Politica

"Minha palavra vale mais do que um pedaço de papel", diz Bolsonaro

Presidente deu a declaração ao se referir sobre a transparência em divulgar o resultado do exame de testagem do coronavírus

Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 23:49
Presidente deu a declaração ao se referir  sobre a transparência em divulgar o resultado do exame de testagem do coronavírusO presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi questionado na entrada do Palácio do Planalto no final da tarde desta quinta-feira (26) sobre a transparência em divulgar o resultado do exame de testagem do coronavírus. Ele próprio afirmou por meio das redes sociais ter dado negativo, mas se negou a divulgar o documento à imprensa.

"Para que você quer saber? Você dorme comigo? Pelo amor de Deus... Eu estou bem. Tranquilo. Já pensou que prato cheio para a imprensa se eu estivesse infectado? Não estou. É minha palavra. Minha palavra vale mais do que um pedaço de papel". Depois, Bolsonaro emendou dizendo: “É brincadeira. Desculpa aí, tá ok?”.

Sobre a renda emergencial a vulneráveis durante a crise do coronavírus, o chefe do Executivo disse que o pagamento mensal poderá chegar a R$ 600 reais, durante três meses. 

“Talvez passe para R$ 600. Conversei com o Paulo Guedes ontem [25/03] e estamos vendo. Não tomo decisão nenhuma sem falar com ele”.

Bolsonaro disse ainda que o pânico é uma doença mais grave que a própria causa do vírus e destacou o desemprego em massa que pode resultar da crise do novo  Covid-19.

“O pânico é uma doença. Isso foi massificado quase que no mundo todo. No Brasil, não é diferente, conversei com vários empresários. O setor hoteleiro e empresário que emprega, se não me engano, 23 mil pessoas. Segunda-feira vai ter mais uma nova onda de demissões. Esse é que o problema. O que que vem atrás disso? É  a fome. Vem o desespero. O cara está em casa, casado, dois, três, quatro filhos e não tem o que botar na mesa. Vi uma cena agora no Rio de Janeiro lamentável, a guarda municipal cumprindo ordem, obviamente, desfazendo uma tábua de frutas que o cara estava vendendo na rua. Está errado? Sim está errado. Fere a lei. Mas o cara está ali para sobreviver. O momento é de excepcionalidade. O desemprego está aí, batendo na porta de todo mundo. Esse é o grande problema no momento”, apontou.

Bolsonaro voltou a culpar a mídia por ‘histeria’ e criticou novamente as medidas restritivas adotadas por alguns governadores, dizendo que “exageraram na dose”.

“A onda foi a demais, foi demais, chegaram a catástrofe prevendo milhares e milhares de mortos, coisa que não aconteceu em lugar nenhum do mundo. Isso daí trouxe pânico para o Brasil. Alguns, não estou falando todos, alguns governadores, alguns prefeitos exageraram na dose fechando tudo. O decreto que assinei ontem e publiquei hoje. Tem 3.000 casas lotéricas fechadas por decretos de governadores ou prefeitos. É um absurdo. É a minha opinião de presidente da República, a maneira como fecharam o comércio, o negócio no Brasil, está sendo uma catástrofe. Está aí”.

O presidente disse ainda que as principais vítimas do coronavírus são os autônomos: “O desemprego está aí. Anteontem, uma desgraça segundo a mídia o meu pronunciamento. Apanhei, estava 70% contra a minha pessoa nas redes sociais. Já mudou. O povo foi enganado esse tempo todo sobre o vírus, o que tinham que falar? O que eu falei. O vírus virá. Ninguém discute isso e infelizmente, vai ter que enfrentar. É igual a chuva. Tem que enfrentar. Vamos procurar salvar a vida? Sim. Vamos procurar salvar o máximo de vidas. Como? Preparando os hospitais, respiradores e máscaras, etc. Isso está sendo feito. Agora, o pânico. O pessoal não sai na rua. Nós temos 38 milhões de autônomos, essas foram as primeiras vítimas e o cara não tem reserva, não tem poupança e está com a geladeira sempre com meio porcento de carga, já está passando fome dado exatamente o pânico e a histeria que foi levado para eles por parte de alguns órgãos, de informações, políticos, senadores, deputados, isso que foi levado”, afirmou.

