postado em 27/12/2019 04:13
A promessa de liberalismo na economia e conservadorismo nos costumes ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro num país dividido. À frente do Planalto há quase um ano, o chefe do Executivo reafirmou seu compromisso com a agenda da ;família e dos bons costumes; no lançamento do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente quer criar, sinalizando a intenção de seguir adiante com o discurso de campanha. Direcionada aos 57 milhões de brasileiros que o colocaram na Presidência da República, a sigla não é unanimidade entre os brasileiros nem contempla todos.
Lido na convenção nacional do Aliança pelo Brasil, o programa do eventual partido define a legenda como ;soberanista;, que rechaça as ;falsas promessas do globalismo; e trata o aborto como ;uma traição social;. A justificativa é de que todos que defendem a interrupção da gestação já nasceram. O evento de lançamento da legenda ocorreu em um hotel de luxo em Brasília, nas proximidades do Palácio da Alvorada, há dois meses. A sigla tem núcleos temáticos que não incluem negros ou LGBTs.
De extrema direita, Bolsonaro questiona os direitos das minorias e defende as ditaduras. Ao citar uma declaração do ator norte-americano Morgan Freeman, que defendeu o silêncio sobre o racismo como forma de combatê-lo, o presidente disse em entrevista que ;não tinha essa coisa de bullying; quando ele era jovem. ;O gordinho dava pancada em todo mundo. Hoje em dia, ele chora. Acontecem as brincadeiras entre as crianças, não tem que ter uma política para isso. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, da mulher, do gay, do nordestino, do piauiense.;
Estratégia
Para o professor de ciências sociais Gilvan Gomes da Silva, do Centro Universitário Iesb, ;há um entendimento de que ataques às minorias são uma estratégia;. Enquanto lança questões conservadoras, explica ele, pautas liberais que não teriam receptividade na sociedade ;estão passando;. Então, pondera Gilvan da Silva, ;as minorias estão tratando de sobreviver;.
Um exemplo citado pelo especialista foi a nomeação de Sérgio Camargo como presidente da Fundação Palmares ; primeira instituição pública voltada à promoção da influência negra na formação da sociedade brasileira. ;Ele não está ligado ao movimento;, diz. Camargo defende que o negro ;não precisa ser vítima nem precisa ser de esquerda; e afirma que trabalha pela libertação que ;escraviza ideologicamente os negros;, tratados por ele como ;dependentes de cotas e do assistencialismo social;.
O professor qualifica casos semelhantes como ;ações articuladas de um presidente que deveria governar para toda a população;, salientando que existe, entre os brasileiros, aqueles que pagam impostos e têm representação política, mas não ;usufruem dos mesmos direitos da sociedade privilegiada pelo Executivo;. Nas palavras dele, é o que ;reforça o genocídio e os crimes contra a comunidade gay;, por exemplo.
;O gordinho dava pancada em todo mundo. Hoje em dia, ele chora. Acontecem as brincadeiras entre as crianças, não tem que ter uma política para isso. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, da mulher, do gay, do nordestino, do piauiense;
Jair Bolsonaro, presidente da República, num comentário sobre bullying
Suspensão
A nomeação de Camargo foi suspensa pelo juiz federal substituto Emanuel José Matias Guerra, da 18; Vara Federal de Sobral (CE), depois do repúdio manifestado, por parte da sociedade, sobretudo lideranças negras, em reação a declarações de Camargo. A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou recurso ao Tribunal Regional Federal da 5; região (TRF-5), contra a decisão.