Politica

Em tentativa de desculpa, Eduardo Bolsonaro ataca novamente governo chinês

Em postagem no Twitter, Eduardo disse que nunca quis ofender, mas que embaixador não rebateu seus argumentos

Correio Braziliense
postado em 19/03/2020 16:54
Em postagem no Twitter, Eduardo disse que nunca quis ofender, mas que embaixador não rebateu seus argumentosO deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido) utilizou o Twitter na tarde desta quinta-feira (19) para se desculpar com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming após uma postagem na noite de ontem (18) na qual ele indica que a culpa pela pandemia do novo coronavírus é do Partido Chinês Comunista.  A afirmação que causou "repúdio" do embaixador não foi feita por Eduardo Bolsonaro, mas foi republicada pelo deputado, que retuitou o post original, feito pelo youtuber Rodrigo da Silva. 

Eduardo disse que não ofendeu o povo chinês e que ‘tal interpretação é totalmente descabida’. Ele ainda escreveu que ‘compartilhou postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia, principalmente no compartilhamento de informações que teriam sido úteis na prevenção em escala mundial’. No entanto, o filho “03” do presidente da República voltou a atacar o chanceler e disse que o embaixador não rebateu os argumentos colocados por ele.

“Assim, mesmo vivendo numa democracia com ampla liberdade de imprensa e expressão, não identifiquei qualquer desconstrução dos meus argumentos por parte do embaixador chinês no Brasil”, escreveu. O parlamentar ainda emendou dizendo que ‘jamais teve a pretensão de falar pelo governo brasileiro’.

Veja a nota postada pelo deputado na íntegra:

“ NOTA OFICIAL SOBRE AS CRÍTICAS DA EMB. CHINA AO MEU RETWEET LEIA E COMPARTILHE Jamais ofendi o povo chinês, tal interpretação é totalmente descabida. Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia, principalmente no compartilhamento de informações que teriam sido úteis na prevenção em escala mundial. Estimular o debate é função do parlamentar brasileiro, tendo por isso a prerrogativa da imunidade parlamentar (art. 53, CF) como garantia constitucional, para que deputados possam exercer tal direito. Assim, mesmo vivendo numa democracia com ampla liberdade de imprensa e expressão, não identifiquei qualquer desconstrução dos meus argumentos por parte do embaixador chinês no Brasil. Este apenas demonstrou irritação com meu post e direcionou erroneamente suas energias no compartilhamento de posts ofensivos à honra de minha família – este sim um fato grave e desproporcional. Porém, enxergo como positivo que tais fatos tenham trazido à tona o debate de como governos podem (e devem) tentar evitar pandemias. Esclareço ainda que meu comportamento não tem o mínimo traço de xenofobia ou algo similar. Na comunidade médica, é bem comum que doenças sejam batizadas em referência à localidade de origem da mazela. Por exemplo, a gripe espanhola traz em seu nome o país na qual foi originada; o vírus Ebola faz referência ao rio do Congo de mesmo nome. A comparação entre o coronavírus e a tragédia da usina nuclear de Chernobyl também não é novidade. Matérias de veículos como BBC, Financial Times, Foreign Policy, Newsweek e até mesmo das brasileiras Folha de São Paulo e Globo fazem comparação entre o ocorrido em Chernobyl e o alastramento do coronavírus, pois ambos os casos ocorreram em países cuja a liberdade de expressão e imprensa eram/são limitados pelo governo.

Para citar apenas um exemplo, o governo atual da China bane plataformas como Twitter, Facebook e Whatsapp, que tem sido fundamentais no esclarecimento de dúvidas da população mundial quanto à atual pandemia.

A mutação genética de um vírus pode nascer em qualquer país, mas é obrigação das autoridades deste informar à sociedade e tomar as melhores medidas para conter seu avanço (e não agir mantendo sigilo da real condição).

As vidas das pessoas devem vir em primeiro lugar, não os interesses do Estado. Não desejamos problemas com a China e certamente, o país asiático também não busca conflitos com o Brasil.

Não creio que um tweet isolado de um parlamentar levantando questionamentos sobre a conduta de um governo estrangeiro tenha condão para tanto, visto que a discussão de pautas globais é prática normal na comunidade internacional, servindo para aperfeiçoamento de políticas de governo ao redor de todo o mundo. Não permitir que esse debate ocorra seria deliberada censura, contrariando todos os ideias de democracia do povo brasileiro. E vale lembrar que países com posições políticas distintas mantém relações de comércio. Basta lembrar que o maior parceiro comercial da China é os EUA e o país norte-americano tem como seu 3º maior parceiro comercial o país asiático. Jamais tive a pretensão de falar pelo governo brasileiro, mas devido a toda essa repercussão, despido de qualquer vaidade ou ego, deixo aqui cristalina que minha intenção, mais uma vez, nunca foi a de ofender o povo chinês ou de ferir o bom relacionamento existente entre os nossos países.

Manifesto ainda no sentido de lhes dar boas vindas ao nosso país e explicitar minha estima pela contribuição da comunidade chinesa no desenvolvimento do Brasil, terra famosa pelo seu povo acolhedor”, escreveu Eduardo.

Repercussão 


A repercussão da publicação feita ontem pelo deputado foi negativa. No mesmo dia Wamming respondeu por meio do Twitter. "A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e à Câmara dos Deputados".

Em seguida, o embaixador questionou o conhecimento sobre política internacional de Eduardo, que chegou a ser apontado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, como possível embaixador do Brasil em Washington. "Lamentavelmente, você é uma pessoa sem visão internacional nem senso comum, sem conhecer a China nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio." 

Em outro post, o embaixador afirmou que o ato de Eduardo pode ferir a relação amistosa entre China e Brasil: "As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto  como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial. Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil. Precisa assumir todas as suas consequências".

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