Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:03
O Congresso reprovou a atitude do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de culpar a China pela pandemia mundial do novo coronavírus. Inconformados com o posicionamento do parlamentar, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se desculparam com autoridades chinesas, especialmente com o embaixador do país no Brasil, Yang Wanming, que não poupou críticas ao filho do presidente Jair Bolsonaro.
Ontem, Eduardo, numa aparente tentativa de retratação, acabou atacando novamente o governo chinês. Disse que “a mutação genética de um vírus pode nascer em qualquer país, mas é obrigação das autoridades deste informar à sociedade e tomar as melhores medidas para conter seu avanço (e não agir mantendo sigilo da real condição)”.
Alcolumbre afirmou que “o Congresso Nacional repudia qualquer acusação irresponsável ao povo chinês”. O primeiro vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), também se manifestou e escreveu uma mensagem tanto para Wanming quanto para o presidente da China, Xi Jinping. Além de desculpas, ele manifestou respeito e solidariedade ao povo chinês.
Na quarta-feira, Maia já tinha se posicionado, classificando como “irrefletidas” as palavras de Eduardo. Ele ressaltou que a atitude do filho do presidente “não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia”.
A Embaixada do Brasil na China classificou como “irresponsáveis, absurdas e preconceituosas” as palavras de Eduardo e acusou o parlamentar de “ter contraído vírus mental” após a viagem presidencial à Florida, nos Estados Unidos, e de ser “uma pessoa sem visão internacional nem senso comum”. A representação diplomática lembrou que, enquanto o Brasil está combatendo a epidemia do coronavírus, sob a liderança do presidente Bolsonaro, o parlamentar “em vez de contribuir devidamente para esse combate, tem gastado tempo e energia para atacar deliberadamente a China e espalhar boatos”.
Outro lado
A afirmação que deu início à polêmica foi feita pelo youtuber Rodrigo da Silva, que responsabilizou o “Partido Chinês Comunista” pela pandemia do novo coronavírus. Eduardo retuitou o post e fez uma analogia com o vazamento da usina nuclear soviética de Chernobyl, na década de 1980. “Quem assistiu à Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez, uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu o deputado.
Ontem, ele disse que “jamais” ofendeu o povo chinês e que “tal interpretação é totalmente descabida”. “Esclareço, ainda, que meu comportamento não tem o mínimo traço de xenofobia ou algo similar. Na comunidade médica, é bem comum que doenças sejam batizadas em referência à localidade de origem da mazela.”
Apesar de responder que “as críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China não refletem a posição do governo brasileiro”, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, saiu em defesa do filho do presidente e cobrou desculpas por parte de Wanming, principalmente por ele ter compartilhado a mensagem de um internauta que dizia que “a família Bolsonaro é o grande veneno deste país” — a publicação acabou sendo apagada posteriormente.
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