Correio Braziliense
postado em 19/03/2020 04:11
Depois de classificar a pandemia de coronavírus de “fantasia” e reiterar que estava havendo um superdimensionamento da doença no Brasil — provocado pela mídia, segundo acusou —, o presidente Jair Bolsonaro surgiu de máscara na coletiva de imprensa que deu ontem, no Palácio do Planalto, acompanhado de oito ministros. Entretanto, no decorrer do ato, convocado para comentar sobre as ações contra a Covid-19, o chefe do Executivo e demais integrantes da mesa tiraram o equipamento de proteção recorrentemente.
A atitude de Bolsonaro e ministros contraria orientações do Ministério da Saúde, segundo o qual, o uso da máscara é recomendado apenas por pessoas com sintomas do coronavírus e profissionais da saúde em atendimento. Porém, o próprio titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta, estava de máscara na coletiva. Além disso, todos eles tiraram o equipamento de proteção recorrentemente ao longo da coletiva.
“Estamos usando máscaras porque, além do general Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), que teve contato com alguns aqui, também tivemos positivo o teste do ministro de Minas e Energia, o almirante Bento (Albuquerque). Então, obviamente nosso cuidado deve ser redobrado”, informou Bolsonaro. Os dois ministros anunciaram, ontem, que testaram positivo para o coronavírus.
Bolsonaro reconheceu que, “evidentemente, o cuidado nosso tem que ser redobrado”. No entanto, voltou a frisar que não há motivo para histeria. “Minha obrigação como chefe de Estado é me antecipar a problemas, levar a verdade à população, mas que essa verdade não ultrapasse o limite do pânico. Passaremos por isso. Já tivemos problemas mais graves no passado, que não teve essa comoção toda, ou repercussão por parte da mídia brasileira”, afirmou.
De acordo com ele, o momento é de união, reflexão e buscar soluções. “A verdade está aí. É uma questão grave, mas não podemos entrar no campo da histeria. Esse é meu pensamento e minha função como chefe de Estado é levar paz e tranquilidade a todos. Sem deixar de se preocupar com as consequências do que está se aproximando”, frisou. “É grave, é preocupante, mas não chega ao campo da histeria e comoção nacional.”
Manifestações
Questionado se, após os exames positivos para o coronavírus entre ministros, teria errado ao deixar o Planalto, no domingo, para falar e cumprimentar manifestantes que protestaram contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, o presidente argumentou que seu teste havia dado negativo. Porém, a informação de que ele estaria, de fato, livre do vírus só foi divulgada na noite de terça-feira.
“Quando fui no domingo aqui à rampa desse prédio (Palácio do Planalto), eu não estava infectado. Já tinha parecer dando como negativo. Eu, como chefe do Executivo, tenho de estar na frente, com meu povo”, se defendeu. Os manifestantes foram às ruas, no domingo passado, protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele acrescentou que estava “sabendo dos riscos que corria” e disse que a grande parte da mídia “potencializou” a atitude dele. “Como se fosse o único (ato) e tivesse sido programado por mim. Não convoquei ninguém. Não existe nenhum áudio nem uma imagem minha convocando para o dia 15 de março.” Mas existem áudio e imagem, sim. No último dia 7, em cerimônia em Roraima, ele incitou a participação nas manifestações. “Dia 15, agora, tem um movimento de rua espontâneo. É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimentos de rua não serve para ser político. Então, participem. Não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil”, discursou. Além disso, ele divulgou para apoiadores, por WhatsApp, dois vídeos convocando para os atos.
Ainda assim, o presidente insistiu nas contradições. “Agora, com a realidade posta, com os riscos que parcela da população pode vir a sofrer, nós externamos toda a nossa preocupação, bem como estamos tendo apoio incondicional por parte da Câmara e do Senado, de todas as medidas que porventura se façam necessárias para que esse problema seja atenuado”, afirmou. “Agradeço aos poderes da República pela compreensão e pelo apoio que têm nos dado para buscar, não soluções, que no momento ainda não existem, mas para atenuar esse grave problema que se aproxima.”
Bolsonaro afirmou que, por parte da economia, o despacho que solicita ao Congresso que decrete estado de calamidade pública garantirá medidas para a saúde e o emprego da população (leia reportagens nas páginas 4 e 7)
“Profissionais da saúde”
O ministro Luiz Henrique Mandetta justificou o uso da máscara: “A grande maioria (dos integrantes do governo) está fazendo trabalhos em conjunto. Nós estamos nos comportando como se fôssemos profissionais de saúde. Nós temos uma cadeia de comando de todos os ministérios, e faz parte do planejamento para o enfrentamento da epidemia proteger a cadeia de comando”, disse.
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