Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 04:33
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, negou que tenha cometido xenofobia contra o povo chinês após a embaixada do país asiático repudiar declarações dele por uma postagem nas redes sociais. Ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, ele também aproveitou para atacar o governo chinês, afirmando que o país teria retido informações sobre a pandemia do novo coronavírus para, agora, vender respiradores e equipamentos de proteção individual, como máscaras, a preço de leilão. Weintraub condicionou um pedido de desculpas à venda de mil respiradores da China para o Brasil.
“O governo da república chinesa, onde começou o coronavírus, poderia ter alertado o mundo inteiro que ia faltar respirador, que nós teríamos três meses para fazer respirador. Isso não foi feito. Agora, que estamos desesperados correndo atrás de respirador, o que é que acontece? Aparecem 60 mil respiradores na China, e eles estão leiloando”, criticou. ‘Aparece um monte de equipamento de proteção, de máscara, e eles estão leiloando. Então, assim, teve tempo de eles se prepararem para vender para o mundo, pelo preço mais alto, respirador e máscara.”
Weintraub também justificou o seu envolvimento em uma questão sobre equipamentos hospitalares. Ele lembrou que o MEC é responsável por todos os hospitais universitários do Brasil e disse precisar de mil respiradores que estão em falta. “Dado que a embaixada chinesa ficou tão ofendida, e eu sei como é a negociação dos chineses, esse processo cultural: ‘Estou extremamente ofendido, venha pedir desculpas de joelhos aqui’. (...) Eu vou fazer o seguinte, meu acordo: eu vou lá, eu peço desculpas, peço ‘por favor, me perdoem pela minha imbecilidade’. A única coisa que eu peço é que, dos 60 mil respiradores que estão disponíveis, eles vendam mil para o MEC, para salvar vida de brasileiros, pelo preço de custo. Manda a embaixada colocar aqui nos meus hospitais, e eu vou lá à embaixada e falo: ‘Eu sou um idiota, me desculpem’”, declarou.
Quanto à postagem, especificamente, Weintraub negou que tenha cunho preconceituoso e disse não ser racista. O ministro pontuou que, academicamente e durante sua vida profissional, esteve na China várias vezes, mantendo sempre uma boa relação. “Não acho que foi um post tão pesado. Não xinguei nenhum chinês. Tenho um monte de amigos chineses e conheço a cultura chinesa”, afirmou. “Falar que eu sou racista é uma acusação que, se fosse um brasileiro, ia ter de provar na Justiça, exatamente como alguns chamaram e vão ter de provar, porque é uma acusação grave.”
Desprezíveis
No sábado, Weintraub usou uma imagem de Cebolinha, da Turma da Mônica, criada por Maurício de Sousa, na Muralha da China. Substituindo o “r” pelo “l”, ele fez referência ao modo de falar do personagem, para insinuar que se tratava dos chineses. “Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o ministro.
A Embaixada da China no Brasil se manifestou, na madrugada de ontem, contra a publicação. “Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, diz a nota divulgada no Twitter da embaixada. O comunicado afirma, ainda, que “o lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude”.
Crise diplomática
Há duas semanas, o governo entrou em crise diplomática com a China, depois de o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicar um tuíte em que acusou os chineses de terem escondido informações sobre o início da pandemia. “A culpa é da China, e liberdade seria a solução”, escreveu o deputado. Dias depois, por causa da crise, o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da China, Xi Jinping, conversaram por telefone. O brasileiro disse que o contato reafirmou os “laços de amizade” entre os países e tratou de ações sobre o coronavírus e ampliação do comércio.
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