Politica

Bolsonaro estica a corda

Até então equidistante da manifestação que seus apoiadores estão convocando para 15 de março, presidente compartilha vídeo no qual, em tom salvacionista, acusa o Congresso e o STF de tramarem contra seu governo. E exorta a se unirem a ele

Correio Braziliense
postado em 26/02/2020 04:03
Bolsonaro foi razão de críticas até no carnaval alemão. Foi retratado como um governante descompromissado com a preservação do meio ambiente


Alvo de críticas de escolas de samba e de blocos carnavalescos, em várias partes do país, o presidente Jair Bolsonaro decidiu reagir de uma forma surpreendente. Ele disparou do próprio celular, pelo WhatsApp, vídeo com uma convocação para as manifestações de 15 de março, organizadas por seus apoiadores, para supostamente defender o governo e protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Segundo a legenda da gravação, os outros dois poderes da República seriam parte dos  “inimigos do Brasil”.

O vídeo mostra a facada que Bolsonaro recebeu em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral de 2019, para dizer que ele “quase morreu” para defender o país e que, agora, precisa das ruas para defendê-lo. No texto que envia com a montagem, o presidente escreveu: “15 de março. Gen Heleno/Cap Bolsonaro. O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”.

“Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira”, diz um trecho da legenda do vídeo.

A gravação, revelada pela jornalista Vera Magalhães, do jornal O Estado de S.Paulo, tem 1m40, e usa o Hino Nacional como trilha sonora. O post da repórter teve grande repercussão nas redes sociais. Questionada sobre o vídeo, a assessoria do Palácio do Planalto se limitou a dizer que “não comentará a publicação”.

Dias atrás, um comentário do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, deixou clara a animosidade do Palácio do Planalto com o Congresso, quando chamou senadores e deputados de “chantagistas”.

Reações
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a atitude de Bolsonaro. “A ser verdade, como parece, que o próprio PR (presidente da República) tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia), estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar”, tuitou.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) escreveu em apoio à manifestação: “Nem adianta tentar atrapalhar ou vir de mimimi. É para reafirmar o apoio ao nosso presidente Jair Bolsonaro, ao general Heleno, é pelo Brasil!”

O general Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, rejeitou qualquer associação do Exército a atos que desrespeitam os poderes constitucionais. “Irresponsabilidade. Exército Brasileiro — instituição de Estado, defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má-fé, mentir, enganar a população”, tuitou.

O tuíter oficial do MDB lembrou: “Sempre bom ressaltar — artigo 2º da Constituição Federal: ‘São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

O PSDB seguiu em direção semelhante: “Em todos os momentos de ameaça de ruptura às instituições, não importa de quem venha, o PSDB está no mesmo lugar: na defesa intransigente da democracia. É o que fazemos nesse momento”. Para o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), Bolsonaro não cometeu crime de responsabilidade.

 “Não há nada de crime de responsabilidade. Havia dito isso na ocasião do vídeo do Carlos Bolsonaro (vereador pelo PSC-RJ) com as hienas. Na verdade, o ato de 15 de março não é contra o Congresso Nacional, mas contra os presidentes do poder Legislativo, no caso o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Eles, por muitas vezes, trabalham contra as pautas importantes do presidente Bolsonaro para o país. Em nenhum momento, o presidente atacou o Congresso ou o Supremo ou propôs o fechamento dessas duas instituições”, disse o deputado.

“A ser verdade, como parece, que o próprio PR tuitou (...), estamos com uma crise institucional“ 

Fernando Henrique Cardoso

“Em nenhum momento, o presidente atacou o Congresso ou o Supremo ou propôs o fechamento” 

Deputado Carlos Jordy (PSL-RJ)

“Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má-fé” 

General Santos Cruz

“Sempre bom ressaltar — artigo 2º da Constituição Federal: ‘São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário’” 

Tuíte do canal oficial do MDB


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