Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:12
O cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Geraldo Tadeu Monteiro avalia que Jair Bolsonaro já trabalhava com bases estreitas mesmo entre os eleitores, já que muitos de seus apoiadores eram, na verdade, contrários ao então candidato do PT na eleição de 2018, Fernando Haddad. Lembra ainda que o presidente escolheu não se relacionar com o Congresso.
“Ele tinha uma base frágil, um partido com 52 deputados e dois senadores em um universo de 513. Deliberadamente, sob pretexto de fazer política diferente, Bolsonaro não fez política nenhuma. Não articulou base, não chamou partidos para conversar, não estabeleceu diretrizes, não exerceu liderança. E a base foi se fraturando”, enumera.
O passo seguinte do presidente foi prejudicar o PSL, legenda pela qual se elegeu, e tentar criar o próprio partido, o Aliança pelo Brasil. “Ele próprio foi sabotando o pouco de base que tinha. Criou atritos com Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, o Supremo Tribunal Federal. Tivemos falas contundentes do ministro Celso de Mello quando o Bolsonaro fez as convocações para as manifestações”, salienta. “O presidente não consegue entregar o que prometeu. O PIB de 2019 foi decepcionante. Ele demonstra má vontade e incapacidade de perceber, de reagir ao que está acontecendo, e quem governa são os ministros Paulo Guedes, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro”, critica.
Sobre as pautas, Geraldo Tadeu avalia que só caminhará o que os líderes do Congresso assumirem como deles. “Não serão necessariamente propostas do governo. Será o que o Congresso decidir. Porque o presidente não tem articulação política, não tem projeto, rompe acordo e não é capaz de dar diretriz. Não dá para colocar um general de pijama para lidar com os parlamentares. Tem que ser alguém do ramo. Se a coisa só complicar, vai chegar um momento em que as pessoas vão querer se livrar de Bolsonaro”, alerta.
Última chance
Mestre em Relações Internacionais e professor da faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), Aninho Mucundramo Irachande destaca que Bolsonaro chegou ao poder ao lado de parlamentares dispostos a fazer reformas antigas e necessárias. Uma predisposição que, segundo ele, não se via desde o governo Lula. Apesar disso, com a falta de articulação e os últimos ataques ao Congresso, considera que o presidente pode ter perdido a última oportunidade de trabalhar ao lado dos parlamentares. “O pouco diálogo que poderia existir, o próprio governo se encarrega de destruir, a partir de declarações do presidente, ausência de ação e trapalhadas”, lamenta.
E completa: “Todo dia, o presidente mostra uma fragilidade e uma postura antidemocrática, anti-poderes constituídos. E o coronavírus foi um dos momentos mais indignantes. Principalmente porque, na semana anterior, já havia desgaste por apoiar a manifestação. Fez três declarações contraditórias, o que tem um peso muito grande na política. Mandou mensagens convocando, recomendou as pessoas a não irem, e foi. Ou enganou todo mundo com discurso vazio, ou é bipolar. As manifestações nem foram tão acintosas assim, e ele ainda apareceu, mesmo em isolamento. Foi a gota d’água”, sentencia.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.