Correio Braziliense
postado em 28/01/2020 06:00
Classificado por 53% dos brasileiros como o ministro mais eficiente de Jair Bolsonaro, Sergio Moro tem tentado expandir sua popularidade para fora do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Na contramão do hábito do governo federal, em uma semana o ex-juiz teve uma agenda pública fora do comum e aceitou convites para conversar com dois veículos da imprensa. Moro também criou um perfil no Instagram, uma das redes sociais de maior alcance no país.
A nova rotina proporcionou ao ministro um palco para ele se defender das acusações de que estaria em conflito com o presidente e que rivalizaria com Bolsonaro nas eleições majoritárias de 2022. Moro tem agora uma página para valorizar o trabalho da sua pasta e dos órgãos subordinados a ela, capaz de alcançar um outro público. “É uma forma de prestar contas à sociedade”, disse o ministro.
Menos de 48 horas depois da criação do perfil no Instagram, na quinta-feira da semana passada, ele atingiu a marca de 759 mil seguidores. Hoje, a conta pessoal de Moro alcança, pelo menos, 860 mil pessoas. A depender do ritmo, em pouco tempo o ministro vai atingir a marca de 1 milhão. Por outro lado, Moro segue apenas três contas: a da esposa, a do presidente Jair Bolsonaro e a do próprio ministério.
A rápida expansão repercutiu no Palácio do Planalto. Nos bastidores, o entendimento é de que é melhor manter Moro por perto, como aliado. Prova de que Bolsonaro não quer se indispor com Moro, é a recusa, ao menos por enquanto, na divisão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Caso levada a cabo, a mudança enfraqueceria os poderes de Moro. O ministro, por sua vez, já havia afirmado a interlocutores que, caso Bolsonaro aceitasse recriar o Ministério da Segurança Pública, sairia do governo.
Vaga na Corte
Os movimentos feitos por Moro também estão sendo interpretados na Esplanada dos Ministérios como uma forma de marcar posição por uma vaga ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com as ações feitas, um ministro da Justiça e Segurança Pública com a popularidade dele busca, assim, trazer para si os holofotes para se cacifar como postulante a um dos postos de maior cobiça.
Em meio às discussões sobre a possibilidade de desmembramento do Ministério da Segurança Pública, Moro busca evitar a desidratação de sua pasta e também se posicionar. No próprio governo, pegou mal para alguns a declaração do ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que admitiu, em entrevista à Rádio Globonews, em 23 de janeiro, que há estudos sobre a divisão das estruturas, envolvendo, inclusive, a transferência da Polícia Federal.
O ministro, amigo de Bolsonaro, é apontado nos corredores do Palácio do Planalto como forte nome a receber a primeira indicação do presidente para o STF, para a vaga a ser deixada por Celso de Mello, a partir de 1º de novembro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chegou a defendê-lo no Twitter, sugerindo o que parte da imprensa diagnosticou “erroneamente” que Oliveira pode ser obstáculo para que o “nome preferido deles” chegue ao STF.
O titular da Justiça e Segurança Pública, por sua vez, deixou claro no governo que sonha com uma indicação à Suprema Corte. Por esse motivo, a leitura feita nos bastidores é de que Moro usa a popularidade para marcar posição pela vaga no STF. Segundo disse um fonte com circulação no Palácio do Planalto, ou a indicação sai este ano, ou Moro concorre à Presidência em 2022, por mais que diga o contrário. De acordo com a fonte, se o presidente deixar para indicar Moro no próximo ano e continuar na mira de fogo amigo no governo, o ministro pode acabar querendo disputar as eleições.
Abertamente, Moro admite que ser indicado ao Supremo “é uma perspectiva que pode ser interessante”. “É natural na minha carreira. Venho da magistratura. Seria algo interessante. Mas a escolha, evidentemente, cabe ao presidente da República. Ele tem a possibilidade de me indicar, mas pode indicar outras pessoas. Tem outros nomes. O presidente só vai fazer essa escolha no momento apropriado. Mas me dizer se eu não gostaria? Claro (que sim)”, comentou em entrevista à rádio Jovem Pan, nesta segunda-feira (27/1).
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