Apesar de em decorrência do conflito entre Estados Unidos e Irã, especialistas ouvidos pelo Correio apontaram que o posicionamento da diplomacia brasileira neste caso fugiu da prática histórica adotada pelo Ministério das Relações Exteriores ao longo das décadas.
Um dia após o ataque que matou o general Qassem Soleimani, o Itamaraty soltou uma nota em que informou que o governo brasileiro manifestava "apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo".
Mesmo sem citar o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a nota da pasta foi de alinhamento com a ação militar que assassinou o general. "O Brasil adotava uma postura de mediador. A nota do Itamaraty quebra essa tradição histórica brasileira de atuar como mediador no campo do Oriente Médio", explicou Lucas Fernandes, analista político da BMJ Associados.
Para o professor de relações internacionais do Ibmec Ricardo Caichiolo, a reação do Itamaraty causa "estranheza", já que o Brasil sempre respeitou o direito internacional. "O que foi feito pelos Estados Unidos é, no mínimo, questionável. Quando ele [EUA]~mata um representante do governo iraniano, ele está violando o direito internacional", comentou.
Em um caso de uma possível retaliação iraniana aos EUA, Caichiolo acredita que a posição do Brasil continuará sendo adotar a linha de raciocínio contrária ao terrorismo, mesmo sem citar diretamente Donald Trump. "Se os ataques iranianos forem considerados terrorismo contra os Estados Unidos, o Brasil deve adotar a mesma linha. É uma questão muito sensível. Se isso realmente ocorrer, o Brasil deve se manifestar contra o terrorismo, e não abertamente apoiar os EUA", comentou.
O problema, é que conforme explica Fernandes, o conceito de grupos terroristas também aparentou ter alterado nessa última nota. Isso porque, anteriormente, o Itamaraty costumava reconhecer grupos terroristas apenas quando os grupos eram tipificados dessa mesma maneira pelo conselho das Nações Unidas — como é o caso da Al Qaeda e do Estado Islâmico. "O grupo comandando pelo Saleimani não é considerado terrorista pela ONU. É uma mudança bem sensível. É uma quebra de tradição importante", ponderou.
Por outro lado, segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro tem adotado uma medida mais cautelosa em relação ao conflito: sem holofotes ou polêmicas. "Se fosse um assunto cotidiano, ele teria se pronunciado. Ele teria dado uma declaração ou no Twitter ou pessoalmente. Dá para perceber que o Brasil está tratando esse assunto com seriedade, e isso é algo positivo. Principalmente porque o Bolsonaro tem um histórico militar, então ele deve estar bem assessorado", completou Fernandes.
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