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Embaixador chinês rebate a teoria da conspiração de que seu país usa a pandemia para %u201Cdominar%u201D o mundo, critica duramente Eduardo Bolsonaro e diz esperar desculpas

Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:03
Embaixador chinês rebate a teoria da conspiração de que seu país usa a pandemia para %u201Cdominar%u201D o mundo, critica duramente Eduardo Bolsonaro e diz esperar desculpas
“Será inútil a tentativa de difamar a China”

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, não esconde o incômodo com a teoria que está se disseminando no governo Bolsonaro de que a pandemia do novo coronavírus foi a forma que o país asiático encontrou para “dominar” o mundo. Esse pensamento, por sinal, foi expressado pelo filho 03 do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em uma rede social. Imediatamente, Wanming respondeu. Disse que as declarações do parlamentar são “um insulto” e “vão ferir a relação amistosa entre o Brasil e a China”. E exigiu um pedido formal de desculpas de Eduardo, solicitação que ele reforçou em entrevista por e-mail ao Correio. Veja os principais trechos.

Segundo uma reportagem, o presidente Jair Bolsonaro está convencido de que coronavírus é um plano do governo chinês para recuperar a economia do país. Como o senhor vê essa teoria?
Fiquei chocado com o conteúdo dessa reportagem, e meus colegas, de imediato, foram verificar isso com o Itamaraty. A resposta veio rápida e clara: trata-se de pura e absurda fofoca, que nem merece ser refutada. A parte chinesa também jamais acreditaria que o presidente Bolsonaro teria uma ideia dessa. O fato é que, logo no início do surto epidêmico na China, o presidente Bolsonaro encontrou-se comigo para transmitir a sua solidariedade ao presidente Xi Jinping e ao povo chinês. Ministros, líderes de partidos e outros amigos brasileiros manifestaram seu apoio ao povo chinês no combate à epidemia. São esses os testemunhos do alto nível das relações sino-brasileiras e dos preciosos laços de amizade entre os dois povos. O vírus é inimigo comum da humanidade e o mundo inteiro está se unindo para combatê-lo. É lamentável ver que certos países ocidentais não só não deram apoio substancial à China no início do surto como também atacaram, sem fundamentos, as medidas de prevenção e controle que a China adotou. E, quando essas medidas surtiram efeitos, fabricaram teorias irresponsáveis de que “a China manipulou a situação e se aproveitou dela para alavancar sua economia”. É uma lógica ridícula, que exubera preconceitos contra a China e passou o limite ético do bom senso humano. Seu único propósito é desacreditar o país e arruinar o seu relacionamento com a comunidade internacional. Tenho certeza de que a sociedade brasileira está bem ciente disso.

Quais as consequências de declarações como a de Eduardo Bolsonaro nas relações entre China e Brasil? 
As palavras dele ferem não só a nação chinesa como o sentimento do povo chinês e não condizem com o bom ambiente vivido pelo nosso relacionamento. Por isso, cabe a ele pedir desculpa. Estou convicto de que tal narrativa não represente a posição do governo brasileiro. 

Existe cooperação contra epidemias entre Brasil e China? 
A China tem mantido estreita comunicação e coordenação sobre o assunto com o Brasil e outros países. Em apoio aos trabalhos mundiais de prevenção e controle, doou US$ 20 milhões à OMS (Organização Mundial da Saúde), enviou especialistas médicos e ofereceu materiais a países que os necessitam, como a Itália, além de dividir com todos o protocolo de diagnóstico e tratamento e o programa de contenção da Covid-19. Estamos dispostos a prestar todo o apoio, conforme as demandas da parte brasileira, e queremos intensificar a nossa cooperação em matéria de resposta a epidemias e de desenvolvimento de vacinas.

Como está sendo o plano de recuperação econômica da China após a epidemia?
A China está adotando uma série de políticas macroeconômicas para recuperar o crescimento socioeconômico. A produção já foi retomada em mais de 91% das empresas estatais, e essa taxa aumenta para 95% em setores como petróleo e petroquímica, telecomunicações, energia elétrica e transportes. A economia chinesa está intimamente relacionada ao crescimento global. Com grande senso de responsabilidade para com a comunidade internacional, vamos nos valer de todas as políticas fiscais e monetárias necessárias para colocar a economia de volta nos trilhos do crescimento sustentável.

Como a China conseguiu domar o novo coronavírus? 
A epidemia na China está sendo contida de forma efetiva e tende a melhorar daqui para a frente. Mas ainda não é hora de relaxar. Quanto às experiências, a primeira é a grande importância atribuída pelo governo central. Sob o comando e a coordenação do próprio presidente Xi Jinping, foram adotadas, de forma resoluta, as medidas de contenção mais abrangentes, rigorosas e minuciosas. A segunda é a seriedade das providências de prevenção e contenção. Todos os casos confirmados no país inteiro foram hospitalizados e tratados, e os casos suspeitos foram colocados em isolamento rigoroso. E a terceira é rastrear todas as pessoas que tiveram contato com o infectado e fazer todo o possível para romper a cadeia de contágio e reduzir a transmissão comunitária. 

Qual é a opinião do governo chinês diante das ações tomadas por Bolsonaro e de sua equipe frente à pandemia?
A parte chinesa acompanha de perto a evolução epidemiológica no Brasil e tem confiança de que as medidas proativas e responsáveis do governo brasileiro favorecerão a contenção da doença.

A epidemia afetará as relações sino-brasileiras? 
Estou convencido de que a relação amistosa sino-brasileira vencerá qualquer turbulência. A China tem uma parceria estratégica global com o Brasil e é seu maior parceiro comercial deste país. As relações bilaterais têm uma base social sólida (...). Há, de fato, retóricas esporádicas fabricadas para atrapalhar o bom andamento das relações sino-brasileiras (...), todavia, gostaria de salientar que será inútil qualquer tentativa de difamar ou desprestigiar a China por parte de qualquer indivíduo ou grupo. Isso jamais será aceito pelo governo ou pelo povo chinês. Tenho certeza de que entre China e Brasil a confiança política mútua é bem arraigada e nossos diálogos são frutíferos. 



"As palavras dele (Eduardo Bolsonaro) ferem não só a nação chinesa como o sentimento do povo chinês e não condizem com o bom ambiente vivido pelo nosso relacionamento” 

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