Politica

Três perguntas para Juliano da SIlva Cortinhas

Professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB)

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/12/2019 04:12

Como o senhor vê a aproximação do país com Estados Unidos e Israel?
A política externa, idealmente, segue os interesses do país. Nós nos aproximamos de países com pautas complementares, que têm a nos oferecer coisas que não produzimos e nos procuram pelo que produzimos. Em alguns momentos, os países se aproximam a partir de interesses comuns, e a ideologia pode contar, por exemplo, quando há interesse coordenado em uma pauta social, mas, mesmo nesses casos, os países esperam contrapartidas. O que é muito raro é um alinhamento puramente ideológico, sem qualquer contrapartida. Cedemos aos EUA sem fazer exigências e, hoje, pagamos o preço. Fizemos várias concessões, e Trump está impondo barreiras. Ele está jogando o jogo da política internacional. Nós, não.

Como isso irritou parceiros comerciais históricos, como a China e as nações árabes?
Nas eleições, Bolsonaro disse que a China estava comprando o Brasil, que não era um bom parceiro comercial e que adota práticas discriminatórias. Mas ele aprendeu, na marra, que a China é um país que tem muito a oferecer. Eles têm dinheiro, têm recursos. É nossa principal parceira comercial. Chegou na reunião dos Brics com reservas de US$ 100 bilhões. Com Israel, começamos a fazer declaração de amizade, ignorando que o comércio com aquele país é baixo, e com os países árabes, é grande. O Brasil percebe o erro estratégico e busca se reaproximar.

Como o senhor vê a crise com a Argentina?
A relação com a Argentina é de um amadorismo preocupante. Nós nos afastamos das nossas bases históricas, do pragmatismo, da capacidade de construir pontes. Em política externa, palavras, declarações e simbolismos são importantes. Quando Bolsonaro pediu aos argentinos que votassem em Macri, quebrou um dos preceitos fundamentais. O Brasil tem que respeitar a soberania e a escolha do povo argentino. Quando o presidente não telefona para cumprimentar outro pela vitória eleitoral, é uma descortesia profunda. A Argentina é nossa principal vizinha em termos econômicos e territoriais. Bolsonaro percebeu o erro e mandou o vice-presidente para a posse. Mas, como só percebeu um erro tão sério depois de tê-lo cometido? Se houvesse profissionais instruindo o presidente, ele não cometeria erros como esse.

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