Politica

Carreatas no país contra quarentena

Correio Braziliense
postado em 28/03/2020 04:02
Manifestação em Curitiba pelo fim do isolamento: alguns mandatários no país começam a relaxar medidas


Com a chancela do presidente Jair Bolsonaro, que, em pronunciamento em rede nacional, defendeu isolamento apenas do grupo de risco — com temor de impacto da pandemia de coronavírus na economia —, defensores do governo fizeram manifestações ontem por todo o país. Em carreata com buzinaços, protestaram contra o distanciamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo próprio Ministério da Saúde e por autoridades sanitárias do mundo inteiro. Eles argumentam que o Brasil não pode parar.

Nem o exemplo da Itália — que menosprezou a letalidade da Covid-19, demorou para tomar as medidas de contenção e hoje contabiliza perto de mil mortes por dia — arrefeceu os ânimos daqueles que priorizam o lucro à vida. Em Milão, houve o movimento #MilãoNãoPara, e a cidade soma mais de quatro mil mortes. Nas redes sociais, multiplicam-se chamados para intensificar as manifestações neste fim de semana. Em Brasília, veículos com bandeiras verde e amarela, em carreata, fizeram buzinaço contra a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB), que tinha voltado atrás sobre manter abertas lotéricas e lojas de conveniências. Horas depois, porém, o chefe do Buriti decidiu pela abertura (veja reportagem na página 15).

Outros chefes de Executivos estaduais e prefeitos endossaram a proposta de Bolsonaro e já editaram decretos para retomada das atividades econômicas. Em Santa Catarina, motoristas foram às ruas para comemorar o anúncio feito pelo governador Carlos Moisés (PSL) de reativar toda a economia. No entanto, ontem mesmo o grupo que atende as recomendações da OMS lançou a hashtag #SCnãoquermorrer.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), editou um decreto que determina retomada do transporte coletivo e do comércio, inclusive restaurantes, em rodovias, bancos, lotéricas e igrejas. Na capital, no entanto, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) decidiu que os cuiabanos serão mantidos em isolamento social. Em Rondônia, o governador Marcos Rocha (PSL) liberou o funcionamento parcial do comércio. Em Roraima, o comércio foi aberto ainda ontem.

Várias cidades registraram carreatas pela reabertura do comércio, como Curitiba, Maringá (PR), Ipatinga (MG), Capão da Canoa (RS), Balneário Camboriú (SC), Cachoeiro de Itapemirim (ES).

Para o infectologista José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, as medidas de distanciamento social são fundamentais. “Vai ser um desastre se a curva de contaminação aumentar. Essas pressões não são condizentes com o conhecimento epidemiológico da pandemia”, disse. Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jamal Suleiman afirmou que pregar o fim do isolamento no momento é “suicídio coletivo”. Ele destacou que economia e saúde não são contrastantes. “A recomendação no mundo inteiro é para que as pessoas não saiam de casa. A gente precisa alcançar o objetivo, que é reduzir o impacto na saúde, proteger as pessoas.”

Milão arrepende-se
A propaganda foi feita em fevereiro pela prefeitura de Milão, na Itália. O prefeito da cidade, Giuseppe Sala, reconheceu que errou ao ter divulgado o slogan “Milão não para”. A cidade é uma das mais afetadas pela pandemia no país europeu, que ontem ultrapassou a marca dos cinco mil mortos pela doença.


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