Politica

Equilíbrio entre o econômico e o social

Correio Braziliense
postado em 08/02/2020 04:13
Marinho vai gerir um orçamento de quase R$ 14 bilhões neste ano


Com as agendas prioritárias da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho garantidas, o governo decidiu deslocar Rogério Marinho, que, até a última quinta-feira, era o chefe do órgão, para o Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), responsável pela pauta social do Executivo. Considerado um dos principais articuladores políticos do governo, o ex-deputado não deve se desvincular das metas de ajuste fiscal remanescentes, apresentadas pela equipe econômica, como a simplificação da cobrança de tributos e a revisão das regras do serviço público. A diferença deve ser a forma com a qual ele poderá contribuir.

A saída de um nome imponente não cria um vácuo na pasta da Economia, mas “uma chance de maior interlocução entre dois ministérios muito importantes”, avaliou o analista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma. Enquanto a equipe econômica tem a difícil tarefa de continuar o reordenamento fiscal, cabe ao MDR manter um bom diálogo com estados e municípios. O ex-ministro Gustavo Canuto era classificado como excessivamente técnico e pouco político. “Incomodava muitos parlamentares, que diziam não estar sendo ouvidos”, observou o especialista.

A avaliação do Planalto é de que Marinho tem o perfil ideal para equilibrar as expectativas do Executivo com as limitações do Congresso. “A reforma da Previdência já foi concluída e ele já encaminhou a questão do contrato verde e amarelo. O que falta fica nas mãos de outros interlocutores”, resumiu o cientista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está bastante focado na tributária, lembrou. E o ministro da Economia, Paulo Guedes, aparece na linha de frente da administrativa.

“A missão mais importante de Marinho, a reforma da Previdência, foi concluída. Agora, ele passa a se dedicar a uma área a que o governo quer dar mais atenção”, analisou Noronha. No novo posto, o ex-secretário comanda assuntos que vão desde programas sociais, com destaque para o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a projetos de infraestrutura, a exemplo dos relacionados a saneamento básico. Os dois são, inclusive, excelentes vitrines eleitorais, com potencial de beneficiar o ex-deputado tucano e o presidente Jair Bolsonaro, já de olho em 2022.

Status
Por esse ângulo, “Marinho está no lugar certo”, considerou Creomar de Souza. O novo ministro provavelmente vai tentar se engajar em regularizar as contas do MCMV, a demanda de parlamentares ligados à construção civil, e a defesa do novo marco do saneamento básico, aprovado em dezembro pela Câmara, mas ainda pendente de aval do Senado. “Em geral, à medida em que pautas econômicas avançam, é hora de focar em questões sociais”, explicou Souza.

O dinheiro do MDR também é usado no pagamento de emendas orçamentárias e convênios — o que, em ano de eleições municipais, eleva a pasta ao status de uma das mais influentes, do ponto de vista político. Passa a ser responsabilidade de Marinho gerir um orçamento de quase R$ 14 bilhões neste ano. Mas, por melhores que sejam as intenções, o contexto fiscal deve ser um obstáculo para que ele consiga implementar mudanças expressivas.

“Com o orçamento muito apertado, como está, a pasta pode acabar não tendo tanta relevância quanto se espera. Mesmo se forem para a frente as políticas de ajuste, não sobra dinheiro”, frisou o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ainda assim, de acordo com ele, é um ministério que costuma ter ainda mais importância, principalmente no Nordeste, em ano eleitoral.

“Com o orçamento muito apertado, como está, a pasta pode acabar não tendo tanta relevância quanto se espera. Mesmo se forem para a frente as políticas de ajuste, não sobra dinheiro”
Sérgio Praça, cientista político


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