Correio Braziliense
postado em 04/01/2020 04:03
A crise entre Estados Unidos e Irã — que sugere risco de um conflito armado — coloca o presidente Jair Bolsonaro entre a cruz e a espada. Os principais conselheiros, entre eles os militares, recomendaram a ele uma postura neutra e pragmática em relação ao embate, tendo em vista a boa relação comercial com ambas as nações. De um lado, o país árabe, aliado da Rússia e China, principal parceiro comercial brasileiro no Oriente Médio e o maior importador do milho produzido no país. Do outro, a maior potência econômica do mundo e o segundo principal comprador de mercadorias brasileiras. Colocado à prova de fogo, contudo, o chefe do Executivo não seguiu a tradição da diplomacia brasileira. Alfinetou o governo iraniano, associando o general Qasem Soleimani — assassinado numa ação militar dos EUA — ao terrorismo e disse que a posição é se “aliar a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo”.
As declarações de Bolsonaro sugerem uma posição contrária ao recomendado pela diplomacia internacional em uma crise deflagrada entre Estados Unidos e Irã. A relação foi ainda mais escancarada depois que o Ministério das Relações Exteriores se posicionou. “Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”, comunicou.
O Itamaraty ressalta, ainda, que acompanha “com atenção” os desdobramentos da ação no Iraque e reforça que condena “igualmente” os ataques à embaixada dos EUA em Bagdá, ocorridos nos últimos dias. “E apela ao respeito da Convenção de Viena e à integridade dos agentes diplomáticos norte-americanos reconhecidos pelo governo do Iraque presentes naquele país”, informou.
O posicionamento pegou de supetão e preocupou conselheiros oriundos das Forças Armadas do alto ao médio escalão do governo. “Diplomacia tem que ser pautada pela serenidade e isenção total. Ao tomar essa posição, corremos vários riscos”, ponderou um assessor. Outro interlocutor, entretanto, considera que há espaço para mudar o tom e adotar um tom pragmático. Ele não considera muitos riscos, ao menos não em termos de conflito armado. “Nossa situação em termos de localização geográfica, nesse caso, é privilegiada, estamos fora da zona de ação”, sustentou.
O analista político e especialista em relações exteriores Ricardo Mendes, sócio-diretor da Prospectiva, concorda com a visão de adoção do pragmatismo. “Apesar dos posicionamentos, não acredito que o Brasil tomará partido. Não creio que tenha condição para isso”, frisou. “São interesses contrários aos militares, a área agrícola e econômica. Não interessa a ninguém. Creio que o país deve se manter neutro, e Bolsonaro vai voltar atrás”, acredita.
Em entrevista, ontem, ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, Bolsonaro disse que o governo é favorável a qualquer medida que combata o terrorismo no mundo. “A nossa posição é de nos aliarmos a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo. Nós sabemos, em grande parte, o que o Irã representa para os seus vizinhos e para o mundo”, frisou. “A vida pregressa dele (Qasem Soleimani) era voltada, em grande parte, para o terrorismo. Nossa posição aqui no Brasil é bem simples: tudo que pudermos fazer para combater o terrorismo, nós faremos.”
A vida pregressa dele (Qasem Soleimani) era voltada, em grande parte, para o terrorismo. Nossa posição aqui no Brasil é bem simples: tudo que pudermos fazer para combater o terrorismo, nós faremos”
Jair Bolsonaro, presidente da República
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.