Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 04:04
Sem alarde, mas com muito empenho, uma parte da ala militar que continua no governo já trabalha pela candidatura do ministro da Justiça, Sérgio Moro, à Presidência da República em 2022. Esses militares têm certeza de que o ex-juiz vai entrar na disputa pelo Planalto, mesmo que o presidente Jair Bolsonaro concorra à reeleição. Nada, porém, relacionado ao ex-magistrado será definido de forma precipitada. Moro sabe de seu potencial nas urnas, já conversou sobre isso com amigos muito próximos, mas se convenceu de que ainda é muito cedo para falar do assunto. Mais: não quer ser visto como traidor. O tempo, acredita ele, será seu aliado.
Militares que veem Moro como opção para a Presidência da República acreditam que Bolsonaro vai se desgastar muito até o início da campanha, porque não consegue domar sua tendência a gerar polêmicas. Num país com tantos problemas, o ocupante do Planalto deve optar pela sensatez. Moro está mais adequado a esse perfil, acreditam. Outro ponto importante, segundo os militares: o ex-juiz, se candidato e eleito, tenderá a manter Paulo Guedes no comando do Ministério da Economia. Os dois são muito próximos, jantam frequentemente em Brasília. Foi Guedes quem intermediou a aproximação entre Moro e Bolsonaro.
Com a promessa de Guedes no comando da Economia, ressaltam os militares que defendem Moro na Presidência, o ministro terá todo o apoio do mercado financeiro. Há, inclusive, banqueiros trabalhando na mesma direção desses militares para que o titular da pasta da Justiça se jogue de vez na política.
Todas as pesquisas de popularidade apontam Moro como o líder mais confiável do país na atualidade. O único a ter índices mais próximos aos dele é o ex-presidente Lula, que os militares querem ver pelas costas. O ex-magistrado sabe que, com esses indicadores, sai na dianteira de qualquer disputa para o cargo mais importante do país.
Quem transita pelo Palácio do Planalto admite que Bolsonaro está consciente da possibilidade de Moro sair candidato à Presidência da República. Não por acaso, sempre que possível, o chefe do Executivo faz questão de dar umas estocadas no subordinado. A mais recente, e mais pesada, foi a manutenção dos juízes das garantias no pacote anticrime aprovado pelo Congresso.
Ali, Moro sentiu o baque, tanto que explicitou publicamente seu descontentamento. O ministro da Justiça também se conscientizou de que seu sonho de integrar o Supremo Tribunal Federal (STF) está cada vez mais longe de ser realizado. Bolsonaro resiste em indicá-lo. A próxima vaga será aberta em novembro, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello.
O titular do Planalto acredita, porém, que pode dobrar Moro e tentar convencê-lo a ser vice em sua chapa à reeleição. O presidente já disse, diversas vezes, que os dois numa chapa única são imbatíveis. Essa tentativa de tirar proveito da popularidade do ministro, que é maior do que a do presidente, não sai da cabeça dos aliados de Bolsonaro que estão se regozijando no poder. O presidente conta ainda com a popularidade do ministro para tirar do papel seu novo partido, o Aliança pelo Brasil, que corre o risco de ficar fora das eleições municipais deste ano. Sem candidatos eleitos nesse pleito, a sigla perde força para emplacar nomes de expressão nas disputas majoritárias em 2022.
Confiança
Procurado pela reportagem, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirma que o governo não difere entre civis e militares entre seus integrantes. Sobre o fato de uma ala da caserna apoiar uma eventual candidatura de Moro ao Planalto, diz que o pleito de 2022 não é assunto de maior importância no momento.
“O presidente Bolsonaro vem acompanhando essas questões da montagem de equipe, e é com confiança que ele administra junto a seus ministros. Quanto a ilações de que militares poderiam participar, em suporte a qualquer outra autoridade em um eventual pleito eleitoral, não tem a menor consideração factual no momento que nós vivemos”, garante.
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