Correio Braziliense
postado em 22/01/2020 04:14
Representantes de entidades israelitas estão trabalhando para descolar a imagem da comunidade judaica do governo Bolsonaro. A intenção é mostrar que são um grupo diverso, com diferentes pensamentos políticos, e rechaçar o vídeo institucional, divulgado na última sexta, em que Roberto Alvim, então secretário de Cultura, cita trechos de um discurso do ministro nazista da propaganda, Joseph Goebbels. Também querem afastar a imagem ruim deixada por uma plateia do Clube Hebraica ao aplaudir o ainda deputado federal Jair Bolsonaro em um discurso no qual ridicularizava quilombolas, em 2017.
O vídeo da palestra de Bolsonaro voltou a circular como uma forma de crítica à comunidade judaica, que se sentiu ofendida pela atitude de Alvim. Em uma postagem no perfil do Facebook do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil Henry Sobel, dois dias após a divulgação da peça institucional, o grupo postou um vídeo de uma manifestação de israelitas contrários à palestra, do lado de foto do Hebraica.
Na mesma postagem, disponibilizaram vários links com reportagens sobre protestos e falas da comunidade contra o governo. O idealizador do observatório, o jornalista Jaime Brener, afirmou que nunca houve adesão completa, como alguns setores da esquerda apontam, e destacou que direitos humanos não são exclusividade de judeus, mas um valor universal. “Chegamos a ter manifestações contrárias ao presidente com 9 mil pessoas”, disse. “E muita gente que apoiou Bolsonaro, depois mudou de opinião. Agora, falta uma parte das pessoas reconhecerem que o presidente eleito foi quem nomeou o secretário. Uma violência contra qualquer minoria é uma violência contra nós.”
Tanto a Federação Israelita do Rio de Janeiro quanto a Confederação Israelita do Brasil já acionaram os respectivos corpos jurídicos para saber que ações podem mover contra Alvim. O presidente da federação fluminense, Arnon Velmovitsky, está entre os que destacam a amplitude da comunidade judaica no país. “Nossa comunidade é plural. Temos direita, esquerda e centro”, frisou.
Colaborador do Instituto Brasil-Israel e pesquisador do Núcleo de Estudos Judaicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Michel Gherman está em Israel e falou ao Correio sobre a repercussão do vídeo de Alvim no país. Segundo ele, a imagem de Bolsonaro, muito associada à de Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelense), perdeu força nos noticiários. Ele vê no ex-secretário uma continuação da forma de pensar de algumas autoridades. “Eu acho que uma observação mais cuidadosa da construção da candidatura do presidente mostra que não é (um fato) isolado. Desde o discurso das minorias que se adaptem (“as minorias têm de se curvar à maioria”, disse o presidente) até o da Hebraica, você vê uma postura de extrema direita”, avaliou.
Ao comentar como o vídeo repercutiu na Universidade de Ben-Gurion, em Israel, o professor explicou que nem todos entenderam o que estava sendo dito. Ainda assim, segundo ele, as pessoas notaram a ambientação do vídeo. “Ficou fora do contexto, pois era no Brasil, mas as pessoas perceberam que era uma interpretação de Goebbels. Colegas da universidade ficaram muito impressionados. É um escândalo”, contou.
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