Politica

DEM de olho em 10 capitais

Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:33

Salvador — O prefeito da primeira capital do Brasil, ACM Neto, tem razão ao dizer nesta entrevista que não tem do que reclamar. Ele completou 41 anos ontem como um dos gestores municipais mais bem avaliados do país e presidente de um partido que, depois de amargar o ostracismo da oposição no período petista, comanda as duas Casas do Poder Legislativo, tem o governador de Goiás, ministros importantes e a vitrine soteropolitana. O leque para o futuro nunca esteve tão aberto — o DEM tem, desde figuras muito próximas ao presidente Bolsonaro, o que pode levar o partido ao apoio à reeleição, quanto outros mais distantes, que podem fazer a balança pender para o apoio a outra candidatura. Nesse cenário incerto, há um pacto no partido para não tocar no assunto 2022. “Tenho várias correntes. Como presidente do partido, meu dever é dar conforto a todas elas. O tempo da eleição de 2022 não é agora”, diz. Mas ACM Neto já coloca algumas balizas. “Não aderimos a nenhum tipo de radicalismo. A única restrição que faremos é de diálogo com a esquerda, leia-se, principalmente, PT e PSol”. Leia os principais trechos da entrevista.

Lições da rua
Salvador tem uma característica diferente. Aqui, as pessoas demandam muita proximidade. Acho que um dos acertos que fiz foi, desde 1º de janeiro de 2013, ir muito para as ruas. Eu governo muito na rua. Tenho uma agenda e uma disciplina de, pelo menos, cinco vezes na semana estar nas ruas, sem medo das cobranças, dos pedidos. E, é claro, sempre levando a prefeitura às pessoas, fazendo um governo de proximidade. Talvez a grande lição que eu possa traduzir é que o homem público tem que estar do lado do povo. E fazendo um paralelo, porque fui deputado 10 anos, vejo que, muitas vezes, os políticos em Brasília não andam nas ruas. Não têm esse contato, essa proximidade. É muito mais fácil você decidir quando vai às ruas. Você passa a ter um nível de sensibilidade e conhecimento muito maior.

Político, não enrole
As pessoas não querem um super-herói, um político que resolva tudo. Querem que o político fale a verdade, que não enrole, que prometa uma coisa e depois não cumpra. Esse sentimento é crescente no país. Ou seja, tudo bem, a gente sabe que você não vai resolver tudo da noite para o dia, nem pode fazer tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Mas, o que você disser que vai fazer, faça. Cumpra. 

Prefeitura ou partido?
São coisas muito diferentes. Não há, na vida pública, desafio maior do que administrar uma cidade. Recai sobre o prefeito todo tipo de cobrança, até de coisas que não dependem do trabalho da prefeitura. Por exemplo, segurança pública. É uma função fundamental do estado. Prefeitura não tem poder de polícia, mas as pessoas nem sempre distinguem isso. Aqui, todo o serviço de água é feito pela Embasa, que é uma empresa do Estado. As pessoas não sabem e acaba recaindo também sobre o prefeito. Ou, aqui, a questão da energia: a companhia é privada. É um desafio grande. Por outro lado, prefeitura talvez seja a função pública que mais recompense. Você tem a capacidade de promover intervenções rápidas e diretas que mudam a vida das pessoas, de maneira muito próxima. Fui do Legislativo e me realizo muito mais como prefeito do que como deputado.

Ministério do Moro
Não acho que necessariamente a solução seja separar (Segurança Pública e Justiça). A solução é dar condições para que o Ministério da Justiça seja articulador da política de segurança no Brasil. Pelo que me consta, esse trabalho foi iniciado na época do Jungmann, mas não teve continuidade. Separar não é solução, mas a segurança pública tem que se tornar prioridade para o Ministério.

