Correio Braziliense
postado em 21/02/2020 12:30
Forças de segurança de ao menos 12 Estados pressionam os governos locais por aumentos salariais. Em cinco deles, policiais já realizaram atos ou paralisações neste mês. A situação é mais grave no Ceará, onde o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado na quarta-feira, 19, ao tentar entrar com um trator em um quartel amotinado. PolÃticos ligados à bancada da bala e ao bolsonarismo apoiam movimentos no Ceará, EspÃrito Santo e ParaÃba, garantindo respaldo à s demandas dos policiais.
O levantamento foi feito com base em redes sociais e informações de entidades de classe.
No Ceará, protestos de policiais por melhores salários começaram em dezembro. Mascarados depredaram viaturas e tomaram quartéis. A Associação das Praças do Estado (Asprace), que vinha negociando com o governo, publicou nota informando que, diante de decisão judicial, não estava "promovendo atos grevistas". Segundo policiais ouvidos pelo Estado, os PMs tiveram apoio de polÃticos locais para ocupar o 3º Quartel da PM na quarta-feira.
O vereador Sargento Ailton (SD) ficou dentro do prédio até a hora em que Cid foi baleado e publicou, na internet, entrevistas e vÃdeos em que destacava a paralisação das viaturas e negava a ilegalidade da ação. Apoiador de Bolsonaro nas eleições, o sargento não foi localizado.
Outro integrante da bancada da bala que tem acompanhado as negociações entre governo e policiais no Ceará, o deputado federal Capitão Wagner (Pros-CE) já liderou uma greve da PM em 2011. Segundo ele, as entidades de classe queriam assinar o acordo, mas os praças não aceitaram, o que levou ao motim. Em 2016, ele chegou ao segundo turno da eleição para prefeito de Fortaleza, cargo que é cotado para disputar novamente.
Apontado por autoridades cearenses como um dos principais apoiadores da greve, o deputado estadual André Fernandes (PSL), eleito com bandeiras de apoio a policiais e bombeiros, almoçou com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto na quarta. Ele não foi localizado para comentar.
No EspÃrito Santo e na ParaÃba, polÃticos da bancada da bala também são acusados de inflar os protestos. Nesses locais, entidades têm até recusado propostas superiores à s oferecidas ao restante do funcionalismo.
Um dos lÃderes do movimento de aquartelamento de PMs no EspÃrito Santo em 2017, o deputado estadual Capitão Assumção, também cotado para as eleições municipais, tem defendido os policiais na Assembleia e falado publicamente sobre a possibilidade de paralisação. Na semana passada, uma manifestação de policiais civis, militares e bombeiros reuniu 1,5 mil pessoas em Vitória.
A PolÃcia Militar recusou uma proposta do governo de aumentos salariais que somariam 35% em quatro anos. "Estamos tentando fazer com que as entidades entendam que não podem ser usadas como massa de manobra", disse o secretário estadual de Governo, Tyago Hoffmann. "Tem deputados que tentam obter ganhos polÃticos com isso." A Secretaria de Segurança Pública capixaba informou que mantém diálogo constante.
Na quarta-feira, PMs e civis da ParaÃba fizeram uma paralisação de 12 horas. Mascarados circulavam entre os grevistas ameaçando quem queria trabalhar e furando pneus de viaturas. A Secretaria de Segurança Pública diz que se articula para manter o diálogo.
No PiauÃ, quarto Estado que já registrou protestos, cerca de cem servidores da área de segurança pública se reuniram em frente à sede do governo estadual há três dias. Em resposta, o governador Wellington Dias (PT) aumentou o pagamento de operações especiais de R$ 100 para R$ 150 em dias de semana, e R$ 200 nos finais de semana. "O porcentual de ajuste será acima da inflação", disse o governo, em nota. Também houve protestos em Sergipe.
Presidente da Associação Nacional de Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares (Anermb), o sargento Leonel Lucas se diz preocupado com o acirramento de ânimos nos quartéis. "Os caras ficam revoltados: 'Olha, temos de fazer a mesma coisa lá do Ceará'."
Negociações
Levantamento feito com base em redes sociais e informações de entidades de classe aponta que há outros sete Estados em que policiais civis e militares travam embates públicos com o governo em busca de melhor remuneração, embora não tenham feito atos ou paralisações. Há demandas em Amazonas, Pernambuco, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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