Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 04:33
O agravamento da crise gerada pelo novo coronavírus tem coincidido com um crescente desgaste político do presidente Jair Bolsonaro, que já não lidera a resposta do país à pandemia e ainda provocou um racha dentro do governo. A posição dele, contrária ao isolamento social, em nome da preservação da economia, não encontra respaldo entre ministros importantes, favoráveis às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que as pessoas fiquem em casa, como forma de prevenção da Covid-19.
Os principais defensores do distanciamento social são justamente os titulares das pastas que estão no centro da tomada de decisões nesta crise. Da mesma forma que Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, cujo prestígio junto à sociedade e a outros Poderes tem incomodado Bolsonaro, discordam da posição do presidente os titulares da Justiça, Sérgio Moro, e da Economia, Paulo Guedes, além do vice Hamilton Mourão.
Esses ministros, além de se manifestarem publicamente a favor das normas sanitárias, têm atuado em sintonia em meio à crise, mas a pressão de Bolsonaro no sentido contrário impede que o governo transmita um discurso unificado para a população de se proteger adequadamente contra a doença.
Cada vez mais isolado politicamente, Bolsonaro tem manifestado a interlocutores o desconforto em manter no governo ministros que não compactuam com suas ideias. O incômodo é ainda maior porque eles têm apoiado o trabalho dos governadores, com os quais o presidente tem travado uma queda de braço pelo fim do isolamento social, em especial os do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e de São Paulo, João Doria (PSDB), seus principais desafetos.
“Mais um grande sinal de crise de governabilidade: o governante já não consegue demitir seus próprios ministros. Não os coordena, não os suporta, mas não tem força para fazer substituições. Passada a crise sanitária, o Brasil vai ter de encontrar saída para a crise institucional”, tuitou, ontem, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
Como em outros momentos difíceis, Bolsonaro voltou a procurar seu habitat, o militar. Na segunda-feira, o chefe do governo fez uma visita ao general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, em Brasília. O militar ocupa um cargo de assessoramento especial no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas há tempos não despacha no Planalto, em razão de uma doença degenerativa. Após o encontro, na tentativa de apaziguar os ânimos, o general alertou, pelo Twitter, para a “situação muito grave” e condenou “ações extremadas” que podem “acarretar consequências imprevisíveis”.
Ferrenho defensor de Bolsonaro, o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) disse ao Correio que “a prioridade é sempre a saúde, mas devemos viabilizar acesso ao emprego, com segurança”. Segundo ele, o Brasil “tem a vantagem do calor, que afasta o vírus, e as pessoas protegidas devem trabalhar, quando possível”.
Sobre a divisão no governo, o deputado acredita que já esteja havendo um entendimento. “Creio que o presidente e os citados (ministros) chegaram a um denominador comum. Hoje (ontem) pela manhã, o presidente se manteve distante das pessoas, com todo o cuidado”, ressaltou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.