Politica

Teste de popularidade e puxão de orelha

Correio Braziliense
postado em 06/01/2020 04:12
Presidente fez oração de cerca de 46 segundos e disse que agradeceu pela missão recebida

 
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aproveitou o dia sem compromissos oficiais ontem para mais uma agenda popular. Ele esteve na Catedral Metropolitana de Brasília, na Esplanada dos Ministérios, pela manhã. Ao chegar ao local, cumprimentou simpatizantes e tirou selfies, como de costume. Em seguida, entrou na igreja, encarou o altar, se ajoelhou e juntou as mãos para fazer uma oração que durou cerca de 46 segundos.

Bolsonaro saiu da Catedral ao som do bordão “mito”, repetido por seus seguidores. O momento da visita foi transmitido por meio de live nas redes sociais do presidente, que evitou falar com a imprensa. Quando lhe perguntaram qual seria o intuito da oração, o presidente disse que tinha agradecido por sua missão (de ser presidente): “Você acredita em fé? Cada um tem a sua. Agradeço a Deus pela missão”, respondeu. Uma senhora tirou selfie com ele e lhe tascou um carinhoso puxão na orelha, em tom de brincadeira. O segurança rapidamente reagiu e abaixou o braço da apoiadora. “Ela pode, ela pode”, disse Bolsonaro, rindo.

Mais cedo, visitou o general Villas Bôas, assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa. Momentos antes, Bolsonaro parou em uma igreja Universal, mas não desceu do carro. Depois, seguiu para visitar o general.
 
Pastel e Mega-Sena
 Esta não é a primeira vez que Bolsonaro surge em meio ao povo. A rotina de realizar aparições junto a populares tem se intensificado desde o final do ano passado, em uma espécie de testes de popularidade. O presidente já disse, mais de uma vez, que não descarta concorrer à reeleição em 2022.

No dia 30 de dezembro,  Bolsonaro se hospedou na Base Naval de Aratu, em Salvador. Lá, visitou o Farol da Barra, onde também foi recebido ao som de “mito” e cumprimentou simpatizantes. O carro em que estava foi rodeado por apoiadores. Fez fotos com populares e andou um trecho até o Museu Náutico da Bahia. No mesmo dia, parou em um trecho da BR-324, onde conversou com policiais militares e caminhoneiros que estavam em um posto de gasolina próximo. Também visitou uma loja de conveniência especializada em produtos de milho, onde tomou suco e conversou com funcionários. Os dois momentos foram postados nas redes sociais do presidente.

Dias antes, quando pesquisas apontaram aumento no índice de rejeição ao governo, Bolsonaro desceu à Praça dos Três Poderes e cumprimentou turistas e admiradores. No mesmo dia, no final da manhã, visitou uma casa lotérica no Cruzeiro Velho, onde apostou na Mega da Virada. Lá, cercado de seguranças, cumprimentou e tirou fotos com funcionários, clientes e com a dona do local. 

No dia 4 de dezembro, Bolsonaro aproveitou a tarde sem compromissos oficiais para comer pastel de queijo na Feira dos Importados, também no  Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), repetindo uma iniciativa que virou uma espécie de rito de campanha eleitoral de candidatos a cargos políticos ou à reeleição. A visita durou pouco mais de 20 minutos. No local, uma multidão se formou ao redor do chefe do Executivo. Houve gritos de apoiadores e também de não simpatizantes. Segundo ele, a ida à Feira para comer os petiscos fazia parte de um “velho hábito” e também servia de espécie de termômetro na economia. 

Em novembro, o presidente foi a uma concessionária no SIA para buscar uma moto que havia comprado. Tirou selfies com os funcionários e deixou o local pilotando o veículo e sob forte esquema de segurança.

A quebra do protocolo de segurança não é uma exceção na rotina do presidente, o que preocupa os seguranças, já que Bolsonaro foi alvo de um atentado, quando levou uma facada, em setembro de 2018, durante a campanha presidencial, da qual saiu vitorioso. Na entrada e na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro faz questão de cumprimentar o público pró-governo, que se reúne para ter a chance de vê-lo de perto.

Agenda externa 
Apesar do acirramento do clima internacional, com a crise entre Estados Unidos e o Oriente Médio, deflagrada por bombardeios norte-americanos ao aeroporto de Bagdá, na última quinta-feira, que matou Qassem Soleimani, chefe das forças revolucionárias do Irã, a agenda de viagens de Bolsonaro não foi modificada, por enquanto. A previsão é de que, no fim do mês, o presidente viaje para Davos e para a Índia; e para os Estados Unidos, em fevereiro, embora o conflito no Oriente Médio possa afetar a agenda de outros representantes de Estado. “A gente não sabe até que ponto pode impactar também, não a minha viagem, mas as de todos os chefes de Estado para Davos, nessa questão. Há uma ameaça do Irã de retaliações, e estamos aguardando. Por enquanto, está mantida (a viagem)”.

A expectativa é de que ele compareça ao Fórum Econômico Mundial de Davos e, posteriormente, faça uma viagem à Índia. Segundo o Palácio do Planalto, Bolsonaro aceitou um convite para participar das comemorações pelo dia da República na Índia, no dia 26. Além de buscar aprofundar a cooperação entre os países em áreas de tecnologia, é grande o interesse nas relações comerciais com o país. Bolsonaro disse que, neste ano, poderá sair a liberação da isenção de vistos para os indianos.

De lá, Bolsonaro poderá estender a viagem para os Estados Unidos, para conhecer a tecnologia de “transmissão de energia elétrica sem meios físicos”. Ele procura uma possível solução energética para o Estado de Roraima. 

Ainda havia a previsão de que o chefe do Executivo viajasse para a Antártida. O plano inicial era de que Bolsonaro participasse da reinauguração da base da Estação Antártida Comandante Ferraz, destruída em 2012, mas, por motivos de saúde, Bolsonaro poderá enviar Hamilton Mourão. Ainda não há confirmação oficial na agenda do vice.

Reunião de emergência no TSE
A ministra Rosa Weber, presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), convocou sessão administrativa extraordinária para a próxima quarta-feira (08/01). Apesar de o Tribunal só retornar do recesso em 3 de fevereiro, a reunião do plenário será realizada com antecedência para tratar das eleições municipais deste ano. De acordo com fontes na Corte, um dos processos de licitação relacionados à urna eletrônica está atrasado por conta de recursos que foram interpostos. Na sessão, os ministros vão discutir como resolver esse problema sem prejudicar o pleito. O tema da sessão ainda não foi divulgado oficialmente, mas a convocação do encontro foi publicada no Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral. Reuniões do plenário durante o recesso não são comuns, e ocorrem apenas em situações de grande relevância.


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