Politica

Bolsonaro compara presença em manifestação a usar transporte público em SP

De máscara, o presidente fez coletiva ao lado dos ministros para pedir calma

Correio Braziliense
postado em 18/03/2020 18:10

De máscara, o presidente fez coletiva ao lado dos ministros para pedir calmaO presidente da República, Jair Bolsonaro, usou a coletiva de imprensa para pedir calma aos brasileiros e anunciar as medidas do governo para lidar com as crises na Saúde e Economia provocadas pelo Coronavírus. Mas não apenas. Também voltou a disparar críticas contra a jornalista Vera Magalhães, justificou a própria presença nas manifestações de 15 de março, quando, mesmo em isolamento, deixou o Palácio do Planalto para cumprimentar apoiadores, e afirmou que não convocou os movimentos, embora tenha pedido, no sábado anterior, que a população fosse às ruas. Mais de uma vez, o presidente agradeceu, também, a disposição dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e do STF, José Dias Toffoli, em buscar soluções para amenizar os prejuízos causados pelo Coronavírus. 

 

Bolsonaro começou explicando por que a equipe estava usando máscara na coletiva. Segundo o presidente, o motivo são os testes positivos para o vírus tanto do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Algunsto Heleno, quanto do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque. “Evidentemente, o cuidado nosso tem que ser redobrado”, afirmou o presidente que, em seguida, fez um breve histórico do avano do corona pelo mundo. “Isso começou por volta de outubro, novembro do ano passado, na China. Num primeiro momento, ninguém ficou preocupado com isso. Mas, em janeiro, o vírus começou a se propagar em vários lugares do mundo”, disse.

 

“O Brasil teve, efetivamente, uma notícia vultosa quando poucas dezenas de brasileiros que estavam na China buscaram pelo governo para que fossem resgatados. Essa missão foi bem cumprida. Foram resgatados com sucesso, submetidos a quarentena e devolvidos aos lares. A luz amarela do governo surgiu naquele momento. Todos os ministros foram avisados para se preocupar. O que fazer quando o vírus chegasse ao Brasil? Sabíamos que chegaria. É como conter uma expansão do mesmo de forma abrupta. Não tem vacina para o mesmo. Deveríamos nos preparar, mesmo sem ter recursos. Mesmo com um apelo para que todos os poderes agirem na mesma direção, começamos a nos preparar”, recordou Bolsonaro.

 

O presidente afirmou que, em debates sobre o que fazer, chegou a se falar sobre suspender o carnaval. É nesse momento que Bolsonaro fala nas manifestações do último domingo. “Vários eventos aconteceram nos últimos dias, pré dia 15, inclusive, onde grande concentração de pessoas, das mais altas autoridades do Brasil se fizeram presentes. Como no lançamento dessa nova TV, a  CNN. Outros eventos ocorreram também. Eu fui convencido a fazer um pronunciamento, de forma bastante tranquila, sobre o dia 15 na quinta-feira anterior. Eu fiz. O povo, em grande parte, resolveu, por livre e espontânea vontade comparecer às ruas. Essa concentração no Brasil foi abaixo de 1milhão, ou próximo. Isso equivale a menos de 20% das concentrações diárias no município de São Paulo (SP) por ocasião dos transportes coletivos”, justificou.

 

“Por volta de 12h do dia 15, vim aqui a esse prédio, e cumprimentei os brasileiros que estavam aí fora, em grande parte, meus eleitores. Estive ao lado do povo sabendo dos riscos que eu corria. Mas nunca abandonarei o o povo brasileiro, ao qual eu devo lealdade absoluta. Após isso, grande parte da mídia potencializou em cima desse evento. Como se fosse o único e tivesse sido programado por mim. Não convoquei ninguém. Não existe nenhum áudio, me uma imagem minha convocando para o dia 15 de março. Existe sim, um vídeo eu convocando para 15 de março de 2015, uma manifestação contra a presidente naquele momento. Vídeo esse que foi largamente explorado por parte de uma jornalista inconsequente, como se fosse 15 de maro de 2020”, argumentou.

 

Na verdade, o presidente divulgou, por Whatsapp, para apoiadores, dois vídeos diferentes convocando para as manifestações do último domingo, movimentos contrários ao Congresso e ao STF. Depois que a convocação veio à tona, é que Bolsonaro atribuiu as mensagens que enviou ao terceiro vídeo, esse sim, de 2015, e que ele postou nas próprias redes sociais. Ainda assim, o presidente insistiu nas contradições. “Agora, com a realidade posta, com os riscos que parcela da população podem vir a sofrer, nós externamos toda a nossa preocupação, bem como estamos tendo apoio incondicional por parte da Câmara e do senado, de todas as medidas que por ventura se façam necessárias para que esse problema seja atenuado”, afirmou.

 

Bolsonaro também negou que tenha problemas com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que está a frente das ações de contenção do vírus. “O que nós buscamos é estender, alongar o prazo daqueles que porventura, contrairão o vírus, já que não existe vacina. O nosso sistema de saúde não tem condições de acolher uma quantidade considerável de infectados. Em especial, as pessoas mais idosas ou com certas deficiências.

