Politica

Presidente prevê caos: "Vai quebrar tudo"

Bolsonaro critica governadores e diz que fechamento de comércios provocará desemprego em massa, miséria e violência. Ele volta a ameaçar com decreto para reduzir isolamento

Correio Braziliense
postado em 04/04/2020 04:03
O chefe do Executivo disse que o decreto sobre redução do isolamento social chegará %u201Cna hora certa%u201D
 
O presidente Jair Bolsonaro voltou ao ataque contra os governadores que adotaram medidas restritivas de combate ao coronavírus e insistiu que, se o Brasil continuar seguindo as determinações deles, com comércios fechados, “vai quebrar tudo” no país. Ele acusou parte dos chefes de Executivos estaduais de fazerem demagogia com a crise e disse que há uma “disputa entre as autoridades de quem está mais preocupado com a vida de vocês (população)”. “Vocês sabem o meu posicionamento. Não pode fechar dessa maneira, que atrás disso vem desemprego em massa, vem miséria, vem violência”, ressaltou.

O presidente, mais uma vez, minimizou a doença. “Esse vírus é igual a uma chuva, vai molhar 70% de vocês. Isso ninguém contesta, que toda nação vai ficar livre de pandemia depois que 70% (da população) for infectada e conseguir os anticorpos. Ponto final”,frisou. “Agora, desses 70%, uma pequena parte, que são os idosos e os que têm problema de saúde, vai ter problema sério, vai passar por isso também. O que estão fazendo é adiar para ter espaço nos hospitais. Mas tem um detalhe: a sociedade não aguenta ficar dois, três meses parada, vai quebrar tudo.”

Ao ouvir o apelo de apoiadores na porta do Alvorada para a reabertura de comércios, Bolsonaro disse: “A opinião pública, aos poucos, está vindo para o nosso lado. O político tem de ouvir o povo. Sabemos que vai ter mortes, ninguém nega isso, mas morrem de gripe comum, morrem de H1N1”.

Em meio a uma oração pelo presidente, uma das simpatizantes afirmou que a “história dele não acabou” e que o “melhor da sua vida está por vir”. Bolsonaro respondeu com um ataque aos jornalistas que trabalham no local. “Eu não cheguei aqui pelo milagre da facada e a eleição também para perder para esses urubus aí”, declarou. “Eles estão amontoados lá e vão falar de amontoação aqui.” Ontem, uma claque de cerca de 40 pessoas se apertava nas grades da residência oficial para ter a chance de ver o chefe do Executivo (leia reportagem abaixo). A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde é de evitar aglomerações.

Um outro apoiador disse a Bolsonaro: “Estamos esperando a sua voz, presidente”. E o chefe do Executivo respondeu: “Vai chegar a hora certa”. Ele se referiu a um decreto, que está sob sua mesa, para reduzir o isolamento social. Na quinta-feira, em entrevista à Rádio Jovem Pan, o comandante do Planalto reconheceu que ainda não tem o apoio social que gostaria para assinar a medida. Ele destacou, ainda, que será forçado a tomar alguma decisão se “até semana que vem não voltar o trabalho, pelo menos gradativo”.

“A opinião pública, aos poucos, está vindo para o nosso lado. O político tem de ouvir o povo. Sabemos que vai ter mortes, ninguém nega isso, mas morrem de gripe comum, morrem de H1N1”
Jair Bolsonaro, presidente da República

Denúncia em tribunal penal
Representantes da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia  (ABJD) protocolaram uma denúncia contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda. Eles acusam o chefe de Estado de cometer crimes contra a humanidade em razão de suas posições sobre a pandemia de coronavírus. Na peça, os juristas dizem que Bolsonaro expõe a “vida de cidadãos brasileiros, com ações concretas que estimulam o contágio e a proliferação do vírus”. Citam o fato de o presidente ter saído às ruas para cumprimentar apoiadores e ter assinado decreto incluindo igrejas e casas lotéricas entre os serviços essenciais. Pedem que a Corte o condene por crime contra a humanidade.


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