Politica

Bolsonaro alfineta Lula e sinaliza não adotar neutralidade entre EUA e Irã

O capitão reformado lembra que, em novembro de 2009, Lula reconheceu o direito do Irã em executar um plano nuclear para ''fins pacíficos''

Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 14:42
Durante live feita no início da tarde desta quarta-feira (8/1), no Palácio do Planalto, o presidente assistiu o discurso do presidente norte-americanoO presidente Jair Bolsonaro mantém a sinalização de que o governo não adotará a tradicional neutralidade da diplomacia brasileira em meio à crise entre Estados Unidos e Irã. Em live feita no início da tarde desta quarta-feira (8/1), no Palácio do Planalto, ele assiste o discurso do presidente norte-americano, Donald Trump. Depois do pronunciamento, diz que “muitos acham que o governo deve se omitir diante dos acontecimentos”, mas, em seguida, alfineta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, indiretamente, o governo iraniano. 

O capitão reformado lembra que, em novembro de 2009, Lula reconheceu o direito do Irã em executar um plano nuclear para “fins pacíficos”. “Queria dizer apenas uma coisa. O sr. Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto presidente da República, esteve no Irã. E lá defendeu que aquele regime pudesse enriquecer urânio acima de 20%, que seria para fim pacífico”, declarou. 

A afirmação é parcialmente equivocada. O então presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, defendeu o programa nuclear iraniano e sustentou que o país tinha condições de enriquecer urânio, mas a 20%, não acima. Em maio de 2010, o petista viajou ao Irã para fazer mediação sobre o programa nuclear, vista pelas grandes potências como a “última chance” antes da discussão de sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) ao país persa. 

Ao fazer tal referência, Bolsonaro sugere que Lula não se omitiu “diante dos acontecimentos”, ao insinuar que o petista tomou posição ao defender o programa nuclear de Ahmadinejad e associar sua imagem ao do ex-presidente iraniano. “Nós temos que seguir as nossas leis. Nós não podemos extrapolar, mas acredito que a verdade tem que fazer parte do nosso dia a dia, que nós queremos para o mundo”, ponderou. 

O presidente citou o artigo 4º da Constituição. O dispositivo estabelece sob quais princípios as relações internacionais brasileiras devem ser regidas pela governo. Entre os 10 incisos dispostos, Bolsonaro cita o VI e o VIII. “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: a defesa da paz e no repúdio ao terrorismo. Uma boa tarde a todos e que Deus abençoe o nosso Brasil”, declarou. 

As ponderações de Bolsonaro foram feitas em pouco menos de dois minutos de duração da live. No governo, além de alfinetadas, são interpretadas como respostas a Lula. Em seu Twitter, o petista fez críticas ao chefe do Executivo federal. “Na relação internacional, sempre são dois interesses: o seu e o do outro. Você tem que sempre equilibrar o deles com o seu. O Bolsonaro não faz a menor questão de não ser um lambe botas do Trump”, afirmou. 

O petista declara, ainda, que os EUA “gostam de criar confusão” e analisou que “não há necessidade de se inventar ‘terrorismo’ no Irã”. “O momento não é adequado para o Brasil se meter em uma briga externa. O Brasil não tem contencioso com o mundo, sempre manteve uma política diplomática harmoniosa. Devemos ser um construtor de paz”, ponderou.

Indiretas

Pelo contexto utilizado em suas palavras, as alfinetadas a Lula atingem, ainda que indiretamente, o governo iraniano. A referência do apoio do petista ao programa nuclear iraniano em 2009 ocorre em um momento em que o Irã sinaliza retomar o enriquecimento de urânio em níveis mais altos. O embaixador iraniano na ONU, Majid Takht-Ravanchi, afirmou que o país seguirá a exceder os limites permitidos, a menos que a Europa apresente formas de compensação das perdas econômicas provocadas pelas sanções impostas pelos EUA.

A retomada do enriquecimento de urânio a níveis elevados, por sua vez, é parte do processo para a produção de bombas nucleares. Uma concentração de urânio a um nível de 20% representa em torno de 90% da composição necessária para fabricar armas nucleares. Acima disso — algo que o governo iraniano sinaliza —, cria-se as condições para a criação de bombas. 

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