Politica

Convocação de Bolsonaro para protestos irrita Congresso e STF

Em Boa Vista, Bolsonaro chama a população para as manifestações do dia 15 de março e diz que político que tem medo de movimentos de rua " serve para ser político". Cúpulas de Legislativo e Judiciário se indignam com o gesto

Correio Braziliense
postado em 08/03/2020 06:00

Analistas avaliam que o tamanho do apoio ao ato da próxima semana pode reforçar a tese de que o governo ganha as disputas quando radicalizaO presidente Jair Bolsonaro convocou, no sábado (7/3), em Boa Vista, a população a comparecer às manifestações marcadas para 15 de março. Segundo ele, “político que tem medo de movimentos de rua não serve para ser político”.

 

Antes de seguir para a Flórida, ele realizou uma escala de 1h30 na capital de Roraima, onde se encontrou com políticos locais para tratar de temas de interesse do estado — como a demarcação e o garimpo em terras indígenas, a retomada da obra do Linhão de Tucuruí e a Operação Acolhida, que visa receber refugiados venezuelanos. Bolsonaro postou um trecho do encontro nas redes sociais e garantiu que o ato não visa a atacar o Congresso ou o Judiciário, apesar de as cúpulas do Legislativo e Jdsos tribunais terem reagido irritadas, segundo interlocutores.

 

“Não é fácil. Já levei 'facada no pescoço' dentro do meu gabinete de pessoas que só pensam nelas, não pensam no Brasil. Essa é uma grande realidade. Dia 15 agora, tem um movimento de rua espontâneo. É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimentos de rua não serve para ser político. Então, participem. Não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil, é um movimento que quer mostrar para todos nós — presidente, poder Executivo, poder Legislativo, poder Judiciário — que quem dá o norte para o Brasil é a população”.

 

Em um outro trecho, Bolsonaro afirmou que o ato é muito bem-vindo. “Nós estamos submissos à lei. Como diz o artigo 5º, todos podem se reunir pacificamente, bastando apenas comunicar à autoridade competente. Participem e cobrem de todos nós o melhor para o Brasil. Nós temos obrigação de atendê-los. Não é favor da nossa parte. Ninguém tem que se preocupar. Quem diz que é um movimento popular contra a democracia está mentindo, e tem medo de encarar o povo brasileiro”, concluiu.

 

A nova manifestação de Bolsonaro irritou os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Segundo fontes que preferiram o anonimato, os três não esconderam o descontentamento com a exortação, que classificaram como inadequada. O senador conversou com o chefe do Judiciário e teriam alinhavado que, caso rebatessem a conclamação do presidente da República, o fariam conjuntamente. Mas, à noite, Toffoli descartou o posicionamento a quatro mãos — disse que o papel da Corte é “mediar e pacificar”.

 

Cortina de fumaça

Lideranças na Câmara dos Deputados também reagiran à convocação do presidente e classificaram-na como uma tentativa do governo de criar uma “cortina de fumaça” para o desempenho ainda baixo do crescimento econômico do país. “Acho que o presidente, em vez de insuflar manifestações, deveria estar construindo condições para concentrar os esforços na solução do que realmente interessa”, avaliou o líder do Democratas na Câmara, Efraim Filho (PB).

 

Para o parlamentar, o foco da agenda do país não pode ser a “disputa entre poderes”. Na avaliação dele, a agenda prioritária é a retomada do crescimento econômico. “A agenda do Brasil hoje é a da retomada do desenvolvimento, da recuperação dos empregos e do enfrentamento da epidemia do coronavírus”, disse.

 

O líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR), afirmou que Bolsonaro usa a convocação para as manifestações como manobra para tirar o foco do mau desempenho da economia. “Ele precisou retomar porque quer ofuscar os resultados econômicos que nós tivemos. Afinal de contas, PIB de 1,1%, dólar chegando a R$ 5, Bolsa de Valores como está, nós sabemos que não é só coronavírus”, afirmou, acrescentando que a convocação é para “desviar a atenção”.

 

A deputada Talíria Petrone (PSol-RJ) disse que os protestos do dia 15 são contra as instituições democráticas e favoráveis ao autoritarismo. “Bolsonaro inflama mais sua base para os atos dia 15”, afirmou, por meio do Twitter.

 

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), destacou a tentativa de Bolsonaro de emparedar Legislativo e Judiciário. “Todos sabem que o ato do dia 15 visa constranger o Congresso e o Supremo. A convocação de Bolsonaro para esse evento é fato gravíssimo”, afirmou.

 

 

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