Politica

Em meio à pandemia, apoiadores de Bolsonaro se aglomeram diariamente

Geralmente, Bolsonaro os cumprimenta em duas ocasiões no dia: pela manhã e no final da tarde.

Correio Braziliense
postado em 03/04/2020 14:47
Geralmente, Bolsonaro os cumprimenta em duas ocasiões no dia: pela manhã e no final da tarde.Desde que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito, apoiadores do chefe do Executivo se reúnem diariamente na saída do Palácio da Alvorada na tentativa de conhecê-lo de perto. Geralmente, Bolsonaro os cumprimenta em duas ocasiões no dia: pela manhã e no final da tarde.

Com a crise do novo coronavírus, Bolsonaro passou a não mais apertar mãos ou tirar selfies e a resguardar um distanciamento da claque. No entanto, nenhuma medida foi tomada para evitar a aglomeração dos simpatizantes que se apertam na grade, uns colados aos outros.

Nesta sexta-feira (03), por exemplo, cerca de 40 apoiadores se amontoaram à espera do presidente. A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, ao contrário, é seguir em confinamento. 

A pedido da reportagem, a infectologista Eliana Bicudo da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) analisou o vídeo (veja o vídeo) postado por Bolsonaro nas redes sociais e falou sobre os riscos de contaminação por coronavírus no local. 

“O que está acontecendo ali é totalmente incorreto, fora do que o Ministério da Saúde e sociedades médicas estão preconizando. Não pode ter contato físico, muito menos aglomeração”, ressaltou.

Bicudo diz que medidas de distanciamento precisam ser tomadas por meio de ação policial presidencial ou do Distrito Federal. 

“É necessário que se crie um distanciamento. Para o presidente, percebe-se que não há nenhuma proximidade. Parece que a distância que ele guarda é de um metro ou um pouco mais e, realmente não teria risco para ele, ao menos nesse vídeo. Mas quanto aos apoiadores, está completamente incorreto. Espero que, com essa informação, alguma medida seja tomada, que a segurança presidencial ou do DF que se tome uma atitude para que as pessoas continuem indo lá falar com ele, mas se guardando um distanciamento. Que se faça um desenho no chão para que as pessoas possam ficar bem distantes dele. Isso realmente não é o que as entidades médicas e o Ministério da Saúde preconiza. Está errado”, reforçou.

A especialista apela ainda para a conscientização da população: “Se a gente não mudar esse pensamento, os números do DF vão continuar subindo. Todos tem que entender que é um problema coletivo e não individual. O fato de eu adquirir e não adoecer, não significa que eu não passei para alguém que possa adoecer. A gente tem que pensar no outro, essa é uma doença coletiva, muito mais coletiva do que individual”, conclui.

A dificuldade, no entanto, também está no posicionamento do próprio chefe do Executivo, que defende o fim do isolamento horizontal, a reabertura de comércios e a volta à normalidade. Ontem (2/4), Bolsonaro afirmou que será forçado a "tomar alguma decisão" se "até semana que vem não voltar o trabalho, pelo menos gradativo" e poderá assinar um decreto dando fim ao isolamento.

Crítico do isolamento de toda a população, Bolsonaro criticou a imprensa que trabalha no local. “Eles estão amontoados lá e vão falar de amontoação aqui”, disse junto à claque. No último dia 26, ele também questionou o que a imprensa estava fazendo ali, presencialmente. "Mostra ali. Atenção povo do Brasil. Esse pessoal diz que eu estou errado e tem que ficar em casa. Aí eu pergunto, o que vocês estão fazendo aqui? Imprensa brasileira o que vocês estão fazendo aqui. Estão com medo do Coronavírus não? Vão pra casa. Todo mundo sem máscara", falou ele. 

Saiba Mais

No entanto, o próprio Bolsonaro publicou um decreto que inclui a imprensa na lista de serviços essenciais e vedou que trabalhadores desta área sejam proibidos de circular.

O Correio entrou em contato com a assessoria de comunicação do Palácio do Planalto para questionar o posicionamento do governo sobre o assunto e se serão tomadas medidas como o distanciamento entre os populares, ou mesmo a suspensão das visitas por um período, durante a crise do coronavírus. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal também foram questionados sobre o assunto. Até o fechamento desta edição, ainda não houve retorno das pastas.

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