Politica

Moro: tudo em ordem no CE. Mas mortes continuam

Ministro da Justiça, com comandante da Defesa e advogado da União, visita Fortaleza para acompanhar a atuação das tropas federais. Afirma que assassinatos começaram a cair assim que GLO foi decretada. Só que, desde que motim de policiais começou, são 147 homicídios

Correio Braziliense
postado em 25/02/2020 04:15
Junto dos ministros e do advogado da União, Camilo reafirmou que a proposta do governo está no limite daquilo que pode ser oferecido. E garantiu que não negociará com amotinados


O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, garantiu ontem que a situação no Ceará “está sob controle” e que “não há uma situação de absoluta desordem nas ruas”. Mesmo diante da alta de crimes — números da Secretaria da Segurança Pública cearense contabilizam 147 homicídios desde a deflagração do movimento paredista —, ele disse que, desde a chegada das tropas a Fortaleza, a quantidade de homicídios por dia está em queda: na sexta-feira passada, foram 37; no sábado, 34; e no domingo, 25. Números do estado, porém, destacam que a média é de 29 mortes violentas diariamente.

“As forças estão aqui subsidiariamente para atender a uma situação que nós entendemos ser temporária e que deve ser resolvida brevemente. Existe um indicativo de aumento de alguns crimes mais violentos, mas não há uma situação de absoluta desordem nas ruas. As pessoas estão nas ruas, nós circulamos nas ruas. Não existem, por exemplo, saques a estabelecimentos comerciais, nem nada disso. A situação está sob controle, claro, dentro de um contexto relativamente difícil em que parte da polícia estadual está paralisada”, analisou Moro, em coletiva no Palácio da Abolição, sede do governo estadual.

Segundo Moro, “o governo federal veio para serenar os ânimos, não para acirrar. Os policiais do país inteiro, não só do Ceará, são profissionais dedicados, que arriscam suas vidas, são profissionais que devem ser valorizados. É o momento de servir e proteger, acalmar os ânimos. Serenar é importante, temos que colocar a cabeça no lugar e pensar o que é preciso para que os policiais possam voltar a realizar o trabalho”, afirmou, depois de sobrevoar Fortaleza ao lado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e do advogado-geral da União, André Luiz Mendonça.

A comitiva visitou Fortaleza para acompanhar a atuação das tropas da Força Nacional, do Exército e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), formadas por aproximadamente 2,9 mil soldados e agentes, que foram deslocadas para a capital do Ceará para tentar conter o motim de policiais militares no estado. Há oito dias, integrantes da corporação que pedem reajuste nos salários cruzaram os braços e, desde então, têm promovido uma série de atos de protesto contra o governo local. Outro reflexo da insurreição de policiais foi a invasão de batalhões da PM: em Fortaleza, ao menos três seguem tomados pelos amotinados.

A princípio, os grupamentos do Exército permanecem no Ceará até a próxima sexta-feira, prazo estabelecido pelo presidente Jair Bolsonaro ao assinar a Garantia de Lei e de Ordem (GLO), que deu aval à atuação das Forças Armadas em Fortaleza e na região metropolitana. As tropas da Força Nacional e da PRF,  por sua vez, ficarão no mínimo até a terceira semana de março. De acordo com Moro, o principal objetivo é garantir a segurança da população. Por enquanto, está descartada a atuação das equipes para a reintegração de posse dos batalhões invadidos.

“Nós temos que colocar a cabeça no lugar e pensar o que é necessário daqui em diante para solucionarmos essa crise específica, para voltarem os policiais a realizar seu trabalho. O governo veio para permitir que o estado possa resolver essa situação, sem que, nesse lapso temporal, a população fique desprotegida”, afirmou o ministro.

“Folhear a Constituição”
O ministro Fernando Azevedo reforçou o discurso de Moro. “As tropas da Defesa terão como principal missão a ordem pública e a segurança das pessoas e do patrimônio. Desde a Rio-92, nós já realizamos 140 operações de GLO. Então, acho que as Forças Armadas sempre deram uma resposta efetiva àquilo que os governadores, o país e a população solicitaram. Esta é mais uma”, analisou.

Para ele, o movimento dos PMs manifestantes no Ceará é ilegal. “Qualquer instituição fardada, seja ela das Forças Armadas, seja da Polícia Militar, tem que folhear a Constituição. Ela é baseada na hierarquia e na disciplina, e é vedado o direito de greve e de associações com fim político. Essa é a lei”, afirmou Azevedo.

Segundo André Luiz Mendonça, a expectativa do governo federal é de que a situação da segurança no Ceará seja solucionada o mais rapidamente possível. “Queremos conclamar àquelas pessoas que estão envolvidas que adotem uma postura de retração desse movimento. A população do Ceará é quem sofre. E ela precisa confiar nas suas instituições e, entre elas, a polícia”, observou o advogado-geral da União. “O exemplo de todos os integrantes desse movimento é importante”, completou.

Episódio com Cid Gomes deflagrou envio das tropas

O envio dos agentes da Força Nacional e do Exército foram determinados, respectivamente, pelo ministro Sergio Moro e pelo presidente Jair Bolsonaro, a pedido de Camilo Santana, depois que o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado em Sobral, interior do estado, quando tentou furar um bloqueio de amotinados a bordo de uma retroescavadeira. Levou dois tiros de amotinados usando balaclavas, que ainda não foram identificados. No domingo, o parlamentar deixou o hospital para continuar o tratamento em casa. As duas balas e mais um fragmento continuam no corpo de Cid, que não vai tirá-los por determinação dos médicos que o acompanharam.

“Os policiais do país inteiro, não só do Ceará, são profissionais dedicados, que arriscam suas vidas, são profissionais que devem ser valorizados (…) Temos que colocar a cabeça no lugar e pensar o que é preciso para que os policiais possam voltar a realizar o trabalho” 
Sérgio Moro, ministro da Justiça

“Qualquer instituição fardada, seja ela das Forças Armadas, seja da Polícia Militar, tem que folhear a Constituição. Ela é baseada na hierarquia e na disciplina, e é vedado o direito de greve e de associações com fim político. Essa é a lei” 
Fernando Azevedo, ministro da Defesa

“Sentamos e negociamos com as classes dos policiais, que saíram da reunião satisfeitos com o que foi fechado. Sempre permitimos o diálogo. O que não podemos permitir é que grupos da segurança façam o que estão fazendo (...). Ninguém está acima da lei” 
Camilo Santana, governador do Ceará


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