Economia
O ano de 2020 tem tudo para ser melhor do que se estava prevendo, mas não dá para o governo e o Congresso se deitarem em berço esplêndido. Precisa fazer avançar a agenda, principalmente, da reforma tributária. Não gosto desse nome, porque, na reforma tributária você junta muita coisa e mexe com muitos interesses de uma vez só. Por mim, optaria talvez por fatiar e ir votando cada um dos temas. O governo e Congresso precisam depositar força política no primeiro semestre, porque o segundo já começa praticamente com o calendário eleitoral e aí o ano só vai ser retomado em novembro.

DEM nas eleições
Temos a possibilidade de ter até 10 candidatos a prefeito de capital. O foco prioritário é trabalhar nos municípios acima de 50 mil eleitores. Precisamos converter a força política que o partido acumulou nos últimos anos em capital eleitoral. O partido está bem posicionado nacionalmente, tem uma posição de liderança, sobretudo no Parlamento, e na agenda do país. Só que isso precisa ser traduzido em voto. Nossa recomendação tem sido que o foco seja todo municipal. Não adianta querer nacionalizar. O que as pessoas querem é saber o que cada candidato tem a propor para o futuro da cidade.

Política nacional
O eleitor separa bem as coisas. Não acho que os atores nacionais, por mais fortes que sejam, terão uma influência decisiva. Em 2012, me elegi prefeito com governador do PT, presidente da República do PT e o ex-presidente Lula fortíssimo aqui. E eu venci a eleição, sem o apoio de ninguém. Por quê? Porque foquei no debate municipal. esse ano, no Democratas, fizemos uma espécie de pacto, não vamos tratar de 2022 agora. Dentro do partido, tenho várias correntes e tenho que dar conforto a todas essas correntes. Tenho pessoas mais próximas ao presidente Bolsonaro e outras que são mais distantes e, como presidente do partido, meu dever é dar conforto a todas elas. E esperar o tempo das coisas. E o tempo da eleição de 2022 não é agora.

Aliança pelo Brasil
O partido do presidente é uma realidade, a única dúvida é saber quando ele vai ser formalizado. E vai nascer grande, óbvio. Vai afetar muito pouco o DEM, porque fizemos uma opção. Temos um partido muito orgânico e muito sólido. Agora havia a hipótese de receber deputados de outros partidos e tal. Eu disse:  calma. Nosso caminho não é esse. Como temos hoje o presidente da Câmara e do Senado, poderíamos dar um salto e pular para 50 deputados. Mas o que isso significaria, se não fosse uma coisa efetivamente orgânica? Você cresce e depois diminui. Quero ter um crescimento consistente. A minha prioridade é crescer a partir do voto, da base.

PREFEITO na Casa Civil
Eu não especularia sobre isso em nenhuma hipótese. Hoje tenho só um foco: ser prefeito de Salvador até 31 de dezembro de 2020. Concluir meu trabalho, deixar um legado e, se possível, fazer o sucessor. E a partir de 1º de janeiro de 2021? Estou me preparando para, depois de 18 anos ininterruptos de mandato, ter uma vida de cidadão comum. E, para continuar presidindo o Democratas, meu mandato se estende pelo menos até 2022, para organizar a política nacional do partido e focar num projeto baiano de fortalecimento do meu grupo. Minha cabeça está toda voltada para isso. Hoje, não tenho nenhum outro projeto, nenhuma outra visão que não essa. Onyx (Lorenzoni, atual chefe de Casa Civil) é um amigo meu, considero um excelente ministro.


Polarização
Não acho que hoje exista polarização porque, na minha opinião, o PT e as esquerdas estão perdidos. Primeiro era o discurso do golpe, depois, o do Lula Livre. E agora, é o quê? Eles não sabem. Está claro que eles não têm um projeto para o país. E, enquanto viverem na sombra do Lula, não vão se reinventar. Tenho muito respeito à história do Lula, ao que ele representou, mas ele passou. Só que ele próprio primeiro e, depois, o PT têm que enxergar isso. Até torço para que eles continuem na história do Lula, que o Lula seja o nome que vão trabalhar para 2022, porque, na minha opinião, enquanto eles viverem essa era, não voltam a ganhar uma eleição presidencial.


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