Rodolfo Costa , Ingrid Soares
postado em 29/12/2019 08:00
O governo é o principal favorecido no atual cenário de polarização. Com a esquerda rachada e a caneta da Presidência da República na mão, o presidente Jair Bolsonaro tem, hoje, um pé no segundo turno do pleito de 2022. Na prática, com 29% de aprovação ; de acordo com o Ibope/CNI ;, ele mantém, dentro da margem de erro, o índice de 31% de intenção de votos observado no primeiro turno das eleições de 2018. A ameaça ao chefe do Executivo poderia vir do centro, que, além de estar dividido, terá dificuldades de superar um ambiente polarizado.
O cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice, prevê que as eleições presidenciais poderão ser disputadas por três polos, mas avalia o espaço do centro com mais incertezas. ;(O ex-presidente) Lula tem prestígio eleitoral alto e, por isso, o PT continua com força para ter um candidato forte e disputar um segundo turno. Mas é preciso aguardar o desempenho do centro em 2020 para saber as reais chances de uma terceira via;, pondera.
Os pleitos municipais servirão como termômetro para testar discursos do centro, especialmente nas capitais, destaca Noronha. ;As eleições para prefeitura servem para testar popularidade de algumas lideranças. Em São Paulo, (o governador João) Doria terá o primeiro teste para ver como o eleitor recebe o apoio dele nas regiões;, explica. ;Sem dúvida, a eleição de prefeito cria estrutura partidária para as eleições presidenciais, mas, claro, pesam as questões locais.;
Mesmo na hipótese de que Bolsonaro ceda, por algum motivo, a disputa das eleições ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a direita capitaneada pelo governo ainda lideraria em um cenário polarizado. A pesquisa FSB/Veja aponta um empate técnico no primeiro turno, com vitória do ex-magistrado no segundo turno. Por isso, a oposição liderada pelo PDT tenta defender a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes em um cenário contra o presidente da República. Para encarar Moro, a aposta seria no governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
Apesar das estratégias levantadas pela esquerda, é difícil vislumbrar uma união, analisa o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). ;A oposição ainda não conseguiu se rearticular. Há disputa dentro da oposição de esquerda pela hegemonia. Estão olhando para a política interna, isso faz com que tenham pouca força;, avalia.
O caminho para superar a polarização, na opinião dele, é pelo centro. ;Está dividido, mas tem enorme capacidade de articulação. Ocupou o vazio político deixado pela desarticulação do governo Bolsonaro. Várias pautas só foram viabilizadas, em condições razoáveis, porque Maia assumiu essa posição;, sustenta, numa referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Uma candidatura centrista forte poderia surgir de uma composição entre o parlamentar e Ciro. ;Mas isso tem de ser construído, é difícil aproximar militâncias. A única saída para 2022 é a articulação do centro democrático;, defende.