Correio Braziliense
postado em 03/04/2020 04:31
“Esqueçam o que ele diz”
Essa tem sido a frase mais repetida por ministros do presidente Jair Bolsonaro, quando perguntados por governadores e parlamentares sobre as declarações presidenciais mais polêmicas a respeito da Covid-19, e críticas aos estados, em entrevistas e lives à porta do Alvorada. A recomendação da equipe tem sido prestar atenção naquilo que o presidente escreve. Por exemplo: embora tenha defendido a volta ao trabalho, dispensou por decreto a liberação do número de dias letivos das escolas. Apesar de ter dito que não iria socorrer os governadores, liberou R$ 16 bilhões aos estados por medida provisória e outros recursos virão.
O distanciamento entre o discurso do presidente e a prática do governo prosseguirá, enquanto durar a pandemia. Assim, se a realidade chegar ao ponto previsto pelos mais pessimistas, Bolsonaro colará o seu discurso nos atos do governo. Se ocorrer o cenário mais otimista lá na frente, reforçará o que tem dito. Como muitos nesta pandemia, ele também está de olho na política.
Cálculos políticos
Entre os parlamentares, muita gente não tem mais dúvida: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está de aviso prévio. Bolsonaro só não o substitui agora porque tem medo que o cenário da pandemia se agrave ainda mais e, lá na frente, seja acusado de ter subestimado a “gripezinha”.
Todo cuidado é pouco
Os serviços de defesa ao consumidor avisaram ao governo que têm recebido inúmeras denúncias a respeito de quadrilhas que captam informações de pessoas de baixa renda, por mensagens de celular e e-mails, a fim de pegar os R$ 600. O receio, agora, é que o dinheiro acabe nas mãos dos bandidos. Por isso, é preciso organizar muito bem os cadastros e a distribuição do dinheiro.
Deu água
A ida do deputado Osmar Terra (MDB-RS) ao Planalto esta semana e a reunião com os médicos deixaram a certeza de que o presidente tenta se cercar de visões técnicas parecidas com a sua, tanto em relação ao isolamento social apenas dos idosos, quanto ao uso de cloroquina. O deputado, que é médico, repetiu ao presidente o que já havia dito no CB.Poder que enfrentou a H1N1 sem precisar de distanciamento social geral. Dos médicos intensivistas, Bolsonaro ouviu que a recomendação, por enquanto, é de isolamento social.
"O presidente pode ser criticado, mas faz acenos à população. Tem gente fazendo aceno para composição política”
Do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), referindo-se aos gestos do governador de São Paulo, João Doria, em direção ao ex-presidente Lula
CURTIDAS
À beira de um ataque de nervos/ Silas Malafaia (foto) e outros pastores evangélicos estão ensandecidos por causa da escassez de recolhimento do dízimo. Chegou ao ponto de um pastor de Minas Gerais pedir a Bolsonaro, na porta do Alvorada, a abertura de uma linha de crédito para as igrejas.
À beira de um ataque de nervos II/ Malafaia tem colocado seus fiéis para filmar comunidades no Rio de Janeiro, a fim de mostrar que o considera “quarentena de araque”.
Jogos eleitorais/ A filiação de Marta Suplicy ao Solidariedade indica que o PT pode ter ainda mais problemas para a eleição de prefeito de São Paulo. É que Marta, se concorrer, ainda é considerada boa de voto na capital paulista.
Enquanto isso, na economia/ As promessas feitas pelo governo, de recuperação econômica no ano que vem, não são compartilhadas pelos economistas. O cenário, diante de um endividamento necessário agora por causa da pandemia, ainda é para lá de incerto. Quem em juízo não arrisca previsões para o amanhã. Diante do vírus, a ordem é viver a cada dia a sua aflição.
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