Politica

Estrelas na mira de Bolsonaro

Presidente diz não ter %u201Cmedo de usar a caneta e que vai chegar a hora dos integrantes de seu governo que estão se achando%u201D. Alega provocações e, embora não cite nomes, sugere que poderá demitir aqueles que %u201Cfalam pelos cotovelos%u201D

Correio Braziliense
postado em 06/04/2020 04:33
O protagonismo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nas ações de combate à pandemia de coronavírus incomoda o chefe do Executivo


O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que não tem “medo de usar a caneta” e garantiu que, por isso, “vai chegar a hora” dos integrantes do seu governo que estão se achando estrelas. Ele não citou nomes, mas já deixou claro o incômodo com o protagonismo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ganhou durante o processo de combate ao novo coronavírus.

“Algumas pessoas no meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas. Falam pelos cotovelos”, disse Bolsonaro, ao conversar com um grupo de religiosos que, incentivados pelo próprio presidente, fizeram um dia de jejum e oração contra o novo coronavírus na frente do Palácio do Alvorada ontem.
Na conversa, Bolsonaro ainda afirmou que “tem provocações” e que, por isso, “vai chegar a hora dele”. “A hora dele não chegou ainda não. Vai chegar a hora dele, porque minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu”, afirmou.

Apesar de não citar nomes, a declaração de Bolsonaro foi entendida como um novo recado para o ministro Mandetta. Afinal, o atrito entre os dois é claro, sobretudo no que diz respeito à necessidade do isolamento social no Brasil. Crítico dessa medida, que é recomendada por todo o mundo como uma forma de conter a disseminação da Covid-19, Bolsonaro já chegou a dizer que falta humildade a Mandetta e que o ministro devia ouvir mais o presidente. Por isso, muitos chegaram a cogitar a demissão do ministro da Saúde. Pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha mostrou que 76% da população brasileira aprova o posicionamento adotado pelo ministério durante a pandemia da Covid-19.

Ontem, por sinal, Bolsonaro voltou a criticar essas medidas. Ele disse aos religiosos “que a gente tem que pregar uma mensagem de paz e não de terrorismo, histeria, como foi pregado ao povo brasileiro”, em relação ao novo coronavírus. E insinuou que as preocupações dos governadores quanto ao avanço da doença não passam de uma “jogada política”. “Cada chefe de executivo querendo dizer que determinou mais medida restritiva que o outro. Como se estivessem preocupados com a vida de alguém. A gente sabe que a preocupação não é com vida. É jogada política na maioria das vezes”, afirmou Bolsonaro.

Weintraub x China
Enquanto o presidente criticava os governadores e ameaçava Mandetta, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, implicava com a China. Disse, em live realizada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Instagram, ontem, que é alta a probabilidade de outra pandemia como a da Covid-19 surgir na China nos próximos 10 anos. É que, para Weintraub, os hábitos dos chineses não são saudáveis e colocam a população em risco.

“Comem tudo que o sol ilumina e algumas coisas que o sol não ilumina comem também. Eles têm contato com um monte de bicho que não é para comer, além de comer porco e frango. “Eles não vão mudar os hábitos dos últimos milhares de anos em 10 anos.” O ministro explicou que estudou um período do seu MBA em Hong Kong e, por isso, constatou os hábitos dos chineses. “Quando você entra nos mercados, mesmo em Hong Kong, que é uma área quase toda ocidentalizada, é tudo bicho vivo. Eles acham que têm que matar na hora de comer. Tem sapo, enguia”, relatou. “Na China, as pessoas têm um contato muito direto com os bichos. Aqui, a gente cria frango na granja e porco, no chiqueiro. A população é urbanizada”, comparou.

“Nos últimos 20 anos, teve quatro epidemias que vieram da China. Esta é a quarta. E por quê? Geralmente, um parasita não quer matar o hospedeiro. Mas quando chega uma espécie nova, às vezes, não está calibrado, aí vem mais forte e mata o hospedeiro. Vem descalibrado de outra espécie animal, de outro bicho. E, na China, as pessoas têm contato muito direto com os bichos. O ser humano pega a doença de uma mutação que passa para outro ser humano e fica mais agressiva, como no caso do coronavírus”, argumentou.


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