Correio Braziliense
postado em 29/02/2020 04:04
O presidente Jair Bolsonaro encheu as redes sociais de informações contraditórias a respeito do vídeo que divulgou convocando a população para manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Uma das mensagens que ele encaminhou a contatos no WhatsApp diz que o Brasil não é “dos políticos de sempre”. A atitude abalou mais a relação do Executivo com os demais poderes. Na tentativa de amenizar a controvérsia, Bolsonaro adotou versões distintas: afirmou que se tratava de uma mensagem de cunho pessoal, depois argumentou que não causaria “problema nenhum com o Congresso” e, por último, disse que a postagem se refere a manifestações de 2015. Ele liberou, na noite de quinta-feira, um vídeo para corroborar sua afirmação, mas que nada tem a ver com o compartilhado por ele com contatos.
O vídeo convocando para os protestos do mês que vem contém imagens do atentado à faca sofrido por Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), durante a campanha presidencial de 2018. O texto afirma que o chefe do Executivo “está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária” e que ele é a “única esperança de dias cada vez melhores”. “Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil”, diz um dos trechos.
Além do vídeo, convocações nas redes sociais incluíram montagens com imagens de militares, entre os quais o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional GSI, general Augusto Heleno, pedindo a saída dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Com um dia de atraso, tanto Mourão quanto Heleno repudiaram o uso das respectivas imagens no banner. “Não autorizei o uso de minha imagem por ninguém, mas protestos fazem parte da democracia, que não precisa de pescadores de águas turvas para defendê-la. O presidente JairBolsonaro não atacou as instituições, que estão funcionando normalmente”, argumentou Mourão em seu perfil no Twitter. “Atenção: estão usando meu nome, indevidamente e sem meu conhecimento, para pedir apoio financeiro a empresários e amigos, em prol de propaganda e/ou de manifestações políticas. Alerto a todos que jamais faria isso ou autorizaria tal procedimento”, postou Heleno.
Na live de quinta-feira, Bolsonaro negou que tenha incitado atos contra o Congresso e disse que espera um parlamento atuante e independente, mas reclamou que os projetos do Executivo não caminham nas Casas legislativas. Com essa animosidade, há receio no governo de que o presidente perca o tímido apoio que tem entre congressistas.
Reunião
Na reunião de líderes partidários na Câmara, marcada para terça-feira, deputados debaterão uma resposta ao presidente. Parlamentares da oposição chegaram a falar em impeachment, mas uma eventual denúncia por crime de responsabilidade não está na pauta do encontro, mas, sim, uma medida consensual.
Rodrigo Maia se posicionou de forma ponderada a respeito do vídeo, evitando, assim, atrito maior com o Executivo. “Somos nós, autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional. O Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir. Só a democracia é capaz de absorver, sem violência, as diferenças da sociedade e unir a nação pelo diálogo. Acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas”, escreveu no Twitter durante a semana.
No Senado, parlamentares reclamam do silêncio de Davi Alcolumbre sobre o assunto e cobram um posicionamento dele. Os senadores preferiram não opinar sobre como deveria ser a resposta a Bolsonaro, porque aguardam justamente uma atitude do presidente da Casa. Já entre os membros do STF, a posição mais severa foi a do decano Celso de Mello. “Essa gravíssima conclamação, se realmente confirmada, revela a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático”, divulgou, em nota.
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