postado em 25/03/2020 10:58
A reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores do Sudeste foi marcada por um bate-boca entre o chefe do Executivo nacional e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Dentre outros pontos, Doria criticou o pronunciamento do presidente feito na última terça-feira (24/3), no qual ele defendeu o fim do confinamento, que as escolas voltem a abrir as portas e ainda culpou a mídia de ‘histeria’.
“Inicio lamentando os termos do seu pronunciamento à nação. Nós estamos aqui, os quatro governadores do Sudeste em respeito ao Brasil e aos brasileiros e em respeito ao diálogo e ao entendimento. O senhor, como presidente da República tem que dar o exemplo. Tem que ser mandatário para comandar, para dirigir, liderar o país e não para dividir”, disse o governador.
Doria ameaçou ir à Justiça contra o governo federal caso haja o confisco de qualquer equipamento ou insumo que seja necessário para o combate ao novo coronavírus. “Se essa decisão for mantida, informo que tomaremos as medidas necessárias no plano judicial para que isso não ocorra. Com todo respeito, não aceitaremos o confisco de nenhum equipamento ou de qualquer insumo que seja necessário em São Paulo, epicentro dessa crise no país”, disse.
Bolsonaro, por sua vez, relembrou as eleições de 2018, dizendo que Doria possui hoje um discurso completamente diferente do que foi visto na época, e voltou a dizer que o governador se elegeu amparado no nome do presidente.
“Vossa excelência apoderou-se do meu nome para se eleger governador. Acabou as eleições, como fizestes com outro no passado que te elegeu para a prefeitura, vira as costas e começa a atacar covardemente aquele que emprestou o seu nome para a tua campanha, não de forma voluntária”, afirmou.
Eleições de 2022
Bolsonaro disse, ainda, que em 2022, quando haverá eleições para governo e presidência, Doria poderá “destilar todo o ódio e demagogia”. O presidente não parou por aí, afirmando que o governador de São Paulo “não tem altura para criticar o governo federal”.
“Vossa excelência não é exemplo para ninguém; não aceito, em hipótese alguma, essas palavras levianas como se vossa excelência fosse responsável por tudo de bom que acontece no Brasil e acusa levianamente esse presidente que trabalha 24 horas por dia para o bem de seu povo”, disse.
Para reforçar pedido de que não sejam confirmados equipamentos e insumos, Doria expôs ao presidente Bolsonaro e ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que das 46 mortes em decorrência da Covid-19 já reconhecidas pela pasta, 40 ocorreram no estado paulista ao qual chamou de epicentro da crise de saúde no país. “Ministro Mandetta, não faz nenhum sentido confiscar equipamentos e insumos”, pontuou.
Doria também pediu o adiamento da dívida dos estados com à União pelo período de um ano.
"No espaço fiscal, estamos propondo o pagamento da dívida não por seis meses, mas por um ano. Temos que recuperar a economia depois dessa crise e os estados tem que ter a liderança e capilaridade junto a prefeitos e prefeitas para conduzir este processo, destacou.
Momentos antes da reunião com governadores do Sudeste, o presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta quarta-feira (25) na saída do Palácio da Alvorada que os líderes estaduais, incluindo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel e de São Paulo, João Doria, estão fazendo ‘demagogia barata’ em cima da crise do coronavírus. Bolsonaro disse ainda que os mesmos ‘fazem política o tempo todo’ e caracterizou como ‘crime’ as medidas de restrição tomadas por alguns líderes estaduais no combate ao coronavírus
“Alguns pouco governadores, não são todos, em especial Rio e São Paulo, estão fazendo uma demagogia barata em cima disso. Para esconder outros problemas se colocam junto a mídia como os salvadores da pátria, como o Messias que vai salvar os seus estados e o Brasil do caos. Fazem política o tempo todo. Não é esse o caminho que o Brasil deve seguir. Povo brasileiro, esqueça se você não gosta de mim, olha a realidade”.
O presidente também falou do desemprego que a crise do coronavírus pode provocar no país. “O que estão fazendo no Brasil, alguns poucos governadores e alguns poucos prefeitos é um crime. Eles estão arrebentando com o Brasil, estão destruindo empregos e aqueles caras que falam: ‘Ai, a economia é menos importante do que a vida’. Cara pálida, não desassocia uma coisa da outra. Sem dinheiro, sem produção, o povo do campo também vai deixar de produzir. Nós vamos viver do que?”.
Bolsonaro disse ainda que caso o Brasil siga com o confinamento, faltará dinheiro para pagar servidores públicos.
Discurso
Ontem (24), durante discurso em cadeia nacional de televisão, Bolsonaro criticou governadores por medidas restritivas e pelo fechamento das escolas. Ele defendeu a volta da ‘normalidade’ no país.
“O vírus chegou. Está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. empregos devem ser mantidos, o sustento da família deve ser preservado. Devemos sim voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa. O que se passa no mundo têm mostrado que um grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, questionou.
A fala de Bolsonaro repercutiu negativamente e chefes de outros Poderes divulgaram nota criticando seu posicionamento.
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