Medidas

Bolsonaro afirmou que, por parte da economia, o despacho que solicita ao Congresso que decrete estado de calamidade pública poderá garantir medidas para a saúde e emprego da população. Anunciou, ainda, R$ 84 bilhões destinados à população vulnerável, R$ 60 bi para manutenção de empregos, antecipação das parcelas do 13º salário, reforço no programa Bolsa Família, integrando mais de R$ 1 milhão e atraso para o recolhimento do fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS), “o que equivale ao governo arrecadar menos R$ 30 bilhões”, explicou o presidente

 

Anunciou, ainda, o atraso, também, na cobrança do Simples Nacional por três meses, redução para zero das alíquotas dos produtos médicos, desoneração temporária de IPI para produtos de combate ao Coronavírus, medida de apoio para trabalhadores autônomos, linhas de crédito do Banco do Brasil no valor de R$ 24 bilhões para linha de crédito pessoal e R$ 48 bilhões para linha de crédito para empresas. Na área de infraestrutura, o presidente falou em ações emergenciais na aviação civil. “Devemos, de uma forma ou de outra, socorrê-los. O desemprego, a quebra das empresas, não nos interessa. Seria muito pior para todos nós”, destacou o presidente.

 

Na área de segurança pública, Bolsonaro anunciou o fechamento de fronteiras, em especial a Venezuela. E no âmbito do Ministério de Relações Exteriores, o trabalho de resgate de turistas que estão fechados em outros países e querem voltar para o Brasil. “O apoio que estamos dando é junto às embaixadas. No Peru, temos 1,4 mil turistas com problemas para voltar pra cá. O ministério já conseguiu, por parte do governo do Peru, que aeronaves fretadas possam pousar e decolar com esses brasileiros que lá estão”, afirmou o presidente. 

Perguntas e respostas

O tema das manifestações voltou diversas vezes à coletiva no momento em que foi aberto aos jornalistas para fazerem perguntas. Assim como fez com os vídeos, Bolsonaro reformou sua afirmação a respeito do que considerava “histeria” em cima do vírus. À época, em entrevista para uma rádio, o presidente afirmou que, no próximo fim de semana, faria uma “festinha” para comemorar o aniversário de 65 anos. O presidente tentou ligar o que chamou de “histeria” às críticas que recebeu após participar das manifestações em 15 de março.

 

 

“Esse sentimento de histeria passou a acontecer depois do dia 15 de março. Minha obrigação como chefe de Estado é se antecipar a problemas, levar a verdade à população, mas que essa verdade não ultrapasse o limite do pânico. Assaremos por isso. Já tivemos problemas mais graves no passado, que não teve essa comoção toda, ou repercussão por parte da mídia brasileira. O momento é de união, reflexão e buscar soluções. A verdade está aí. É uma questão grave, mas não podemos entrar no campo da histeria. Esse é meu pensamento e minha função como chefe de Estado é levar paz e tranquilidade a todos. Sem deixar de se preocupar com as consequências do que está se aproximando. Tudo que fiz foi levar tranquilidade ao povo. É grave, é preocupante, mas não chega ao campo da histeria e comoção nacional”, afirmou Bolsonaro.

 

O panelaço contra o presidente, marcado para às 20h30 de hoje, também foi assunto tratado. Bolsonaro afirmou que qualquer manifestação democrática é válida, mas voltou a anunciar um suposto panelaço a favor do governo às 21h. Ele criticou a TV Globo, que chamou de parcial, por não ter anunciado o movimento favorável ao Executivo federal. “Não interessa o que está acontecendo, qualquer manifestação nas ruas ou dentro de casa, com panelaço, devemos entender como pura manifestação da democracia”, disse.

 

Questionado se, após os exames positivos para o Coronavírus entre ministros, o presidente acredita que errou ao deixar o Palácio do Planalto para falar com manifestantes, Bolsonaro respondeu indiretamente a pergunta. O presidente disse que o teste já havia dado negativo. Porém a informação de que Bolsonaro estaria livre do vírus só foram divulgadas na segunda-feira, horas depois de ele deixar o prédio. “Quando fui no domingo aqui na rampa desse prédio, não fui a rua, eu não estava infectado. Já tinha parecer dando como negativo. Vejo muitas vezes jornalistas na frente de batalha, como já vi na Guerra do Iraque, entre outros momentos. É arriscado, mas é o papel de vocês. Eu, como chefe do Executivo, tenho que estar na frente, junto com meu povo. Não se surpreenda se você me ver, nos próximos dias, entrando no metrô lotado em São Paulo, em uma barcaça na travessia Rio-Niterói em horário de pico, ou dentro de um ônibus em Belo Horizonte. Isso, longe de demagogia ou populismo. É uma demonstração de que eu preciso estar ao lado do povo”, respondeu.

 

Vale lembrar que o presidente esteve próximo do general Augusto Heleno, que testou positivo para o Coronavírus e, por isso, precisará refazer os testes. Se agir como afirmou, estará, novamente, quebrando o protocolo de isolamento determinado pelo Ministério da Saúde. O presidente voltou a falar que não usou da palavra para falar contra o Congresso ou o Supremo no que diz respeito às manifestações. “Muito pelo contrário. Se tiver que falar em público, falarei da importância dessas duas instituições para o destino do nosso país, e em especial, pelo papel de defesa da democracia que eles exercem. E as possíveis diferenças que possam haver entre um ou outro integrante do Executivo, da minha parte, vocês não viram até o momento, nem uma só crítica minha ao longo desses 15 meses. A não ser ao vivo, agora, junto à CNN, no último domingo, que eu falei algumas poucas palavras, mas em momento nenhum, fiz agressão ou ofensa a qualquer um desses poderes. Devemos buscar a harmonia”, disse. 

 

 

 

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