Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 04:03
Aos poucos, Jair Bolsonaro vai se isolando politicamente. O confronto com governadores por discordâncias sobre as medidas relacionadas à pandemia surge como a maior crise do seu mandato, marcado por ataques aos políticos e às instituições. Políticos de diferentes espectros avaliam que a condição de afastamento do presidente é péssima e pode comprometer a governabilidade do país em um momento de crise.
Na Câmara, o líder do Novo, Paulo Ganime (RJ), destaca que, apesar de o partido manter uma postura de independência em relação ao governo, avalia como “complicada” a situação de Bolsonaro com o Congresso, principalmente depois do pronunciamento de terça-feira.
“Nós, do partido Novo, não corroboramos com esse tipo de postura. Em momento algum, isso significa uma ruptura, pois não somos base e nem oposição. Mas houve um erro grave no pronunciamento, e que esperamos que não se repita daqui pra frente. Tenho visto cada vez mais uma união dos parlamentares em detrimento da relação com o presidente da República”, avaliou.
Pelo Twitter, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixou uma espécie de alerta para Bolsonaro. “Eu não ia voltar ao tema, mas o PR (presidente da República) repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia. O momento é grave, não cabe politizar, mas opor-se aos infectologistas passa dos limites. Se não calar, estará preparando o fim. E é melhor o dele que de todo o povo”, observou.
Por sua vez, o senador Paulo Paim (PT-RS) destaca que não é momento de brigas ideológicas e que “em um momento de guerra não há oposição e situação”. O parlamentar sugere que Bolsonaro volte atrás em seus argumentos e admita que errou, para “assumir o timão do navio”. Do contrário, conforme alerta, o Brasil viverá um parlamentarismo branco durante o enfrentamento ao coronavírus, com o Executivo esvaziado politicamente.
“A situação dele está muito ruim. Se continuar assim, daqui a pouco o Congresso vai chamar as centrais, empresários, líderes do país, para que contribuam com ideias. Se ele não se mexer, teremos um parlamentarismo branco”, indicou Paim, acrescentando que o presidente demonstra que lhe falta “grandeza política e visão humanitária”.
Para o cientista político Paulo Calmon, professor da Universidade de Brasília (UnB), a crise atual pode comprometer profundamente a carreira política de Bolsonaro. “A história demonstra que líderes que ignoram os fatos, desprezam o conhecimento científico e se isolam dos aliados comprometem definitivamente suas carreiras políticas e seu legado para a história. Temo que o presidente Bolsonaro esteja caminhando nessa direção”, lamentou.
Dinheiro da merenda direto aos estudantes
A Câmara aprovou, na noite de ontem, o Projeto de Lei 786/20, que prevê a entrega de verba equivalente ao custo individual da merenda para as famílias dos alunos, caso as escolas estejam fechadas devido a uma calamidade pública, como é o caso da pandemia de coronavírus. Os deputados votaram o texto na primeira sessão remota da Casa. Para entrar em vigor, o PL ainda precisa ser avaliado pelo Senado. De autoria dos deputados Hildo Rocha (MDB-BA) e Dorinha Seabra (DEM-TO), a versão aprovada pelos deputados vale para todas as situações de suspensão de aulas por motivos semelhantes ao atual ou em estado de emergência. O dinheiro será repassado aos pais ou responsáveis dos alunos. A distribuição será acompanhada pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE), e as regras serão definidas pelas secretarias de Educação.
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