Correio Braziliense
postado em 07/01/2020 04:34
O presidente Jair Bolsonaro admitiu, ontem, que existe a possibilidade de não participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos, na Suíça. Mas não deixou claro qual seria o motivo da desistência.
Segundo ele, “o mundo tem seus problemas de segurança”, mas não citou diretamente a crise entre Estados Unidos e Irã como justificativa. O presidente afirmou que é preciso ver “o que acontece” até o evento, previsto para acontecer ainda este mês. O Palácio do Planalto acompanha os desdobramentos da morte do general Quassim Suleimani, comandante da Força Quds, unidade da Guarda Revolucionária do Irã.
Questionado sobre eventuais riscos de atentados no evento, afirmou que este é um assunto para o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e para o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Bolsonaro chegou a fazer uma brincadeira dizendo que só falta Heleno “dormir com ele”, em referência à proximidade do ministro responsável por sua segurança.
O presidente também sinalizou que o Brasil mantém apoio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e voltou a elogiar a relação entre os dois países. “Não faço qualquer crítica contra Donald Trump”, declarou em coletiva de imprensa. “Não podemos coadunar com terrorismo no mundo”, completou em seguida.
Em nota, após o ataque dos EUA contra um alto militar iraquiano, o Itamaraty disse que o Brasil “está pronto para participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento”.
Jornalistas
Mais cedo, Bolsonaro disse que jornalistas são uma “raça em extinção” e que ler jornais “envenena”. Afirmou ainda que vincularia os repórteres ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis), órgão que, entre outras atribuições, defende animais ameaçados. “Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção.”
A declaração foi feita em frente ao Palácio da Alvorada, onde o presidente costuma tirar selfies com apoiadores e falar com jornalistas. Bolsonaro disse que a imprensa “não sabe nem mentir mais”, mas que não iria estender as críticas a todos os jornalistas “para não ser processado pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) e não sei o quê”. Procurada, a ANJ informou que não iria se pronunciar.
Ele ainda lembrou que determinou o cancelamento da compra de jornais e revistas impressas ao Palácio do Planalto. Em dezembro passado, a Presidência anunciou que não renovaria o contrato de R$ 582.911,40 para gastos com periódicos, que se encerrou no final de 2019.
“Todos (foram cancelados). Não recebo mais papel de jornal ou revista. Quem quiser que vá comprar. Porque envenena a gente ler jornal”, disse Bolsonaro. A nova crítica começou após ele ser questionado se enviaria antes ao Congresso Nacional a proposta de reforma administrativa ou a tributária.
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) classificou como “estapafúrdias” as declarações. “O presidente não deve confundir o que talvez seja um desejo oculto seu com a realidade. Enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo vai continuar a existir”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou, também em nota, que Bolsonaro “usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado”.
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