Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 04:03
Enquanto Jair Bolsonaro recebe uma torrente de críticas devido às ideias de como o Brasil deveria enfrentar o novo coronavírus, no Congresso ele ainda tem certo respaldo. Pelo menos é o que dizem deputados e senadores da base governista, que não medirão esforços para apoiar o Palácio do Planalto durante a pandemia. Para eles, por mais que o presidente crie polêmicas desnecessárias, isso não deve afetar a formação de maioria para aprovação das matérias do governo que entrarem em pauta no parlamento.
Desde terça-feira, quando Bolsonaro falou ao país que era contra as medidas de isolamento social, atacou os governadores e a imprensa, e reduziu a Covid-19 a um “resfriadinho”, as lideranças do governo na Câmara e no Senado têm pedido a compreensão da população. Eles não veem “muita consequência” nas falas do presidente, visto que o Congresso já “precificou o estilo pessoal conflituoso” de Bolsonaro. “Isso não afeta a pauta do próprio Congresso, que é a de votação das reformas e das matérias que apóiam a crise do coronavírus”, garantiu um dos vice-líderes do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Ele frisou que Bolsonaro “sempre falou coisas que não agradam ao Congresso e, nem por isso, as matérias deixaram de ser votadas”. E acrescentou: “Nós nunca vamos tirar do presidente o discurso que o elegeu. Ele estará sempre empenhado em falar dos temas que foram motivos de adesão na sua campanha eleitoral. Isso não impede que ele caminhe tecnicamente na direção das soluções que ele pretenda implementar”.
O deputado entende o momento delicado causado pela pandemia, o que gera diversas reações entre os congressistas. “Temos que tomar cuidado e o presidente está alertando para o que vem depois da crise: que vai ter recessão e consequências muito piores do que a própria Covid-19. Está ponderando a decisão a ser tomada”, destacou Barros.
“Papel importante”
Os defensores do governo acreditam que o Congresso desempenhará um papel único para que possa ser estabelecido um meio-termo entre o que quer o presidente e o que recomendam as autoridades sanitárias, especialmente quanto à necessidade de isolamento social. Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) frisou: “acho que a fala do presidente vai numa direção sobre a qual todos nós temos que refletir: qual é o período de isolamento social que a gente pode suportar do ponto de vista das repercussões econômicas?”
E destacou: “Os desdobramentos de uma recessão aguda, de uma depressão econômica são muito graves do ponto de vista das atividades produtivas, da geração de emprego. Acho que nós não estamos diante de uma matéria simples, de uma escolha simples. Acho que as duas alternativas vão ter que ser postas”, analisou.
Líder governista no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO) garantiu que “qualquer medida que venha a ser tomada com relação à rotina das pessoas, do comércio, vai levar em conta também a segurança na área da saúde”.
“O governo tem uma hierarquia, o presidente se abre às novas possibilidades, mas é ele também quem determina questões técnicas e pontuais. Não é de se espantar que o presidente vá tratando do assunto questão a médio prazo e que o ministro da Saúde vá cuidando da questão de minuto a minuto com muita competência”, enfatizou.
Para Gomes, o Congresso não vai virar as costas para Bolsonaro, apesar das diferenças políticas. “Como líder, posso dizer que as matérias que o governo enviou, em especial as últimas duas, foram aprovadas com unanimidade.”
“Nós nunca vamos tirar do presidente o discurso que o elegeu. Ele estará sempre empenhado em falar dos temas que foram motivos de adesão na sua campanha eleitoral”
Deputado Ricardo Barros (PP-PR), um dos vice-líderes do governo no Congresso
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