte de seus salários ao assessorado. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), então no Ministério da Justiça, identificou movimentações atípicas envolvendo 22 deputados estaduais da Alerj, entre eles, o filho de Bolsonaro.

Entre os parlamentares presentes na lista, lembra Bolsonaro, está o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), aliado de Witzel. Ele é suspeito de ter lotado em seu gabinete funcionários cujas movimentações financeiras são incondizentes com os vencimentos. De acordo com o Coaf, três funcionários ligados ao gabinete teriam movimentado cerca de R$ 45 milhões entre 2011 e 2017.

Ao responder se considera Flávio inocente, Bolsonaro disse que não é juiz e evitou fazer juízo sobre o caso. Mas citou, sem menção nominal, Ceciliano. ;Vários parlamentares via algum assessor tinham movimentações atípicas. O Flávio é o 17;. Vocês já assinaram uma matéria sobre o 01 da Alerj? Não fizeram, poxa. O 01 é aliado do Witzel, inclusive. É do PT. Foi eleito presidente da Alerj, tem uma linha contrária a de vocês, com R$ 50 milhões. Se alguém desviar R$ 1 real é culpado;, comentou.

Witzel, MP e Itabaiana

O governador do Rio foi citado nominalmente por Bolsonaro em sete ocasiões e o MP-RJ, cinco. Em tom crítico ao Ministério Público, o presidente sinalizou que é a primeira grande operação feita, sugerindo que há uma perseguição contra o filho. ;Você já viu o MP do estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer deslize e agente público do estado? Olha que o estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Não viram, né;, criticou.

A reclamação ao MP foi sucedida por suspeitas atribuídas a Witzel. ;Vocês (imprensa) perguntaram para o governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana tá empregada com ele? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do MP para saber se vai investigar o Witzel? Já repararam que, na véspera desse novo caso do Flávio, a Polícia Federal mostrou em uma operação na Paraíba onde lá um dos delatores falaram que Witzel pegou R$ 115 mil de caixa dois para campanha? Bem como a loteria da Paraíba faz um negócio na Loterj, lá no Rio de Janeiro. Por que o governador não fala nada?;, comentou.

O presidente lembrou, ainda, o caso envolvendo um porteiro de um condomínio onde tem uma residência, na Barra da Tijuca. À Polícia Civil do Rio, o funcionário disse que autorizou a entrada de Élcio de Queiroz, um dos suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes após conversar com um ;seu Jair;. À Polícia Federal, contudo, mudou a versão em outro depoimento. ;A Polícia Civil dele (Witzel) armou para o porteiro do meu condomínio, que os dois suspeitos de matar a Marielle ligaram na minha casa na quarta-feira. Vocês já foram perguntar para o governador Witzel sobre essa questão?;, indagou.

O juiz Flávio Itabaiana também foi criticado por Bolsonaro, que associou a decisão dele em quebrar os sigilos a um conluio com o governador do Rio. ;Não dá para ver que é conduzido? Perguntaram para o juiz Itabaiana como que ele quebra 93 sigilos em cinco linhas? Fizeram busca e apreensão de casa de pessoa que não tinha nada a ver com isso;, protestou.