Bolsonaro declarou que o turismo passou para zero. “Ninguém mais faz turismo, a rede hoteleira ou o hotel está fechado ou está com 10% da capacidade ocupada, olha a desgraça que está aí. Não existe mais diarista, manicure, barbeiro não atende mais ninguém. Uber não funciona. Nada está funcionando. Dá para entender que esta onda é muito pior do que o vírus”.

Ele reforçou ainda que aposta no “isolamento vertical” (de idosos e pessoas com doenças) como estratégia para combater a pandemia.

“O próprio Mandetta, já conversei com ele. Está convencido. O confinamento vertical tem que começar com a família. Como meus irmãos. Eu não posso né, meus irmãos estão tratando minha mãe com 92 anos de idade. Tá lá no cantinho dela. Depois de amanhã ela faz 93 anos de idade. Começa por aí. O brasileiro tem que entender que quem vai salvar a vida dele é ele. Não tem que ficar esperando o vereador, o senador, o deputado, o presidente da República cuidar da vida dele. Em primeiro lugar é ele. Se ele não tem capacidade ou não tem amor pela mãe, pelo pai, pelo avô, pelo bisavô, paciência”.

Frente à informação de que a maioria dos lares é formada por idosos e pessoas mais jovens e questionado sobre como evitar a contaminação por parte destes, Bolsonaro respondeu que “já está em estudo, bastante avançado os hotéis ociosos para gente botar o idoso lá dentro…” 

Reabertura de comércios 

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Bolsonaro disse que a campanha contra o coronavírus deve focar na permanência do idoso em casa, em um “cantinho”.  Ele defendeu novamente a reabertura dos comércios. “A gente consegue aguentar dois, três meses, com o plano que está aí?Não. Não sei quanto vai chegar a nossa despesa, centenas de bilhões de reais. Tem que voltar quase tudo (setores da economia). E fazer uma campanha fique em casa. Não deixe o vovô sair de casa, deixa em um cantinho. Quando voltar, toma banho, lava as mãos, passa álcool na orelha. De preferência não fique perto do seu idoso. É isso daí", mencionou.

G20 

Durante a reunião hoje (26) por videoconferência com o G20, Bolsonaro deixou uma caixa de Reuquinol (hidroxicloroquina) sob sua mesa e defendeu o avanço das pesquisas sobre a medicação, ainda inconclusivas. “Dei meu recado, mostrei a caixa do Reuquinol. Falei que temos que atacar nessa questão de manutenção da vida e atacar também na questão da manutenção dos empregos”, destacou.
 
Mourão 

Bolsonaro rebateu a declaração do vice-presidente, Hamilton Mourão. Um dia após o presidente discursar em rede nacional contra medidas de quarentena, Mourão afirmou que a posição do governo para combater a pandemia da covid-19 "é uma só" e continua sendo o isolamento entre as pessoas.

"O presidente sou eu, pô. Os ministros seguem as minhas determinações. E o Mourão tem ajudado bastante, colaborado, dado opiniões, é uma pessoa que está do meu lado ali. É o reserva de vocês se eu empacotar aí, vocês vão ter que engolir o Mourão. É uma boa pessoa, podem ter certeza". 

MP 

Após repercussão negativa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recuou e revogou no último dia 23 um trecho da MP que permitia a suspensão de contrato de trabalho por até quatro meses. A informação foi divulgada por ele nas redes sociais. Ele retirou o artigo 18 que previa a medida.

Agora, segundo ele, uma nova versão da MP que altera contratos de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus foi confeccionada. 

Bolsonaro admitiu que foi um "erro" e que houve uma "falha". "Como estava ali, pelo amor de Deus, sem salário, sem comentário", disse. "Aquilo não existia", concluiu, atribuindo o erro a um "digitador". 

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