Politica

Diretorias de agências reguladoras ainda têm 23 lugares vagos

Com 23 vagas abertas nas diretorias dos órgãos reguladores, especialistas defendem uma atuação mais independente

Além dos desafios pontuais de cada setor, os órgãos de regulação têm pela frente a expectativa de uma atuação mais eficiente e autônoma. Com a lei das agências em vigor desde junho do ano passado, os especialistas esperam mais rigor na análise de impacto regulatório. No entanto, com tantas cadeiras vagas nos colegiados, há o temor de que elas não saiam ilesas das indicações políticas.

Para Daniel Vila-Nova, advogado da área de direito administrativo e regulatório do escritório Souto Correa Advogados, a legislação traz inovações importantes. “Esperamos que a análise de impacto seja uniformizada para que as decisões não sejam desautorizadas”, avalia.

Uma estratégia que se mostrou acertada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é antecipar a programação, segundo ele. “Isso facilita a regulação e permite que os conflitos sejam resolvidos antes, para que os atores possam fazer seus estudos. Assim ninguém é pego de surpresa quando sair uma regulação nova. Isso permite mais estabilidade e segurança jurídica. O maior desafio será a padronização”, diz. Para o especialista, com as numerosas vagas, é difícil dizer que não vai ter influência política. “O presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo) pediu para sair. Isso mostra possível desgaste”, alerta. 

Décio Oddone decidiu antecipar o fim do mandato na ANP, que iria até dezembro, e deixou a direção da agência, alegando que as grandes transformações no setor, derivadas de decisões de política energética, estão encaminhadas. “A gestão da ANP está em processo de modernização, simplificação, agilização e aumento da transparência. As questões da competitividade, da transparência nos preços e da regularidade fiscal passaram a fazer parte da agenda. A necessária desvinculação das áreas técnicas está sob avaliação. O processo de grandes mudanças no setor, do qual participei com afinco, encerrou-se com os últimos leilões”, justifica.

Para a especialista em direito regulatório na área de petróleo e gás Lívia Amorim, no entanto, o maior desafio da ANP ainda não foi encaminhado. “O modelo de partilha é muito engessado. Tanto que, nos últimos leilões, só a Petrobras apresentou proposta. Não é que concessão seja melhor, mas é preciso ajustar os parâmetros para atrair investidores”, avalia. O novo mercado de gás também tem muito a entregar em 2020, acrescenta. A ANP explica que o setor “propõe um novo modelo, mais aberto e competitivo”. “Para este ano, está prevista a publicação de norma que estabelece os critérios de autonomia e independência dos transportadores de gás natural.”

No entender de Alberto Sogayar, sócio da área de infraestrutura do L.O. Baptista Advogados, as agências precisam mostrar isenção e independência. “Não podem ser um alongamento do Estado. Têm de ter corpo técnico qualificado focado nos projetos e não no poder concedente nem no concessionário”, aponta. Para ele, a Agência Nacional de Águas (ANA) terá um protagonismo em 2020, com o novo marco do saneamento, que tramita no Congresso e deve ser aprovado este ano. Pela proposta, a agência editará normas de referência para o setor, mas não realizará a regulação direta das empresas municipais ou estaduais. Para isso, está entre suas prioridades “aperfeiçoar as estratégias regulatórias”.

Decisões políticas
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ao anunciar as prioridades para 2020, elencou entre elas o transporte hidroviário e a integração modal. O diretor da Agência de Transportes Aquaviários (Antaq), Adalberto Tokarski, destaca, no entanto, que o Executivo ainda precisa tomar as decisões políticas para que o tema entre na ordem do dia na agência. “O governo quer fazer a BR do Mar, buscando conexão hidroviária. Isso tem que entrar na prioridade, porque o setor ferroviário está crescendo e o país precisa de soluções de intermodalidade para apoiar a navegação”, diz.
Enquanto isso não sai do papel, o desafio da Antaq é simplificar a regulamentação para a expansão das concessões portuárias. “Temos 21 áreas preparadas. Mas nosso esforço, que está em fase final, é tornar o processo de arrendamento mais simples. Em vez de fazer estudo de viabilidade técnica ambiental, a ideia é estabelecer o preço conforme o metro quadrado. Assim, na hora do arrendamento, será possível ter um ponto de partida para fazer o leilão”, explica.

Para as privatizações das Companhias Docas, a modelagem está sendo feita pelo governo via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de acordo com Tokarski. “Quanto mais o setor ficar na iniciativa privada, mais de perto a agência tem de atuar na fiscalização”, sustenta.

Com foco na intermodalidade, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem objetivos mais definidos para 2020. “A lista de projetos é extensa”, informa. Na área de rodovias, há vários eixos logísticos rodoviários preparados para concessão, alguns já com leilão marcado, outros em audiência pública (veja página ao lado). “Não tenho dúvida de que o modal rodoviário é consolidado, há um aprimoramento dos editais, que estão muito maduros. Quase anda sozinho. O ferroviário é mais difícil. A subconcessão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) deve ocorrer este ano, mas serão poucos players e não deve haver grande ágio”, estima Sogayar, do L.O. Baptista.

A pauta dos setores ferroviário e rodoviário é comum na ANTT, com foco na desburocratização da regulação, opina Fernando Paes, diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). “É preciso criar uma regulação mais inteligente, que viabilize a entrada de novos operadores nos mercados. No setor ferroviário, a regulação é extremamente excessiva, com normas que não fazem sentido dos pontos de vista econômico e de engenharia, que só trazem ônus o para os concessionários”, afirma.

O desafio da agência, no entender de Paes, será acompanhar o governo no objetivo de modernizar o setor de infraestrutura, com redução do fardo regulatório, de forma integrada. “O órgão regulador precisa ser mais eficiente do que é hoje para desonerar o trabalho dos concessionários e permissionários. Estamos dispostos a contribuir”, acrescenta.