Politica

Economia dita correção de rumos

Correio Braziliense
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postado em 26/12/2019 04:12

Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Juliano da Silva Cortinhas avalia que, ao se alinhar incondicionalmente aos Estados Unidos, o Brasil abandonou, por um momento, o ;jogo da política internacional;. Cortinhas também considera a possibilidade de o Brasil deixar o Mercosul. ;Diante do grande amadorismo da atual política externa, há chances de isso ocorrer, mas seria um erro profundo. O Mercosul vem sendo construído desde 1991. Esperava-se que fosse algo maior, mas, se o Mercosul não caminha bem, cabe ao Brasil, que é um líder natural do bloco, corrigir o rumo da forma que melhor convier aos países-membros, e não abandonar o acordo;, afirma.

O prpfessor acredita que as ondas de protestos em países da América Latina podem chegar ao Brasil, mas diz que, se o cenário econômico melhorar, pode retardar ou amenizar esses movimentos. ;Vejo como um processo natural a possibilidade de isso ocorrer. Não só porque há uma série de problemas na condução da política no Brasil, com ataques a minorias e tensões na relação entre governo e sociedade, mas porque existe, no mundo todo, uma insatisfação popular com os mais diferentes tipos de governo. Não é um processo ligado a ideologias políticas. As populações estão insatisfeitas com a forma que a política vem sendo feita. Isso se acentuou na última década;, afirma.

Otimismo

Economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochlin, por sua vez, destaca que más escolhas podem trazer prejuízos econômicos para o país, mas demonstra otimismo com as mudanças de postura mostradas pelo governo nos últimos meses. ;Espero que, nos próximos anos, o governo tenha uma visão mais pragmática da política de comércio exterior. Ignorar nossos principais parceiros é ingênuo. O governo parece dar sinais de recuperação da sensatez. Algumas relações que se degeneraram estão sendo revistas. O presidente acabou de visitar a China e países árabes. Foi uma mudança de postura. O mesmo aconteceu com a ida do vice-presidente Mourão à posse do novo presidente da Argentina;, diz.

;Demonstrar animosidade em relação à Argentina é contraproducente, pois o país é nosso terceiro maior parceiro comercial. E o governo deve repensar a postura de alinhamento automático com os EUA. Os interesses não são coincidentes. Por bem ou por mal, o governo vem sendo obrigado a rever posições;, observa.

Para Rochlin, está mais do que na hora de o presidente e o Itamaraty diminuírem o clima de atrito, que pode prejudicar as exportações em um período em que o mercado internacional tem se retraído. Os países árabes são importadores de carnes. Não dá para apoiar Israel. Não dá pra ignorar a China como grande importador de minério de ferro, carne e soja. ;Temos dois pontos de atrito para resolver: EUA e Argentina. A sobretaxa (dos EUA) ainda não se concretizou, mas pode ser um ponto de fricção e um sinal de alerta. O governo tem que cair na real. Nosso apoio não se traduziu em qualquer tipo de benefício.;

O professor também faz um alerta sobre a eventual saída do Brasil do Mercosul. ;Perderíamos importantíssimos parceiros comerciais. Quando a gente fala de comércio exterior, tem de pensar a longo prazo. A Argentina pode se tornar um mercado similar ao norte-americano. Há algum tempo, eles importavam da gente mais do que os Estados Unidos;, destaca.

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