postado em 21/12/2019 04:04
O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), suspeito de ser chefe de organização criminosa que desviava dinheiro, segundo investigações conduzidas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O chefe do Executivo federal mesclou respostas em tons mais calmos e mais agressivos ao defender o filho e o negócio que Flávio tem como sócio de uma famosa franquia de chocolates. ;Ninguém lava dinheiro em franquia;, disse o presidente. Os comentários foram feitos na saída do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro também acusou o MP fluminense e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de empregar como funcionária fantasma a filha do juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27; Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. O magistrado foi o responsável por ter quebrado os sigilos telefônico, fiscal e bancário de Flávio e outros suspeitos.
;Vocês (imprensa) perguntaram para o governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana tá empregada com ele? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do MP para saber se vai investigar o Witzel? Já repararam que, na véspera desse novo caso do Flávio, a Polícia Federal mostrou em uma operação na Paraíba onde lá um dos delatores falou que Witzel pegou R$ 115 mil de caixa dois para campanha? Bem como a loteria da Paraíba faz um negócio na Loterj, lá no Rio de Janeiro. Por que o governador não fala nada?;, comentou.
O governador do Rio foi citado nominalmente por Bolsonaro em sete ocasiões e o MP-RJ, em cinco. Entre acusações e refutações, Bolsonaro usou um tom agressivo ao falar com a imprensa. ;Tô (sic) respondendo, fica quieto. Deixa eu falar, porra;, disse, ao rebater um repórter que o questionou enquanto criticava Witzel e a imprensa, por, supostamente, não ouvir o governador sobre as acusações em torno dele.;O processo (em trâmite) é segredo de Justiça ou não? Respondam. Respondam, porra. É segredo de Justiça ou não?;, vociferou, em outro momento, ao questionar as investigações envolvendo Flávio.
Em tom crítico ao Ministério Público, o presidente sugeriu que há uma perseguição contra o filho. ;Você já viu o MP do estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer deslize e agente público do estado? Olha que o estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Não viram, né?;, criticou.
Provocações
Ao ser questionado por um repórter sobre o que faria se Flávio tiver cometido algum deslize, Bolsonaro respondeu em tom provocativo: ;Você tem uma cara de homossexual terrível, mas, nem por isso, te acuso de ser homossexual. (...) Falam ;se;, ;se;, ;se; o tempo todo;, criticou. Em outro momento, Bolsonaro voltou a admitir ter repassado R$ 40 mil à mulher, Michelle Bolsonaro ; e não R$ 24 mil ; por meio de cheques assinados por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, mas negou ter alguma nota comprovando o empréstimo.
Questionado sobre o comprovante, Bolsonaro voltou a provocar um jornalista. ;Porra, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo? Você tem a nota fiscal desse negócio contigo no braço? Não tem. Tem a nota fiscal no teu sapato? Não tem, porra. Você tem lá no teu carro? Talvez tenha lá, mas não a nota fiscal;, retrucou. Nesse momento, comentou a relação que tem com Queiroz, mas deixou claro que ele responderá por eventuais crimes se tiver feito ;besteira;.
A relação entre Bolsonaro e Queiroz vem desde 1985, admitiu o presidente. ;Eu conheço o Queiroz desde 85, nunca tive problema com ele. Pescava comigo, andava comigo pelo Rio, eu tinha que ter um segurança comigo. Ele andava com meu filho. E daí, de repente, se ele fez besteira, que responda pelos atos dele. Foi meu soldado na brigada paraquedista. Se ele cometeu algum deslize, ele que responda, não eu;, destacou.
Ao responder se considera Flávio inocente, Bolsonaro disse que não é juiz e evitou fazer juízo sobre o caso. O presidente, contudo, nega que o filho tenha lavado dinheiro na loja de chocolates. ;Arrombaram a loja de chocolates do meu filho. Mas se ele tivesse algo errado, teria assumido? Outra, as franquias são controladas. Não é o cara abre a franquia e a matriz abandona. Ninguém lava dinheiro em franquia;, declarou, emendando com uma história hipotética para justificar eventuais transações suspeitas.
;Se aparecer uma servidora botando R$ 60 mil na minha conta, vão arrebentar comigo. Vão ou não vão? E se no dia seguinte eu mostro que vendi um carro para ela, a besteira tá feita. Estão fazendo isso. Desde o ano passado investigam meu filho e não acharam nada;, reclamou.
Avaliação piora
Mais da metade da população ; 53% ; não concorda com a maneira de governar do presidente Jair Bolsonaro. A parcela que aprova corresponde a 41%. As informações são da pesquisa do Ibope, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem.
O levantamento foi feito entre 5 e 8 de dezembro e ouviu 2 mil pessoas em 127 municípios, antes do caso envolvendo Flávio Bolsonaro ganhar o noticiário. A parcela das pessoas que consideram o governo ótimo e bom caiu para 29% ; era de 31% em junho. O contingente dos que consideram a administração ruim ou péssima subiu de 34% para 38%.