Politica

Guedes detona servidores e põe culpa na imprensa

Ministro da Economia chama funcionários públicos de parasitas e gera uma reação em massa da categoria e de políticos. Em nota, pasta diz que declaração foi %u201Cretirada de contexto%u201D pela mídia. Ele também classifica a Previdência de privilégio

Correio Braziliense
postado em 08/02/2020 04:12
Guedes deu as declarações em seminário: para ele, o recurso destinado a reajuste do funcionalismo poderia ser usado na saúde e na educação


O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou os servidores públicos a “parasitas” ao defender, ontem, as reformas econômicas do governo. Ele alegou que, ao reivindicarem reajustes salariais em meio à crise fiscal que deixou as contas brasileiras no vermelho, os funcionários parecem “parasitas” se aproveitando de um “hospedeiro que está morrendo”. A declaração desencadeou uma reação em massa de políticos e servidores, que a classificaram de “agressão gratuita e desnecessária”, “calúnia” e “assédio institucional”. As críticas levaram a pasta a emitir uma nota, na qual afirmou que a fala de Guedes foi tirada de contexto pela imprensa.

“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação. Tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo, e o cara virou um parasita. O dinheiro não chega ao povo, e ele quer aumento automático. Não dá mais”, reclamou Guedes, aplaudido pelo público no seminário que participou no Rio de Janeiro, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O ministro creditou as palmas ao fato de a população não aceitar mais a situação. Ele disse que, como revelou recentemente uma pesquisa do Datafolha, 88% dos brasileiros apoiam a avaliação e a demissão dos “maus servidores”.

Guedes admitiu, porém, que a possibilidade de suspender os reajustes salariais automáticos do funcionalismo público não está na proposta de reforma administrativa que o governo promete encaminhar ao Congresso na próxima semana. O texto, que é aguardado desde o ano passado pelos parlamentares, teve o envio adiado justamente para ser ajustado nesse ponto. É que, diante da resistência demonstrada pelos servidores públicos e por boa parte do Congresso à proposta, o presidente Jair Bolsonaro decidiu que a reforma administrativa não vai mexer nos direitos dos atuais funcionários. A ideia é acabar com a estabilidade, rever o número de carreiras e endurecer as regras de promoção e reajuste salarial apenas dos novos servidores.

O ministro da Economia nunca engoliu essa “restrição política”. Reclama que, hoje, o funcionalismo representa a terceira maior despesa do governo, perdendo apenas para os gastos com a Previdência — que, por sinal, foi classificada por ele, também ontem, como um privilégio — e com os juros da dívida pública. “O governo está quebrado e gasta 90% de toda a sua receita com salário, mas é obrigado a dar aumento (aos servidores). (...) Nos Estados Unidos, o cara fica quatro, cinco anos sem dar reajuste e, de repente, quando dá, todo mundo fica ‘oh, muito obrigado’. Aqui, é obrigado a dar porque o dinheiro está carimbado e ainda leva ovo, não pode andar no avião”, criticou. Na visão do ministro, o recurso que vai para o reajuste do funcionalismo poderia ser usado para ampliar os gastos com saúde e educação, por exemplo. “Está faltando dinheiro nos municípios, mas o dinheiro está bloqueado”, reclamou.

É por conta disso que, como já haviam alertado servidores públicos, parte do que foi tirado da reforma administrativa acabou entrando na PEC do Pacto Emergencial, proposta também defendida por Guedes ontem. O ministro lembrou que, em caso de emergência fiscal, a PEC autoriza os entes federados a acionarem uma série de gatilhos de contenção de gastos. Entre os quais, os que permitem a suspensão dos reajustes e das promoções do funcionalismo. O Ministério da Economia ainda antecipou que, se a PEC fosse aprovada hoje, a União e mais 14 dos 27 estados já poderiam lançar mão das prerrogativas.

“Políticas antigas”
Em nota publicada depois da fúria provocada pelas declarações de Guedes, a pasta disse que o ministro analisou, no seminário da FGV, a situação específica desses estados e municípios “que têm o orçamento comprometido com a folha de pagamento” e, por isso, não dispõem de dinheiro para investir em saúde, educação e saneamento. “O ministro argumentou que o país não pode mais continuar com políticas antigas de reajustes sistemáticos. Isso faz com que os recursos dos pagadores de impostos sejam usados para manter a máquina pública em vez de servir à população: o principal motivo da existência do serviço público”, defendeu.

O ministério ainda garantiu que Guedes “reconhece a elevada qualidade do quadro de servidores”, mas teve sua fala “retirada de contexto pela imprensa”, para desviar “o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão”.


O ministro no ataque

Veja disparos de Guedes contra a categoria

“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação. Tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo, e o cara virou um parasita. O dinheiro não chega ao povo, e ele quer aumento automático”
Declarações ontem, no seminário no Rio
 
“O funcionalismo público não é culpado, mas também não é inocente. A função deles é tomar conta das coisas públicas. Como teve desvio, roubalheira? Cadê a turma que tinha de tomar conta disso?”
Em maio de 2019, ao mencionar os “desvios” 
e a “roubalheira” que assolaram o país 
nos últimos anos

“200 milhões de brasileiros precisam disso (da reforma da Previdência), mas têm seis, sete, oito milhões que se beneficiam dessa fábrica de desigualdade (a Previdência) e que querem impedir a reforma. (...) Primeira coisa que vai acontecer (sem a reforma) é a interrupção do pagamento de salários. O primeiro atingido é o servidor”
Em março de 2019, ao indicar que o salário do funcionalismo público poderia ser cortado, caso a reforma da Previdência não fosse aprovada

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