Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 14:55
Após videoconferência entre governadores, na última quarta-feira (25), foi redigida uma carta direcionada ao presidente Jair Bolsonaro na qual o grupo pede uma série de medidas voltadas às áreas da saúde e economia, como a ampliação dos prazos das operações de crédito para micro e pequenas empresas. No documento, os gestores afirmam ainda que irão “continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência, seguindo orientação de profissionais de saúde e, sobretudo, os protocolos orientados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”. Não assinaram a carta os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Rondônia, o coronel Marcos Rocha (PSL), que já falou publicamente apoiar o posicionamento de Jair Bolsonaro. Na última quarta-feira (25), a reunião entre o presidente e os governadores do Sudeste foi marcada por um bate-boca entre Bolsonaro e o chefe do Executivo de São Paulo, João Doria (PSDB). O tucano lamentou o pronunciamento do presidente em cadeia nacional, na última terça-feira (24), no qual Bolsonaro voltou a chamar o novo coronavírus de “gripezinha” e “resfriadinho”.
O presidente, por sua vez, disse que em 2022, ano de eleições para a Presidência, Doria poderá “destilar todo o ódio e demagogia”. “Vossa excelência não é exemplo para ninguém. Não aceito, em hipótese alguma, essas palavras levianas”, afirmou. Mais tarde, então, governadores se reuniram para discutir a crise nacional em decorrência da epidemia do coronavírus.
No documento, os 25 governadores pedem que Bolsonaro "some forças" com os gestores estaduais "na luta contra a crise do coronavírus e seus impactos humanitários e econômicos".
Confira a carta na íntegra:
CARTA DOS GOVERNADORES DO BRASIL NESTE MOMENTO DE GRAVE CRISE
25 de março de 2020
O Brasil atravessa um momento de gravidade, em que os governadores foram convocados por suas populações a agir para conter o ritmo da expansão da Covid-19 em seus territórios. O novo coronavírus é um adversário a ser vencido com bom senso, empatia, equilíbrio e união. Neste processo, consideramos essencial a liderança do presidente da República e a sua parceria com governadores, prefeitos e chefes dos demais poderes.
Reunidos, queremos dizer ao Brasil que travamos uma guerra contra uma doença altamente contagiosa e que deixará milhares de vítimas fatais. A nossa decisão prioritária é a de cuidar da vida das pessoas, não esquecendo a responsabilidade de administrar a economia. Os dois compromissos não são excludentes. Para cumpri-los precisamos de solidariedade do governo federal e de apoio urgente com as seguintes medidas (muitas já presentes na Carta dos Governadores assinada em 19 de março de 2020):
1. Suspensão, pelo período de 12 meses, do pagamento da dívida dos Estados com a União, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, e também das contraídas junto a organismos internacionais como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), bem como abertura da possibilidade de quitação de prestações apenas no final do contrato; permissão de utilização do FPE e do ICMS como garantia a operações de crédito nacionais e internacionais dos Estados; além da disponibilização de linhas de crédito do BNDES para aplicação em serviços de saúde e investimentos em obras;
2. Ampliação da disponibilidade e alongamento, pelo BNDES, dos prazos e carências das operações de crédito diretas e indiretas para médias, pequenas e microempresas. Demanda-se viabilizar o mesmo em relação a empréstimos junto a organismos internacionais;
3. Viabilização emergencial e substancial de recursos livres às Unidades Federadas, visando a reforçar a nossa capacidade financeira, assim como a liberação de limites e condições para contratação de novas operações de crédito (incluindo extralimite aos Estados com nota A e B), estabelecendo ainda o dimensionamento de 2019 pelo Conselho Monetário Nacional e permitindo a securitização das operações de crédito; bem como a suspensão dos pagamentos de PASEP para conferir liquidez imediata aos estados;
4. Imediata aprovação do Projeto de Lei Complementar 149/2019 (“Plano Mansueto”) e mudança no Regime de Recuperação Fiscal, de modo a promover o efetivo equilíbrio fiscal dos Entes Federados;
5. Redução da meta de superávit primário do Governo Federal, para evitar ameaça de contingenciamento no momento em que o Sistema Único de Saúde mais necessita de recursos que impactam diretamente as prestações estaduais de saúde;
6. Adoção de outras políticas emergenciais capazes de mitigar os efeitos da crise sobre as parcelas mais pobres das nossas populações, principalmente no tocante aos impactos sobre o emprego e a informalidade, avaliando a aplicação da Lei nº 10.835, de 8 de janeiro de 2004, que institui a renda básica de cidadania, a fim de propiciar recursos destinados a amparar a população economicamente vulnerável;
7. Apoio do governo federal no tocante à aquisição de equipamentos e insumos necessários à preparação de leitos, assistência da população e proteção dos profissionais de saúde;
8. Resolução imediata de impasses políticos e jurídicos que travam a liberação de recursos decorrentes das compensações pelas perdas com a Lei Kandir, além do pagamento de valores em atraso por parte da União.
Informamos que os governadores seguirão reunindo-se à distância, no modelo de videoconferências – como preconizam as orientações médicas internacionais –, com o objetivo de uniformizar métodos e procedimentos na crise e com vistas a alcançar, em um futuro breve, ações consorciadas, que nos permitam agir no tema de coronavírus e em outras matérias.
No que diz respeito ao enfrentamento da pandemia global, vamos continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência, seguindo orientação de profissionais de saúde e, sobretudo, os protocolos orientados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Consideramos que o Congresso Nacional deverá assumir o protagonismo em defesa do pacto federativo, conciliando os interesses dos entes da federação, compatibilizando ações e canalizando demandas de Estados e municípios.
Por fim, rogamos uma vez mais ao Presidente Jair Bolsonaro que some forças com os Governadores na luta contra a crise do coronavírus e seus impactos humanitários e econômicos. Entendemos que este momento exige a participação de todos os poderes, de todas as instâncias federativas e de toda a sociedade. Juntos teremos mais força para superar esta grave crise.
Saiba Mais
Gladson Cameli
Governador do Acre
Renan Filho
Governador de Alagoas
Waldez Góes
Governador do Amapá
Wilson Lima
Governador do Amazonas
Rui Costa
Governador da Bahia
Camilo Santana
Governador do Ceará
Ibaneis Rocha
Governador do Distrito Federal
Renato Casagrande
Governador do Espírito Santo
Ronaldo Caiado
Governador de Goiás
Flávio Dino
Governador do Maranhão
Mauro Mendes
Governador do Mato Grosso
Reinaldo Azambuja
Governador do Mato Grosso do Sul
Helder Barbalho
Governador do Pará
João Azevêdo
Governador da Paraíba
Ratinho Júnior
Governador do Paraná
Paulo Câmara
Governador do Pernambuco
Wellington Dias
Governador do Piauí
Wilson Witzel
Governador do Rio de Janeiro
Fátima Bezerra
Governadora do Rio Grande do Norte
Eduardo Leite
Governador do Rio Grande do Sul
Antônio Denarium
Governador de Roraima
Carlos Moises
Governador de Santa Catarina
João Doria
Governador de São Paulo
Belivaldo Chagas
Governador de Sergipe
Mauro Carlesse
Governador do Tocantins
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