Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 04:04
O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, investigado por envolvimento nos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, foi morto ontem em confronto com a polícia da Bahia, anunciaram as autoridades do estado. Foragido havia mais de um ano, Adriano “foi localizado pela polícia na zona rural da cidade de Esplanada”, a 170 km de Salvador, informou a Secretaria de Segurança estadual, em comunicado de imprensa. O miliciano também era próximo de um ex-assessor do então deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).
“No momento do cumprimento do mandado de prisão, ele resistiu com disparos de arma de fogo e terminou ferido. Ele chegou a ser socorrido para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos”, diz o informe, que detalha que quatro armas foram encontradas na casa onde o suspeito estava escondido, entre elas, uma pistola austríaca calibre 9mm. “Buscamos efetuar a prisão, mas o procurado preferiu reagir atirando”, afirmou o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados na noite de 14 de março de 2018 na região central do Rio. A vereadora negra de 38 anos — identificada com a defesa da minoria LGBT e com as denúncias de violência policial nas favelas — voltava para casa depois de participar de um debate com jovens negras, quando seu carro foi baleado.
Dois ex-policiais militares foram presos sob a suspeita de serem os autores do crime: Ronnie Lessa, de 48 anos, suspeito de ter feito os disparos, e Elcio de Queiroz, de 46 anos, suposto motorista do carro que perseguiu o das vítimas. Até o momento, ninguém foi oficialmente apontado como autor intelectual do assassinato, mas a principal suspeita recai sobre o “Escritório do Crime”, milícia que seria liderada por Adriano.
Ex-capitão do Bope, batalhão de elite da polícia militar do Rio de Janeiro, ele recebeu em 2005 a medalha Tiradentes, por iniciativa do então deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro. Além disso, Adriano trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, ex-assessor do gabinete de Flávio que é investigado pelo Ministério Público do Rio por lavagem de dinheiro, no esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa. Familiares de Adriano, como a mãe e a mulher dele, trabalharam no gabinete e teriam sido contratadas por Queiroz. Segundo o Ministério Público, o miliciano ficava com parte do pagamento delas.
Queima de arquivo
A morte de Adriano causou indignação a correligionários de Marielle Franco. Em comunicado oficial, a Executiva Nacional do PSol exigiu esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte do miliciano e garantiu que vai solicitar uma audiência com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para obter mais informações sobre o ocorrido. “Adriano da Nóbrega era peça chave para revelar diversos crimes, incluindo aqueles envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro. Avaliaremos medidas que envolvam autoridades nacionais. Seguimos exigindo respostas e transparência para pôr fim à impunidade”, informou a direção da legenda.
Deputados federais filiados ao partido também protestaram. Muitos falam em “queima de arquivo”. “Adriano da Nóbrega era aliado do clã Bolsonaro e líder do grupo de extermínio Escritório do Crime, acusado de matar Marielle Franco. Queima de arquivo? Mais uma tentativa de obstrução da justiça? Quem mandou matar a nossa companheira? Em quais circunstâncias morreu esse ex-sócio do clã Bolsonaro? Exigimos respostas”, reclamou Sâmia Bomfim (PSol-SP), na sua conta do Twitter.
Ivan Valente (PSol-SP) questionou: “Quem se beneficia com a morte de Adriano da Nóbrega?”. “Miliciano morto, Adriano da Nóbrega era peça chave para esclarecer quem mandou matar Marielle. Íntimo da família Bolsonaro e de Queiroz, sua mulher e mãe foram funcionárias do Flávio. Investigações sobre crimes do clã Bolsonaro se arrastam, agora devem ficar ainda mais morosas”, alertou o parlamentar.
David Miranda (PSol-RJ) cobrou esclarecimentos até do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. “O ministro Sergio Moro e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), devem explicações sobre essa operação desastrosa e, por que não dizer, bastante suspeita. Queima de arquivo?”, questionou.
Na contramão dos colegas, Marcelo Freixo (PSol-RJ) enviou um áudio para amigos afirmando que Adriano “não tem nenhuma relação com a morte da Marielle”. “Não há o menor indício de envolvimento do Adriano no caso (da morte de Marielle). O Adriano tinha de ser investigado pelo envolvimento com a família Bolsonaro, por muitas razões”, diz o deputado federal na gravação.
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